Sustentabilidade: de Opcional ao Greenwashing

  • Paula Campos
  • 24 Agosto 2023

A sustentabilidade está a constituir-se cada vez mais como uma estratégia de negócios ponderada e criteriosa e com benefícios claros para as organizações.

A gestão de uma empresa, independentemente de ter ou não fins lucrativos, com base num modelo que incorpore os princípios da sustentabilidade ambiental, social e de governança corporativa (ESG) representa a abordagem mais adequada para os desafios atuais. Efetivamente, é de consenso geral que a integração destas três vertentes é essencial para melhorar o desempenho organizacional, gerando simultaneamente valor nos âmbitos social, económico e ambiental.

Se as questões associadas à sustentabilidade começaram, e ainda teoricamente se mantém, como uma preocupação voluntária para as empresas, a verdade é que atualmente tem vindo a transformar-se numa prática obrigatória para as organizações que querem assegurar sua viabilidade a longo prazo, até porque as exigências sociais, ambientais e regulamentares têm vindo aumentar.

A visão de que uma empresa apenas deverá criar valor a nível económico tem vindo a ser ultrapassada, porque a globalização permitiu um aumento na consciencialização da sociedade sobre os impactos ambientais e sociais das atividades empresariais. Atualmente, é exigido que as empresas monitorizem, meçam e se responsabilizem pela forma como as suas ações impactam os seus ecossistemas mais alargados, e que procedam à sua compensação implementando medidas eco-friendly, reduzindo o consumo de recursos naturais e adotando práticas de responsabilidade social corporativa.

Mas não é só a sociedade em geral que tem vindo a pressionar as empresas para práticas mais sustentáveis, os investidores e acionistas passaram a considerar a sustentabilidade como um fator crítico na avaliação das empresas para investimento. Efetivamente, muito investidores estão cada vez mais interessados nas práticas de ESG das empresas em que investem, o que pressionou também as entidades financeiras a desenvolverem fundos de investimento sustentável e as empresas a integrarem os princípios da sustentabilidade na sua estratégia para atrair e reter investidores

Assim, se algumas empresas adotavam práticas sustentáveis como uma forma de diferenciação no mercado, demonstrando responsabilidade corporativa e conquistando a preferência de consumidores conscientes, atualmente, a questão da sustentabilidade já não é tão restritiva e pode ditar a permanência no mercado, mesmo para grandes empresas, que se deparam com a necessidade de cada vez mais comunicar o seu desempenho e as suas boas práticas ambientais e sociais.

A adoção de uma gestão ESG não se restringe, como é óbvio, à pressão da sociedade e dos investidores, uma vez que as empresas têm também as suas vantagens competitivas em termos de eficiência económica e operacional, da melhoria de gestão de riscos e de reputação, no impulso à inovação e à criação de novas oportunidades, além de desempenhar um papel crucial na atração e retenção de talentos, tão importante nos tempos atuais.

Mas é essencialmente a pressão existente, que leva as empresas a comunicar que são mais sustentáveis do que realmente são, muitas vezes por meio de estratégias de marketing pouco transparentes, o designado greenwashing. Este comportamento enfatiza as ações ou características ambientais positivas da organização, mas não implementa as necessárias mudanças operacionais e/ou não possui evidências concretas das suas afirmações, enganando os consumidores e restantes stakeholders e colocando em causa, igualmente, a credibilidade das empresas que realmente estão comprometidas com a sustentabilidade.

Em resumo, a sustentabilidade está a constituir-se cada vez mais como um percurso para as empresas, não apenas como um mecanismo de cariz voluntário, mas também como uma estratégia e negócios ponderada e criteriosa e com benefícios claros para as organizações. A pressão da opinião pública, a legislação, os investidores e até mesmo os consumidores estão a exigir das empresas práticas cada vez mais sustentáveis. No entanto, o desafio permanece em garantir que esses compromissos sejam genuínos e transparentes e não meras ações superficiais e de marketing para extrair vantagens da consciencialização sobre a sustentabilidade.

(Nota: esta é a coluna da iniciativa cívica Women in ESG Portugal para o ECO, e por meio deste canal pretendemos trazer conteúdos ligados ao ESG de forma descomplicada para a sociedade, na voz de mulheres que detém expertise técnica na área. Para mais informações, aceda ao site: www.winesgpt.com)

  • Paula Campos
  • Administradora executiva da AGERE

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