Trump, Clinton e os mercados
O sucesso, provável, de Hillary Clinton será acolhido favoravelmente por uma maioria de investidores e uma oportunidade para alocar as nossas carteiras.
Uma hipotética vitória de Trump poderia por em causa muitos dos fundamentos económico da primeira economia mundial: quebrando o consenso de uma economia aberta e amiga das empresas, o discurso de Trump caminha pelas vias do isolacionismo, da repressão da imigração, da híper inflação… e provavelmente do declínio económico…
Felizmente, os recentes máximos renovados dos índices de ações americanas, a subida do dólar e as antecipações de aumentos de taxas de juros traduzem a forte probabilidade de uma vitória de Hillary Clinton a 8 de Novembro! Mas para alem deste “final feliz” antecipado pelos mercados, existe uma alteração profunda do sentimento eleitoral americano em relação às temáticas económicas.
A vitória de Trump nas primárias republicana e a forte resistência de Bernie Sanders face a Clinton, são sinais fortes das exigências do povo americano sobre as politicas económicas que pretende ver implementadas na próxima legislatura.
- Mais pragmaticamente, analisar as temáticas económicas dos candidatos, e em particular de Hillary Clinton, permite-nos elaborar cenários sobre os setores que sairão vencedores ou penalizados por estas mudanças de “paradigma”.
- Aumento do poder de compra. Esta temática foi um tema forte da campanha e traduz-se na promessa de Clinton de duplicar o salário mínimo nacional de 7.25$ para 15$, e de redução da fiscalidade das classes médias. O impacto destas medidas deverá ser sensível para os setores de bens de consumo corrente (agroalimentar, higiene e beleza, …) e bens duradouros (automóvel, eletrónica, …), como também para a distribuição.
- Saúde para todos. Este é um dos temas emblemáticos de Clinton. Traduziu-se na implementação, durante o mandato de Obama, de um acesso universal a um seguro de saúde, e mais recentemente por ataques fortes de Clinton aos abusos da industria farmacêutica. Aqui o impacto poderá ser negativo, nomeadamente para os setores das biotecnologias, ao pressionar os preços dos tratamentos inovadores.
- Plano nacional de infraestruturas. Face a degradação profunda das infraestruturas publicas, Clinton prevê um plano de investimento de 27.5 mil milhões de dólares anuais para melhorar pontes, autoestradas, redes de distribuição de energia e de agua, aeroportos… Empresas de obras públicas e de infraestruturas deverão sair beneficiadas deste plano.
- Perdão fiscal. Centenas de milhares de milhões de dólares de proveitos de empresas americanas estão parqueados fora dos Estados Unidos, essencialmente por empresas tecnológicas. A Apple sozinha contabilizava em junho um stock de 214.8 mil milhões de proveitos fora do território americano… Espera-se que seja dado um incentivo ao repatriamento para os Estados-Unidos destes valores colossais, que deverão pagar uma pequena fração dos 35% de taxa de impostos habitualmente devida nestes casos. Esta medida trará consequências positivas para o setor, permitindo aumentar a retribuição dos acionistas e/ou os investimentos.
O sucesso, provável, de Hillary Clinton será acolhido favoravelmente por uma maioria de investidores e uma oportunidade para alocar as nossas carteiras em consequência. Mais importante ainda seria uma clarificação em simultâneo das maiorias do Senado e/ou da Câmara dos Representantes, ambas dominadas pelo partido republicano, e que condicionarão a capacidade da futura presidente democrata implementar o seu programa.
A maior economia mundial não pode continuar a funcionar em gerigonça!
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