Trabalho remoto é mais do que mandar as pessoas para casa
Então, porque não estivemos sentados em casa na última década, treinando online e participando em videoconferências?
No papel, o trabalho remoto é acéfalo. Aumento de produtividade, redução de custos, acesso a uma muito maior pool de talento e horários flexíveis para os trabalhadores. A tecnologia está lá, também. Esteve lá nos últimos 10 anos. Então, porque não estivemos sentados em casa na última década, treinando online e participando em videoconferências?
Marissa Meyer, CEO da Yahoo!, declarou-se a favor de uma política de trabalho-não-remoto há cerca de cinco anos, com outras empresas de alto perfil como a Reddit, Best Buy ou IBM a seguirem-na. As declarações falavam do facto de “para se tornar o melhor espaço para trabalhar, a comunicação e a colaboração são importantes, mas também precisamos de trabalhar lado a lado”. Porque é que algumas das maiores empresas do mundo evitam a panaceia da cultura do trabalho?
Eles não estavam preparados.
Ao mesmo tempo que empresas e trabalhadores foram forçados a descobrir como fazer durante o mês passado, trabalho remoto significa um pouco mais do que mandar as pessoas para casa e ter uma boa ligação à internet. Tal como não podemos fazer um melhor corredor só comprando-lhe melhores sapatos, não podemos aumentar a performance de uma equipa apenas permitindo-lhe que trabalhe de casa. Para colher os benefícios de uma equipa remota, é necessário estabelecer os básicos de qualquer equipa bem sucedida, e adaptá-los a um ambiente remoto: colaboração, comunicação e cultura.
Colaboração
Se é difícil ter os empregados a trabalhar em harmonia para atingir resultados quando estão sentados ao seu lado, imagine quando eles estão espalhados entre São Francisco, Madrid e Nova Deli. Para que a coordenação da equipa funcione em ambiente remoto é necessário que trabalhe como um relógio. Cada elemento da equipa deve ter dúvidas sobre a missão da empresa, as suas prioridades atuais, papel e responsabilidades, e sobre quais as métricas de performance. Cada projeto e processo deve ser documentado ao detalhe, e as equipas devem saber quando e onde ter acesso a updates, progressos e como comunicar decisões.
Comunicação
A comunicação virtual ainda tem limitações. Não conseguimos recriar pequenas nuances e dicas sociais percebidas na comunicação em pessoa. Ainda não. A chave para ultrapassar estes desafios é simples, mas difícil de executar com sucesso: adotar guidelines e processos claros de comunicação. Que ferramentas usar? Com que propósito? Com que frequência? Em que situação? Todo o sistema de comunicação deve ser desenhado perfeitamente e implementado para assegurar que a comunicação flui perfeita e efetivamente.
Cultura
Indiscutivelmente, o aspeto mais importante. Como defende Ben Horowitz, “a cultura é a forma como a sua empresa toma decisões quando você não está lá”. E num ambiente remoto, você nunca está. O seu trabalho é feito sobretudo em isolamento, e isso exige que o sistema de colaboração e de comunicação seja efetivo por um período, mas é uma cultura forte que promove o envolvimento e sustenta a performance a longo prazo. O foco deve estar na construção de uma identidade partilhada através dos valores da empresa – e da confiança.
O trabalho remoto não é uma moda, veio para ficar. No entanto, é improvável que se torne instantaneamente um hábito num cenário pós-crise. A sua implementação é mais ampla e profunda do que a maioria das organizações antecipou e, para ser bem sucedido, é necessária uma aproximação estruturada, assente num investimento significativo numa mudança de cultura organizacional. Ainda que a atual pandemia tenha acelerado a sua adoção, teremos ainda um caminho longo a percorrer para fazer do trabalho remoto, trabalho.
*Álvaro Rojas é VP Student Outcomes & Corporate Partnership da Ironhack.
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