Opções obrigatórias

Por vezes, a vida confronta-nos com "opções" que são obrigatórias. A mudança recente dos termos e condições do WhatsApp é exemplo disso.

Numa escola que frequentei, dizíamos que certas cadeiras eram “optativas obrigatórias”. Apesar de podermos escolher duas a cada ano, a lista de opções só incluía duas.

A vida confronta-nos com este tipo de “opções” algumas vezes. Temos liberdade para escolher, mas somos amarrados pela total falta de margem dessa mesma escolha.

Voltou a acontecer esta semana. Ao abrir o WhatsApp, fui confrontado com um aviso sobre a mudança dos termos e condições da aplicação.

Em linhas gerais, era-me pedido que desse permissão ao WhatsApp para partilhar os meus dados pessoais com os serviços do Facebook – mesmo que não tivesse conta nessa rede social. Ou aceitava, ou saía.

O caso é paradigmático e digno de estudo. O primeiro ponto é que, na verdade, até tinha a liberdade para não aceitar os novos termos e condições. Mas teria uma consequência óbvia: perderia o acesso aos contactos e às mensagens.

Como nem tudo é preto ou branco, se não aceitasse as novas regras do WhatsApp, perderia também o acesso ao meu trabalho. Afinal, é a ferramenta que usamos para comunicar durante esta pandemia.

Sendo, a meu ver, um conflito de escolha desequilibrado – controlar os meus dados ou perder o meu emprego –, lá aceitei, contrariado, estas novas exigências. Sabendo que, no trabalho ou fora dele, o Facebook pode agora, livremente, continuar a recolha e exploração dos meus dados e comportamento, a troco de intermediar gratuitamente as minhas comunicações.

O segundo ponto desta breve análise é que uma comunicação exige sempre duas pessoas. Mesmo que não aceitasse os novos termos e migrasse para outra aplicação, teria de ser um movimento em escala. Caso contrário, acabaria por dar por mim sozinho, a falar para o vazio, sem ninguém do outro lado para ouvir e responder.

A influência das redes sociais no debate público está no centro da atualidade. Qualquer discussão fica vazia se não entendermos o papel das opções obrigatórias no sucesso destas empresas.

Felizmente, como eu, outros leram os novos termos e condições do WhatsApp. Alguns, mais felizardos, puderam mesmo escolher e desligar o WhatsApp por completo, migrando para alternativas como o Signal e o Telegram.

Não posso exigir a ninguém essa mudança. Duvido até que muitos a façam. Mas posso decidir o seguinte: apesar de estar amarrado à escolha do WhatsApp, também estou disponível nas outras plataformas. Não tenho verdadeira liberdade de escolha, mas dou aos outros a liberdade de escolherem.

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