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  • Lusa

Rali de Portugal já não se enche de pessoas e o comércio está “muito fraco”

O Rali de Portugal já não enche as ruas da vila de Arganil e as multidões de outros tempos são apenas uma recordação das gentes daquele município do distrito de Coimbra.

O Rali de Portugal já não enche as ruas da vila de Arganil, concelho que se intitula “catedral” dos ralis, e as multidões de outros tempos são apenas uma recordação das gentes daquele município do distrito de Coimbra.

Antes das 06:00 da manhã desta sexta-feira, dia em que o Rali de Portugal tem duas passagens por Arganil, as ruas da vila estavam desertas e apenas a Padaria Pastelaria Argus estava aberta e com três clientes, que tomavam o pequeno-almoço para aconchegar os estômagos antes de se deslocaram à Serra do Açor.

Encostados ao balcão, Vítor Costa e Bruno Coelho, de Paços de Ferreira, e Nélson Figueiredo, de Lisboa, contaram à agência Lusa que saíram às 03:30 de Lisboa, onde trabalham.

“Prestamos serviço para um empresário de Arganil e estamos à espera de mais três pessoas para irmos ver o rali”, disseram.

Para Vítor Costa e Bruno Coelho, de 30 e 28 anos, esta é a primeira vez que vão assistir ao vivo ao Rali de Portugal, enquanto Nélson Figueiredo, já habituado a estas provas, torce pelo piloto francês Sébastien Ogier.

“Nós queremos é cerveja com força”, brincam Bruno e Nélson.

O proprietário da Padaria Pastelaria Argus, Carlos Almeida, lamenta que o negócio “esteja muito fraco” e justifica com a “mudança dos tempos” e a pandemia da Covid-19, que tem colocado o concelho com restrições e obrigou ao recuo no desconfinamento por excesso de casos.

“Há dois anos foi diferente, embora na altura não tenha justificado ter estado a noite toda com o estabelecimento aberto”, referiu o empresário, salientando que este ano está tudo “muito mais calmo”, apesar de na quinta-feira ter registado um aumento na venda de pão.

Miguel Matos, proprietário das bombas de combustível na rua principal da vila de Arganil, considera que o rali “traz sempre” um aumento de consumo entre os 10 a 15%, que, contudo, não é suficiente para “alterar os horários de funcionamento”.

“As pessoas agora abastecem nas suas áreas de residência e vão diretas para os troços, que atualmente são mais distantes da vila. Antigamente, era diferente, com as pessoas a tirarem uma semana de férias”, enfatiza.

Às 06:30, as ruas continuavam quase desertas e no interior do café-pastelaria Tó Bela, a proprietária Maria Odete Mota não tem dúvidas de que este ano “se nota muito menos gente em Arganil e uma quebra muito grande relativamente a 2019”.

Há 20 anos, recorda, “a esta hora eram tantas pessoas nas ruas e para atender que até dava vontade de fugir”.

Numa rua lateral aos Paços do Concelho, eram cerca de 6:40 quando Aires Batista, de Coimbra, e José Eugénio Godinho, de Coimbra, estacionam as suas motas para tomarem o pequeno-almoço, antes de rumarem ao troço da prova.

São dois antigos praticantes de enduro que conhecem bem a beleza do Serra do Açor e o seu potencial para as competições com rodas.

Em frente ao antigo cineteatro de Arganil, o taxista Tóni também se queixa da edição deste ano e diz que “não se parece nada” com 2019, último ano em que se realizou o Rali de Portugal.

“Eram milhares de pessoas há dois anos. Andei das 05:00 às 12:00 a transportar pessoas para os troços, mas este ano só tenho uma reserva para quatro pessoas do Norte”, lamentou.

Na pacata vila de Côja, concelho de Arganil, o movimento às 07:00 também era muito reduzido.

A reportagem da Lusa encontrou na esplanada do café-pastelaria Pérola de Côja Nélson Fonseca, de 47 anos, e o filho Cristóvão, de 19 anos, que vieram do Bombarral há dois dias para assistir ao rali.

“É a primeira vez que vamos ver um rali”, disse Nélson Fonseca, que pernoitou duas noites naquela vila banhada pelo rio Alva e preparava um saco de sandes para levar para o troço.

Segundo a dona do Pérola de Côja, ainda se nota afluência de pessoas por causa do rali, sobretudo portugueses e da zona Norte, “apesar de ser menos do que em 2019”.

Teresa Pinto recorda que há 20 anos “era uma loucura com espanhóis”, o que já não se verifica, com os visitantes a serem maioritariamente portugueses.

Mais ao lado, na Boutique da Tuxa, a proprietária Fátima Quaresma constata que, de ano para ano, a afluência de pessoas por causa do rali vai diminuindo.

A empresária diz mesmo que o seu estabelecimento “não sente nenhum impacto” com a prova maior do automobilismo português.

“Há 20 anos era lufada de ar fresco no comércio. Eram mais pessoas, estavam mais dias e consumiam muito“, recorda Fátima Quaresma.

  • Lusa

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