Itaflex está a apostar em solas feitas com materiais reciclados e naturais. Com um ano "difícil" pela frente, indústria de componentes do calçado acelera investimentos em novos produtos.
Depois de 13 anos sem participar na Lineapelle, a principal feira internacional da indústria de componentes, a Itaflex apresenta-se em Milão com um “menu” que inclui cereais e fibras. A empresa de solas de Felgueiras, que emprega 70 pessoas e faturou cinco milhões de euros em 2024, mais 10% que em 2023, está a apostar na produção de componentes com materiais “reciclados e naturais”. O objetivo é reforçar a base de clientes e segurar os resultados num ano que promete ser complicado.
A despedir-se de um ano que qualifica “difícil, muito inconstante e com muita luta”, a Itaflex, que conta com muitos clientes no setor do vestuário, assinalou o seu regresso à Lineapelle com produtos que incluem cereais e fibras, referiu Nuno Marinho, diretor comercial. “O que introduzimos são os restos que não saem na cadeia alimentar. São os resíduos“, detalhou, explicando que estes resíduos são usados para ocupar o espaço base da sola. “Onde entram não entra plástico”, aponta. No entanto, a utilização destas matérias-primas naturais “não deve exceder 20%, porque começa a danificar o produto”.
Com a maior parte da sua produção a ter como destino a Europa, a empresa mostra algum otimismo para 2025, ainda que adiante que a sua expectativa para este ano seja a “estabilidade” nas vendas.
Também a apostar na reutilização de materiais está a For Ever, a marca de solas do grupo Procalçado. A empresa portuguesa está a apresentar uma solução que oferece “a possibilidade de tornar sapatos antigos em novos“, realça Ricardo Couto, responsável de marketing da empresa, que, depois de receber o calçado, vai separar todos os materiais, desde tecidos a solos, para transformá-lo em novo. A tecnologia permite utilizar 100% de materiais utilizados em PVC, 25% em EVA e 20% em borracha. “É uma oportunidade que damos às marcas para fecharem o círculo”, remata.
Prestes a completar 30 anos no próximo dia 30 de setembro, a Atlanta está a preparar “novidades com materiais sustentáveis”, resultado dos projetos que está a desenvolver no âmbito do Plano de Recuperação e Resiliência (PRR) e que já se encontram “numa fase adiantada”, conforme disse Paulo Ribeiro, CEO da empresa.
Depois de ter fechado 2024 com uma quebra de 9% na faturação, para 9,1 milhões de euros, face ao recorde de dez milhões de euros alcançados em 2023, o líder da empresa da Lixa, que conta com 85 trabalhadores, quer voltar aos níveis de vendas registados em 2023. “Vemos uma reação positiva [no mercado], com algumas marcas que estão com novos projetos.”
À imagem do que acontece com a generalidade das empresas do setor, a Atlanta exporta maioritariamente para a Europa, tendo em Espanha, Itália, França e Alemanha os seus principais mercados, ainda que já exporte cerca de 30% para os EUA. Com uma produção diária que oscila entre 15 e 20 mil pares, a companhia continua a reforçar o investimento em equipamento. Este ano, tem 600 a 700 mil euros para novo equipamento, conta o CEO da Atlanta.
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De Felgueiras chega outra novidade na área da sustentabilidade. A Bolflex, o maior produtor ibérico de solas de borracha injetada, traz na bagagem “uma tecnologia inovadora patenteada à base de injeção”, explica Pedro Saraiva, diretor comercial da Bolflex. O novo produto, denominado E-spot, pretende estabelecer “uma conexão dos elementos naturais com o corpo”. “Reduz as dores, ajuda o sono e ajuda a recuperação mais rápida dos pés e das pernas”, acrescenta, detalhando que o novo conceito se dirige aos “novos nichos de mercado que estão a tornar-se mainstream“.
Em marcha está um investimento de meio milhão de euros para aumentar em 20% a sua capacidade de produção de injeção de borracha, face aos atuais 2,8 milhões de pares produzidos por ano. Pedro Saraiva destaca que “2024 foi um bom ano”. “Se 2025 for igual, não nos podemos queixar.” Depois de a faturação ter aumentado 15%, para 13,5 milhões de euros, no ano passado, a empresa, que emprega 180 trabalhadores, ambiciona chegar ao final de 2025 com um volume de negócios de 15 milhões.
Indústria acelera investimentos
Apesar da indústria de calçado vir de dois anos difíceis, a indústria de solas e saltos fechou o ano com exportações de 31 milhões de euros, “o que significa um crescimento de 3,2% relativamente ao ano anterior”, adiantou Paulo Gonçalves, porta-voz da APICCAPS – Associação Portuguesa dos Industriais do Calçado, Componentes, Artigos de Pele e seus Sucedâneos. “O setor de componentes para calçado é, em nosso entendimento, a força motora do setor do calçado em Portugal”, defende.
O setor de componentes para calçado é, em nosso entendimento, a força motora do setor do calçado em Portugal.
“Numa altura em que nós falamos em nova geração de produtos, numa altura em que falamos em investimentos na área da sustentabilidade, são precisamente as empresas de componentes para calçado que estão na liderança desse processo“, reforça, adiantando que a indústria do calçado está a acelerar os dois projetos do PRR em que o setor está envolvido, no valor de 120 milhões de euros.
Paulo Gonçalves acrescenta que, “ainda que possam existir pontualmente atrasos nos pagamentos do PRR, não tem posto nada em causa na execução dos nossos projetos. Não há investimentos em risco“, garante.
(A jornalista viajou para Itália a convite da APICCAPS – Associação Portuguesa dos Industriais do Calçado, Componentes, Artigos de Pele e seus Sucedâneos)
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Componentes para calçado já ‘comem’ fibras e cereais
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