SFDR: Simplificação ou Confusão?

  • Nuno Oliveira Matos
  • 29 Dezembro 2025

Nuno Matos questiona se a revisão do Regulamento Finanças Sustentáveis SFDR será uma ferramenta de transformação real ou apenas mais um conjunto de rótulos confusos, bonito, mas vazio.

A Comissão Europeia apresentou recentemente a proposta de revisão do Regulamento de Divulgação de Finanças Sustentáveis (SFDR). À primeira vista, a intenção de simplificar o regulamento é positiva. Afinal, regras mais claras e menos burocracia são bem-vindas. Mas, é precisamente aqui que reside o perigo. Simplificar não deve significar enfraquecer a transparência nem reduzir a proteção dos investidores, sobretudo daqueles que confiam as suas poupanças a produtos financeiros que se dizem sustentáveis.

Um avanço da proposta é a criação de uma categoria de transição, destinada a canalizar capital para empresas que estão a descarbonizar de forma concreta e mensurável. No entanto, um produto só merece esta classificação se se apoiar em resultados verificáveis. Boas intenções, marketing verde ou ações simbólicas não chegam!

O risco surge com a proliferação de categorias (sustentável, transição e ESG básico), que, sem critérios claros, podem confundir mais do que esclarecer. Um rótulo “ESG básico” demasiado amplo corre o risco de se tornar um guarda-chuva para produtos com mérito ambiental limitado, transformando a classificação em mero marketing, em vez de fornecer informação útil ao investidor.

Outro ponto crítico é a transparência. A proposta sugere eliminar algumas divulgações ao nível da entidade e reduzir requisitos ao nível de produto. Num mercado já vulnerável ao greenwashing, menos informação significa menos confiança. A convergência do SFDR com a Diretiva de Relato de Sustentabilidade Corporativa (CSRD) e a Taxonomia da União Europeia só terá impacto real se resultar em informações mais claras, completas e acessíveis para todos os investidores.

E quem continua a ser esquecido são os investidores individuais. Apenas cerca de 15% das poupanças das famílias europeias estão investidas nos mercados de capitais. Ignorar esta maioria silenciosa é um erro estratégico, pois a confiança dos cidadãos é decisiva para que o investimento sustentável deixe de ser uma promessa e se torne uma prática concreta.

A pergunta é simples: a revisão do SFDR será uma ferramenta de transformação real ou apenas mais um conjunto de rótulos confusos, bonito no papel, mas vazio na prática?

A resposta determinará se o regulamento apoia de facto uma economia europeia mais sustentável ou apenas cria mais ruído no mercado financeiro.

  • Nuno Oliveira Matos
  • Sócio da Carrilho & Associados, SROC

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