Seguros: proteger a saúde de forma consciente

  • Luís Tavares
  • 19:52

Ainda que reconheça a alta demanda por seguros de saúde, Luís Tavares olha o outro lado da moeda: para os portugueses que ainda não o têm e explica porquê.

Menos tempo de espera, melhores acessos, maior oferta de serviços disponíveis, e até uma perceção menos positiva do setor da saúde, têm contribuído para um aumento significativo da procura por seguros de saúde em Portugal, tanto por parte de indivíduos como de organizações.

A acompanhar esta tendência, nos últimos cinco a sete anos, temos assistido a um aumento na oferta de tipos de seguros, de coberturas disponíveis, e ainda a introdução deste tipo de apólices em praticamente todas as seguradoras.

Curioso é perceber que, apesar de os seguros de saúde estarem a ganhar cada vez mais espaço no mercado e serem um produto cada vez mais procurado, principalmente pelos jovens — o Observatório dos Seguros de Saúde, desenvolvido pela Autoridade de Supervisão de Seguros e Fundos de Pensões (ASF) e a Universidade Nova diz-nos que a maioria são jovens, com níveis de ensino e rendimentos mais elevados –, estima-se que cerca de metade dos portugueses ainda não tenha seguro de saúde – dados de outubro da WTW apontam para pouco mais de 4 milhões de pessoas no país com este tipo de seguro –, e na maioria dos casos por falta de informação.

Uma outra alternativa para os portugueses terem acesso a seguros de saúde, e que tem vindo a ganhar terreno, são os seguros de saúde concedidos pelas entidades empregadoras, através de contratos com as seguradoras. Apesar de este seguro não ser obrigatório para as empresas e os custos associados a seguros de saúde continuarem a aumentar – de acordo com o “2025 Global Medical Trend Rates Report”, da Aon, os gastos das empresas portuguesas com seguros de saúde vão continuar elevados e deverão subir numa taxa média de 10% em 2025 -, são cada vez mais as empresas que incluem esta proteção nos pacotes de benefícios para os seus colaboradores.

É uma forma de obterem benefícios fiscais – a despesa em seguros de saúde é majorada em até 20%, pelo que diminui o IRC em valor superior à despesa efetiva –, de reterem os seus quadros e, em simultâneo, serem um facilitador no acesso a cuidados de saúde para os seus colaboradores, já que o apoio aos cuidados de saúde são uma mais-valia e uma segurança fundamental na vida da população.

Porém, por regra as empresas oferecem o pacote mínimo (ou perto disso) e com capitais baixos, que cobrem apenas os cuidados de saúde essenciais, como hospitalização e ambulatório, pelo que é recomendável aliar um seguro de saúde individual complementar ao oferecido pela empresa. Isto permitirá elevar as coberturas para patamares mínimos desejáveis, e que incluam pacotes com proteções mais abrangentes que incluam por exemplo, medicação, coberturas internacionais e tratamentos ortodônticos ou oftalmológicos, e capitais de hospitalização e ambulatório suficientes para responder a eventuais problemas maiores e imprevisíveis.

Com o aumento do número de portugueses seguros também o valor dos seguros aumenta, seja pela inflação, seja pela maior diversidade de coberturas adaptadas aos novos problemas de saúde e a doenças oncológicas, por exemplo.

E não se prevê que esta tendência tenha retorno. Basta pensarmos que, num futuro não tão longínquo, as alterações climáticas terão impacto direto na saúde, por exemplo, pelas inundações que terão um efeito direto de deterioração da qualidade da água ou pela exposição a fenómenos meteorológicos extremos que terá graves consequências para a saúde da população, e por isso terão de ser criados seguros de saúde com proteções para este tipo de doenças.

Em qualquer dos casos, e se sabemos que os seguros de saúde serão cada vez mais procurados – contribuindo para isso a perceção negativa crescente sobre o Serviço Nacional de Saúde (SNS) – é também urgente estar mais bem informado na hora de escolher o plano de proteção de saúde. Até porque com um maior leque de opções, também estas se tornam mais complexas em termos de condições, preços, coberturas e serviços incluídos, sendo proporcionalmente mais complexo conseguir adequar as condições de cada seguro às necessidades específicas e às reais capacidades financeiras de um indivíduo ou agregado familiar.

Enquanto profissionais da mediação de seguros, é com agrado que vemos o setor a ganhar dimensão, por isso teremos de saber responder às necessidades do cliente. Por outro lado, é importante que o cliente saiba que pode (e deve) contar com um mediador de seguros profissional que conheça em detalhe todas as ofertas que existem no mercado e, claro, cumpra a sua obrigação profissional de mostrar ao cliente todas as opções disponíveis, ajudando-o a encontrar a opção mais ajustada à sua situação financeira.

Se sabemos que com um maior peso vem também mais responsabilidade, devemos continuar a olhar para além do óbvio. Neste setor, urge pensar num modelo sustentável e em estratégias que permitam reduzir as despesas diretas das famílias portuguesas em saúde. Em Portugal, a despesa direta em cuidados de saúde é ainda muito elevada – de acordo com o relatório da OCDE “Health at a Glance 2024”, em 2022, os pagamentos diretos por parte das famílias portuguesas representaram, em média, 30% de todas as despesas com cuidados de saúde em 2022, acima dos 15% de média na UE.

É por isso que vemos com bons olhos que vemos a decisão da Autoridade de Supervisão de Seguros e Fundos de Pensões (ASF) de se criar um “seguro de saúde” padrão, que contenha condições passíveis de serem comparadas com os restantes, facilitando a adaptação das condições do seguro às reais necessidades do tomador do seguro, enquanto promove a transparência do setor. Saudamos, sobretudo, o facto de o regulador colocar o diploma em consulta pública para escutar o setor. Em nosso entender esta medida é positiva e pode aumentar a competitividade entre seguradoras, conduzindo a uma melhoria de preços para o cliente final.

Estar bem informado será a única forma de assegurar que o plano de seguro de saúde cobre todas as necessidades médicas e hospitalares para determinado caso, ao mesmo tempo que proporciona a segurança financeira nos momentos indispensáveis.

  • Luís Tavares
  • Coordenador Nacional da DS Seguros

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