EUA: Todos votam, mas são eles que decidem
Esta terça feira, mais de 200 milhões de americanos espalhados por 50 estados vão escolher o seu presidente. E se os seus votos não são todos iguais?
O sistema eleitoral americano tem diversas particularidades, entre elas o facto de os eleitores votarem para escolher quem os vai representar no colégio eleitoral ou esse colégio eleitoral ser escolhido maioritariamente por determinados estados. Isto parece-lhe confuso ou injusto? Nós explicamos.
À semelhança do que acontece nas eleições legislativas no nosso país, os americanos, na terça-feira, não vão estar a escolher diretamente quem os vai liderar nos próximos quatro anos, mas sim quem os vai representar nessa escolha. E, também como acontece cá, cada estado tem um determinado peso nesta decisão, dependendo da população registada — o tamanho do território não entra nos requisitos.
Ainda assim, não é dada a mesma importância a todos os estados que têm mais votos e há certos estados com uma quantidade bastante pequena de votos que se sobrepõem a todos os outros. Aqui entra o conceito de swing states, ou, em português, estados oscilantes ou estados baloiço.
Existem imensos estados que já têm o seu partido definido há imensos anos, como é o caso do Texas e da Califórnia — estes são chamados os estados seguros, em que os candidatos podem confiar sem lhes prestarem muita atenção. Por outro lado, existem outros que não têm partido definido e que são conhecidos por mudarem muitas vezes a sua intenção de voto, não se podendo prever quem vai ficar com ele — os swing states, ou estados roxos, como são chamados.
Embora não haja um método rigoroso para estabelecer quais são os swing states de cada eleição — visto que estes podem variar de quatro em quatro anos — aquilo que causa a imprevisibilidade do estado é a sua população, principalmente se se registarem grandes mudanças demográficas, como oscilação da idade média ou taxa de imigração. Também a proximidade a swing states pode fazer de um estado seguro um oscilante.
Como é expectável, os candidatos vão dedicar mais recursos às campanhas desses sítios, tanto em termos de material de campanha como na quantidade de presenças, congressos, rallies, etc.
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Além disso, para sublinhar ainda mais o caráter imprevisível, nestes estados os resultados costumam contar com uma margem de diferença muito pequena. Vamos então perceber o que aconteceu nestes estados nos últimos anos e saber o que nos dizem as sondagens mais recentes.
O estado da Florida é um dos estados que tem decidido as presidências. Com um registo quase perfeito na escolha, só errou uma vez desde 1960. Conta com uma das populações mais velhas do país — 17% têm mais de 65 anos — e com um aumento exponencial da população hispânica.
Foi neste estado que aconteceu o caso mais flagrante de imprevisibilidade numa eleição quando, em 2000, George W. Bush e Al Gore eram candidatos e o primeiro ganhou o estado por 1.784 votos. Embora tivesse sido feita uma recontagem, Bush manteve a vantagem e arrecadou os 29 votos que lhe permitiram a margem de cinco votos do colégio. Esta foi uma das eleições mais polémicas de sempre, tendo em conta que Al Gore, embora tenha tido a maioria dos votos populares, não foi indigitado por causa da Florida.
As sondagens neste estado mantêm-se muito instáveis, com uma vantagem de 0,3% para o republicano.
Tal como a Florida, Ohio conta com o registo perfeito, tendo escolhido o presidente eleito desde 1964. A população aqui é 83% branca, contudo esse não foi um fator decisivo em 2008. Trump tem de ganhar estes 18 votos para conseguir ter hipóteses na corrida e as sondagens apontam para que isto se cumpra, garantindo uma margem de 2,6% ao republicano.
Barack Obama conseguiu conquistar a Carolina do Norte em 2008, estado que não era ganho pelos democratas desde 1976. Contudo, na eleição seguinte foi o seu concorrente republicano Mitt Romney a sair vencedor, com apenas 2% de vantagem. Neste momento, as sondagens mostram um estado muito dividido, com uma vantagem de 0,3% para o candidato republicano.
Neste estado, apenas George W. Bush conseguiu tirar os seis votos aos democratas. Bill Clinton e Barack Obama conquistaram os seis votos. Ainda assim, as sondagens apresentam-nos um empate técnico.
Embora só tenha o peso de quatro votos, este estado é bastante importante porque recebe as primeiras eleições primárias do ciclo. Além disto, encontra-se rodeada por estados azuis que podem influenciar a sua origem independente. Neste momento, encontra-se no lado dos democratas, com uma margem de 1,9%.
A história mostra-nos que este não parece ser oscilante. Ainda assim, a quantidade de votos que encerra e o aumento de imigrantes hispânicos na última década faz com que este seja um estado com uma palavra a dizer. Clinton tem de manter estes votos para consolidar a vantagem, fator que as sondagens afirmam — esta está à frente com margem de 3,4%.
É um estado que constitui fronteira com o México, havendo portanto uma grande comunidade latina. A sua localização também é bastante importante, afirmando-se como um estado do sul, tradicionalmente republicano. As sondagens apoiam a tradição, afirmando que Trump está à frente por 3,5%.
Hillary tem de manter a reviravolta protagonizada por Obama em 2008 neste estado. Com uma grande influência latina, as sondagens apontam para que este estado seja azul esta terça-feira, com uma margem de 3,3%.
Outro estado que Obama conseguiu tirar das mãos dos republicanos. Aqui, uma em cinco pessoas são africanas ou afro-americanas, com uma percentagem crescente de moderados. As sondagens indicam uma margem mais ou menos confortável para Clinton, de 4,7%.
Desta forma, estes estados fazem com que a previsão de quem vai sair vencedor na terça-feira seja muito difícil de fazer. Resta-nos então esperar e confiar na democracia.
Nota: as sondagens referidas são as do projeto FiveThirtyEight, disponíveis para consulta. Por serem atualizadas de hora a hora, aconselhamos que verifique as margens.
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