Trabalhar num escritório desmaterializado

  • Rute Diniz
  • 22 Fevereiro 2021

Imagine um local de trabalho virtual que muda automaticamente, de acordo com as suas necessidades.

Trabalhar digitalmente hoje significa emails, relatórios digitais e conexão a partir de casa por meio de plataformas online. Mas, daqui a uma década, tudo será estruturalmente diferente. Imagine um local de trabalho virtual que muda automaticamente, de acordo com as suas necessidades. Pode ser um ecrã gigante, caso queira editar um vídeo, ou um teclado tátil e um dicionário de sinónimos, se tiver que realizar a redação de um relatório.

No ano passado, tudo isto pareceria uma fantasia futurística rebuscada. Mas a verdade é mais estranha que a ficção. Em março de 2020, a pandemia Covid-19 atingiu com tamanha intensidade os conceitos mais tradicionais de socialização e trabalho cuja perspetiva de o fazer a partir de casa deixou de consistir numa simples proposição teórica. Pelo contrário, um pouco por todo o mundo, para muitos profissionais que desenvolviam a sua atividade a partir de um escritório, subitamente passou a ser a nova realidade.

Este ‘novo normal’ implica longos dias de trabalho em frente a um computador portátil ou tablet, em videoconferências com colegas e parceiros de negócios. A Internet tornou-se uma tábua de salvação funcional e resultou surpreendentemente bem. Em geral, a atividade profissional continuou e os resultados não sofreram decréscimo de qualidade. Para muitos, o mundo digital foi a tábua de salvação e, como consequência, a atividade online cresceu significativamente a uma escala global.

No entanto, muitos entendem que há algo que está a faltar – a tecnologia que permita compensar a presença e a imersão do mundo físico. Passar o dia todo em frente a um ecrã plano com som de uma coluna não chega sequer perto da experiência real de um encontro de negócios cara a cara. Ou seja, para que uma reunião digital seja tão interativa quanto a realidade, exige-se da tecnologia da comunicação um grande salto em frente.

E terá que envolver muito mais do que melhores videochamadas. É fundamental que permita uma experiência colaborativa na mesma sala com os colegas – razão pela qual o interesse pela tecnologia AR/VR (Realidade Aumentada/Realidade Virtual) cresceu exponencialmente ao longo de 2020. Mas mesmo isso será apenas metade do caminho. Durante o período de confinamento, profissionais dos quatro cantos do planeta redescobriram a importância dos cheiros e sabores e do lado físico dos locais que normalmente frequentam e nos quais fazem negócios e desenvolvem as suas atividades. Na verdade, a pandemia criou um ponto crítico para aquilo que os denominados colaboradores de colarinho branco esperam do futuro escritório digital.

A Internet dos Sentidos vai funcionar

É provável que em menos de uma década o seu laptop tenha sido substituído por um posto de trabalho digital, o qual permite uma presença virtual total em qualquer lugar. Um estudo desenvolvido pela Ericsson Research aponta mesmo que daqui a uma década a tecnologia avançada e as redes 5G possibilitem a existência dessa Internet dos Sentidos em pleno.

Isso significa que vai ter o poder de comunicar digitalmente. Não serão apenas os colegas parecer e soar reais, mas também desfrutará dos seus sentidos, sejam estes o toque, o olfato ou o sabor. Se durante um intervalo remoto para o café alguém disponibilizar um bolo de chocolate, esteja certo que é bem possível que o possa cheirar e até provar. De facto, a imersão realista significa ir além do vídeo e do som, além da AR e da VR.

Estejamos certos que o trabalho de escritório não voltará a ser como era antes da pandemia. Em vez disso, os colaboradores passarão mais tempo a exercer as suas funções digitalmente. Por esse motivo, impulsionarão a necessidade de tecnologias futuras a uma escala e um ritmo inimagináveis há tão pouco tempo. Em vez de simplesmente levantarmos um écran de computador virtual, a experiência poder-se-á tornar completa, inclusivamente com intervalos para o café, experiências sociais e um pequeno passeio digital pela sala.

E mesmo a pegada ecológica pode ser reduzida, por via do aumento da digitalização do trabalho e da formação de equipas, com o correspondente menor tempo despendido em deslocações e respetiva emissão de CO2 para a atmosfera.

Principais conclusões do Ericsson Research

  1. O escritório desmaterializado pode ser uma realidade em 2030. Não apenas metade dos inquiridos deseja um espaço de trabalho digital que permita uma presença full-sense no trabalho a partir de qualquer local, mas cerca de 6 em cada 10 também deseja ter um depósito virtual, igualmente em full-sense, tanto para adquirir bens e serviços s fornecedores como para vender aos seus clientes.
  2. A pandemia é considerada como um ponto de inflexão digital. Quase 6 em cada 10 inquiridos prevê um crescente aumento nas reuniões online com clientes, fornecedores e colegas – e, para tal, necessitam de ferramentas que melhor suportem a interação remota.
  3. A desmaterialização do escritório será impulsionada por ganhos de eficiência e vendas, mas o ambiente também deve ser beneficiado. Até 77% indica que uma Internet dos Sentidos para uso comercial tornará as empresas mais sustentáveis.
  4. A tecnologia da Internet dos Sentidos também será utilizada no interior das empresas. Por exemplo, 73% dos senior managers acredita que até 2030 os alimentos na cantina da empresa podem ser digitalmente aprimorados, de forma a terem o mesmo sabor do original, o que permitirá a otimização, seja do custo como da qualidade percecionada.
  5. Segurança e privacidade são premissas essenciais, e a privacidade, em particular, é considerada um desafio crítico no futuro. Embora 66% ache que, em 2030, a tecnologia lhes permitirá sentir quando um colega está chateado, isso também significa que seu empregador saberá quando eles próprios estão chateados.
  6. Já 58% dos utilizadores regulares de AR/VR estão interessados num escritório digital full-sense – provavelmente fruto das suas experiências atuais, que lhes dão uma ideia do que será possível no futuro.
  7. Cerca de 40 por cento daqueles que não usam AR/VR mostram-se interessados neste ambiente de escritório virtual. Embora a geração atual de AR/VR seja vista por muitos como pouco atrativa, isso pode mudar quando a tecnologia amadurecer e tiver um uso mais conveniente.
  8. O escritório doméstico digital de também receberá um impulso, se e quando as empresas direcionarem os fundos que atualmente vão para manter escritórios físicos, e dessa forma melhorarem as configurações de home office dos seus colaboradores. Por exemplo, 62% dos utilizadores semanais de AR/VR quer ter um contrato de trabalho que lhes permita nunca ir ao escritório e, em vez disso, recebem um reembolso de home office isento de impostos até 1.000 dólares mensais. Entre aqueles que não utilizam AR/VR a percentagem é inferior, mas ainda assim elevada, 57%.

*Rute Diniz é diretora de recursos humanos da Ericsson em Portugal-

  • Rute Diniz

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