“Slasher Generation”. Mais um fenómeno Made in China?
Quando o / é a identidade mais cool. Ou seja, o cool está em ter mais do que uma identidade. Confuso?
Chamam-lhes a “slasher generation – 斜杠青年” e são todos aqueles que gostam de ter várias identidades profissionais e o / surge como o símbolo desta geração e das suas diferentes funções. Do ponto vista cultural, diz-se que a barra revela que os millennials chineses valorizam a individualidade, horas de trabalho flexíveis e o empreendedorismo. Segundo alguns artigos que li sobre o tema, “the coolest identity today is to have more than one”.
Para esta nova geração, o fato de executivo, o escritório bem decorado e subir a pulso numa empresa “sounds so five years ago”, como escreve o Jingdaily. Hoje cada vez mais chineses começaram a adotar um chamado freelance lifestyle que lhes permite assumir mais do que um skill profissional ou, se quisermos, mais do que uma identidade profissional. E os últimos números apontam para mais de 80 milhões de slashers, na grande maioria com estudos avançados e a viverem em grandes cidades chinesas.
O termo não é novo, em 2016 Susan Kuang publicou um livro precisamente com o nome “Slasher Generation,” tendo o termo “slasher,” sido referenciado pela primeira vez em 2007 num artigo no The New York Times. O que descobri é que há livros de autoajuda, livros sobre como explicar às famílias que se é um slasher e que até há marcas a trabalhar com slashers como a Rémy Martin que, no ano passado, fez um vídeo com sete jovens chineses a cantarem sobre as suas self-curated identities. Há até o “Slasher Festival” que celebra esta cultura. E até descobri, que no meio disto tudo também eu sou uma espécie de Slasher portuguesa ocidentalizando no meu instagram o / por |.
O que há de interessante nos artigos que vi esta semana, é a significativa mudança cultural e social, numa sociedade que acima dos 30 procura a estabilidade, a “golden rice bowl”, mas que conhece agora uma nova geração que quer poder de escolha, um caminho profissional que vai sendo costumizado slash by slash. E ao que parece, este fenómeno está a ser amplamente estudado e analisado por mercados como a moda e o luxo, porque traz com ele a entrada numa Era Individualista.
E as mudanças nos comportamentos – a que as marcas estão agora atentas, mostram que são consumidores que preferem boas marcas de nicho em vez de marcas mainstream. “This is not to say that a shiny Rolex watch or a classic Louis Vuitton tote will see their demand shrink. But compared to the once-rigid thinking that equated brand status to personal status, a new form of buy-what-I-like attitude is on the rise” lê-se no Jingdaily. Há ainda a redefinição da noção de valor. O relatório “New-Age Middle-Class Insights,” da TalkingData fala em mudanças da classe media chinesa (já com muitos slashers) que mais do que se interessarem por gastar em grandes símbolos de riqueza como carros ou imobiliário, hoje preferem investir em experiências, no desenvolvimento pessoal e no seu bem-estar. Decididos, intuitivos, aspiracionais, com uma atitude de compra que define como se querem sentir e virados para marcas com um claro point of view. São estes os consumidores que hoje o mercado chinês procura entender.
A verdade é que talvez para nós, não seja assim um fenómeno tão novo. No ocidente estamos mais do que habituados ao mercado freelance e a sermos muita coisa ao mesmo tempo. Talvez tenhamos é de mudar a pergunta cultural ou aceitar novas respostas: “Qual é o teu emprego de sonho?” E responder: “Só posso escolher um?” Eu como slasher, como acabo de descobrir, tenho vários…o atual diz que vou de férias, e que regresso aos textos de domingo em agosto. Até lá #coolhunting #stillcool #stillhunting.
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