S.W.A.L.K. o melhor deste verão “sealed with a loving kiss”
Como aprendi com o realizador português Diogo Varela e Silva, há documentários em que ”sentimos que a vida passa por ali…” Eu senti, e deixo como sugestão, no meu regresso aos textos de domingo.
Pelo menos do meu verão, é já o melhor. Polémicas à parte, sobre quem copiou quem em termos de inspiração para a coleção, S.W.A.L.K., um acrónimo de “sealed with a loving kiss” – que os soldados usavam durante a Guerra com um sinal de comunicação com os familiares, é o documentário que marca o meu verão. Um verão tão típico como atípico, em que se procura algum estado de euforia criativa limitada pelo medo de um vírus que ainda por aí.
Primeiro. É um documentário e a forma mais criativa, para mim, de storytelling, em tempos que a palavra já me parecia gasta. Prova, que quando é real, criativo, inesperado e, acima de tudo, com um enredo novo, tem tudo para funcionar. E neste caso, até podem ser conversas diárias, de corredor, dúvidas, inspirações e até desinspirações. Que génios como Galliano também têm.
Segundo. Foi realizado por Nick Knight – o nome maior em produções de moda. E não é nada mais do que uma experiência criativa de 50 minutos, filmada com o mundo em lockdown através de imagem de Zoom, GoPro coladas ao corpo da equipa criativa da Maison Margiela, drones e até câmaras de vídeo vigilância. Como já li, tudo junto, e-mails e chats, quase parece um “thriller”. Dando-nos o papel de espetadores voyeuristas. Uma fórmula já gasta, mas que aqui funciona. Até porque surge uma inesperada câmara térmica a transformar toda a linguagem visual.
Terceiro. Vivemos tempos em que os consumidores querem transparência e a possibilidade de entrarem no atelier da Casa de moda e ouvirem o pensamento traduzido em conversas do diretor criativo John Galliano sobre a sua nova coleção, é uma obra quase inédita. Porque se há lugares sagrados neste mercado são os ateliers onde tudo, ou quase tudo, se faz em segredo.
“I think today we want to see real, too. I asked my kids to start filming themselves on iPads at the beginning of the pandemic. They were expressing 3D experiments in cutting on their kitchen tables, on their terraces, in their garages. So really that is how it started. Want it to feel “voyeuristic” reflecting ideals of transparency, connectivity and inclusion key to our collective present experience,” explicou Galliano em entrevista.
Se sou critica de cinema documental? De todo. Mas S.W.A.L.K. é mais do que um documentário. É a resposta de uma marca à ausência das semanas de moda físicas – quando pensávamos que o que iríamos ver era desfiles à porta fechada e transmitidos em streaming; é a criação de uma campanha de comunicação que vende uma coleção, um conceito; e é a prova que o espírito criativo da Maison Margiela não se deixou contaminar pelo vírus.
Como aprendi com o realizador português Diogo Varela e Silva, há documentários em que” sentimos que a vida passa por ali…” Eu senti, e deixo como sugestão, no meu regresso aos textos de domingo.
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