Para os portugueses nos EUA, nem Hillary nem Trump
"Esta tem sido uma eleição difícil, cansativa e dominada por insultos pessoais", diz o luso-americano Fernando Rosa.
A candidata Democrata Hillary Clinton e o candidato Republicano Donald Trump são pouco populares entre a comunidade luso-americana, de acordo com líderes comunitários ouvidos pela Lusa.
“Esta tem sido uma eleição difícil, cansativa e dominada por insultos pessoais e insultos dirigidos a vários grupos ou atividades. Nenhum dos candidato é muito popular”, disse o presidente da Portuguese-American Leadership Council of the United States (PALCUS), Fernando Rosa, à Lusa.
“A maioria da população do país e da nossa comunidade vê os dois candidatos negativamente, mas muitos sentem que Trump é extremista e sentem que as opiniões de Hillary são mais tradicionais”, confirma Gabriel Marques, Conselheiro das Comunidades Portuguesas em Nova Iorque.
Votar em Clinton mas com pouca vontade
Outro conselheiro das comunidades, Manuel Viegas, baseado na Flórida, diz que “a maioria da comunidade continua a ser democrata e vai votar em Hillary Clinton, mas não se nota um grande entusiasmo à volta da sua candidatura.” Viegas vive em Palm Coast, uma cidade da Flórida onde nos últimos anos se formou uma comunidade portuguesa com cerca de 13 mil pessoas.
“A Flórida pode ser o estado que decide a eleição. Poucos portugueses aqui admitem que votam em Trump, apenas os que são muito ricos, mas admito que existam alguns que votarão nele e não o dizem por vergonha”, explica Viegas.
Segundo os líderes ouvidos pela Lusa, os temas que mais preocupam os portugueses são o estado da economia, impostos e cuidados de saúde. Numa comunidade antiga, integrada na sociedade americana, um tema como a reforma das leis de imigração já não está no topo da lista das prioridades, mas mesmo assim as propostas de Donald Trump causam receios.
“O medo de uma Presidência Trump é muito real”
“Há uma grande parte da população portuguesa em várias fases de imigração, o que é particularmente difícil para muitas famílias que têm crianças com cidadania norte-americana“, explica Gabriel Marques, acrescentando que “o medo de uma Presidência Trump é muito real.”
Fernando Rosa diz que os portugueses que planeiam votar em Trump “usam o argumento de que a oposição não é de confiança” e que o empresário “poderá gerir melhor a economia, diminuindo os impostos.”
“Alguns também querem uma posição mais forte na emigração, apesar de tirarem vantagem, sempre que podem, dos ilegais que cá se encontram para se beneficiar”, acrescenta.
Em Boston, muitos preveem votar Trump
João Pacheco, conselheiro das comunidades para as comunidades residentes em Boston, Providence e New Bedford, diz que “alguns portugueses irão votar em Trump porque estão cansados de promessas.”
“Há muitas pessoas que me disseram que vão votar em Trump. Penso que a maioria está frustrada com o governo atual e com a economia estagnada. O seu apoio vem de uma antipatia para com as políticas do presidente Obama e de um desejo crescente de mudança da política tradicional em Washington”, explica.
Quanto a Hillary Clinton, João Pacheco diz que será a escolha de “grande percentagem da comunidade”, apesar de muitos considerarem que “tem um historial negativo e que não responde às perguntas com clareza e honestidade.” Fernando Rosa concorda e acrescenta que “a campanha democrata tem tido imensas dificuldades” e que, por isso, não tem conseguido afastar essa imagem da candidata democrata.
Gabriel Marques defende, no entanto, que “as opiniões de Hillary para cuidados de saúde universal e educação universitária gratuita ressoam muito com a comunidade, porque muitos estão familiarizados com estes programas em Portugal.”
O presidente da PALCUS concluiu dizendo que “a nação está dividida e polarizada e não existe diálogo” e que, por isso, receia que algumas regras de normal funcionamento da democracia dos EUA estejam em risco depois de 8 de novembro.
“Tem sido uma campanha complicada e com acusações que põem à prova o sistema da democracia americana, que se rege pelo respeito, apesar de diferença de opiniões, e por aceitar os resultados que as urnas produzem”, declarou.
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