Previsões sobre Energia para 2021
Para poder alcançar os objetivos de transição energética estabelecidos pela UE, estão previstos grandes investimentos em energias renováveis, bem como na modernização e digitalização das redes.
Se existe um adjetivo que descreve perfeitamente o que foi o ano de 2020, é “agitado” – foi agitado tanto a nível social como económico, e tudo isso não poderia deixar de se refletir no setor elétrico. Vivemos uma queda histórica dos preços do gás que, por sua vez, provocou uma descida sem precedentes dos preços da eletricidade. Por outro lado, os objetivos de sustentabilidade da União Europeia tornaram-se mais exigentes, o que obrigou também ao repensar de diversas leis e regulamentações.
Partindo deste cenário e depois de observarmos como o setor está a evoluir nestes primeiros meses de 2021, nos quais se mantém esta tendência de “agitação”, analisaremos agora o que podemos esperar para os próximos meses.
A instalação de energias renováveis continua a aumentar
Em 2020, Portugal destacou-se na produção de energias renováveis a nível mundial, sendo o quarto país com maior produção de energia solar e eólica. Por outro lado, devido aos apoios proporcionados pelo Fundo Ambiental aos particulares que instalem energias renováveis, prevê-se que a adoção das mesmas possa continuar a aumentar. No entanto, se o país quer alcançar os objetivos estabelecidos pela União Europeia para 2030, esta tendência deverá continuar a acelerar a bom ritmo.
O preço do CO2 manter-se-á elevado
Em dezembro, já tínhamos visto que os preços das emissões de CO2 estavam a subir, uma tendência que se manteve durante o mês de janeiro. O preço do CO2 continuará elevado devido à entrada em vigor da nova fase de comércio de direitos de emissão, cujo objetivo é sobretudo reduzir as emissões deste gás com efeito de estufa. Ao longo deste ano, não se prevê que os preços baixem, antes pelo contrário, uma vez que o objetivo final é mantê-los elevados, para fazer com que as suas emissões diminuam tanto quanto possível.
Um mercado do gás cada vez mais exposto à dinâmica dos preços internacionais
O mercado português do gás não será apenas influenciado pelo próprio ambiente e pela Europa, mas também pelos movimentos de preços na Ásia. Neste sentido, no mês de janeiro já pudemos ver como, devido ao aumento da procura de gás na Ásia, muito gás natural liquefeito foi desviado para estes países, que estão acostumados a pagar um preço mais elevado. Isto não só provocou alterações no fornecimento recebido, mas também um aumento dos preços.
O hidrogénio ganha terreno
Após a aprovação da Estratégia Nacional para o Hidrogénio, no verão passado, e das diretrizes europeias que indicam que ele se tornará um dos novos intervenientes nos mercados energéticos, já se puderam observar movimentos por parte de grandes empresas do setor, como a EDP, a Iberdrola e a Endesa. Estas empresas estão a estudar a criação de consórcios e alianças para procurar projetos de hidrogénio e avançar neste sentido. Muitos destes projetos já estão em marcha e serão concretizados ao longo deste ano.
Maior investimento em energias renováveis, digitalização e modernização das redes de distribuição
Para poder alcançar os objetivos de transição energética estabelecidos pela União Europeia, estão previstos grandes investimentos em energias renováveis, bem como na modernização e digitalização das redes elétricas. O investimento na digitalização é um impulsionador fundamental para a transição energética, visto que permite integrar de forma eficiente de um elevado volume de geração variável de fontes de energia renovável e de recursos de energia distribuída (DER).
O setor receberá a injeção dos fundos de recuperação europeus
Se quisermos atingir os objetivos climáticos, transitar para a mobilidade elétrica não é uma escolha, mas sim uma obrigatoriedade – e este ano teremos de continuar a avançar nesta direção mais solidamente do que nunca. Para tal, o Governo continua comprometido a descarbonizar o transporte de passageiros e a aumentar a penetração dos veículos elétricos, com novas iniciativas e incentivos à sua adoção.
Crescente aposta nas microgrids no setor comercial e industrial
São cada vez mais as empresas que reforçam os seus compromissos de sustentabilidade para atingir os objetivos de descarbonização estabelecidos pelo Acordo de Paris. Para isso, a maioria implementa estratégias para reduzir as emissões das suas operações e cadeias de abastecimento. No entanto, está a crescer o interesse em combinar a geração de energia renovável on-site com o armazenamento. Esta tendência está a ser favorecida pelos preços cada vez mais baixos do armazenamento. Assim, e graças à digitalização e a tecnologias como as microgrids, as empresas estão a tornar-se intervenientes ativos da transição energética – são cada vez “prossumidores”, ou seja, capazes de gerar e armazenar energia e, inclusive, de a colocar na rede e comercializar.
Segundo a European Platform for Corporate Renewable Energy Sourcing, entre 2030 e 2050, a capacidade instalada de energia solar fotovoltaica da Zona Ibérica passará de 22,6 para 30,5 GW no setor comercial, e de 20,1 para 26,6 GW no setor industrial. No que respeita ao armazenamento, este passará de 35,1 para 55,6 GW no setor comercial e de 27,7 para 42,6 GW no setor industrial. No entanto, para alcançar a máxima potencialidade destes novos modelos, é ainda necessário superar algumas barreiras regulatórias, técnicas, políticas e administrativas
Crescente aplicação de gémeos digitais na transmissão e distribuição elétrica
A tecnologia dos gémeos digitais está a demonstrar a sua grande aplicabilidade no setor elétrico, mais concretamente para prever possíveis situações adversas. Trata-se de gerar uma réplica virtual do ativo elétrico físico, modelada a partir de dados reais de funcionamento que simulem o seu comportamento. De acordo com dados do Utility Analytics Institute, esta tecnologia poderá registar um crescimento de 40% até ao ano de 2023, sendo a digitalização das redes a sua grande alavanca.
Aumento da procura de eletricidade e gás devido à normalização da situação
Devido à normalização da situação de COVID-19, prevê-se um crescimento da procura de eletricidade e gás. Tendo em conta a evolução irregular da pandemia, é difícil determiná-lo com certeza, mas é de esperar que, com o avanço da vacinação e o regresso a uma certa normalidade na atividade económica e social, esta procura não só recupere, mas também aumente.
Embora, como disse, não seja fácil fazer prognósticos quando existe volatilidade, pode observar-se já uma série de tendências – aumento da capacidade instalada de energias renováveis, microgrids, hidrogénio, etc. – que apontam para o avanço no caminho para a transição energética. Da mesma maneira, existe também uma aposta firme na digitalização das redes. Não poderia ser de outra forma, uma vez que a transição energética e a transformação digital são duas grandes alavancas da descarbonização.
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