O que falta às PME para deixarem de ser heróis anónimos?

. No contexto atual de mudanças aceleradas e exigências globais, Portugal não pode desperdiçar o seu maior ativo: o seu tecido empresarial.

Ao longo da minha carreira, tenho tido o privilégio de conhecer centenas de pequenas e médias empresas. Ouvi muitas histórias de resiliência, engenho e coragem. Histórias que, muitas vezes, ficam por contar. As PME são o pilar invisível da economia portuguesa. Estão em todo o território, sustentam milhões de famílias e reinventam-se todos os dias. E, no entanto, continuam, demasiadas vezes, sem o reconhecimento que merecem.

Portugal tem mais de um milhão de PME. Representam dois terços do emprego nacional e mais de metade do valor acrescentado bruto. Este é um dado que aparece frequentemente nos relatórios e discursos. Mas quem conhece de perto este universo, sabe que ele é bem mais complexo e, acima de tudo, mais humano.

As PME não são apenas estatísticas. São comunidades de trabalho. São empresas familiares, startups de alto crescimento, oficinas que se tornaram fábricas, ideias que se tornaram exportações. São o espelho das nossas virtudes, mas também das nossas fragilidades. Quando uma PME cresce, um território ganha ânimo. Quando uma PME fecha, uma rede local enfraquece.

Nos últimos anos, as exigências dispararam. A digitalização deixou de ser opcional. A sustentabilidade passou de tendência a critério de decisão. Os mercados tornaram-se mais voláteis e a escassez de talento é uma realidade transversal. Mas as PME sentem tudo isto com mais intensidade. Não têm departamentos especializados, nem folga financeira para errar. Ainda assim, surpreendem. Muitas reinventaram-se, formaram equipas novas, lançaram produtos, entraram noutros mercados.

Ainda assim, o caminho é duro. Continuamos a limitar o esforço com burocracia, custos de contexto e um sistema fiscal que não favorece quem quer crescer. Falta financiamento em momentos chave – para escalar, para inovar, para internacionalizar. E falta, acima de tudo, uma mudança de mentalidade.

É tempo de olharmos para as PME como aquilo que verdadeiramente são: motores do futuro. Precisamos de políticas públicas que criem impacto, e não dependência. Precisamos de redes de inovação locais, de sistemas de apoio que funcionem, de instrumentos de financiamento que reconheçam o valor do risco. E precisamos de uma cultura que celebre o mérito, o esforço e a capacidade de criar valor em contextos adversos.

Não escrevo esta reflexão como mero observador, mas como alguém que todos os dias fala com empresários que fazem muito com pouco. Empresários que inovam, mesmo quando o ambiente é hostil. Que apostam nas suas equipas. Que não desistem do país, mesmo quando sentem que o país já desistiu deles.

Portugal não pode desperdiçar o seu maior ativo: o seu tecido empresarial. As PME são o coração e o cérebro da nossa economia. Está na hora de lhes dar o oxigénio de que precisam. E de lhes reconhecer, finalmente, o protagonismo que sempre mereceram!

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