Portugal é dos que menos gasta com a saúde

  • Ana Luísa Alves e Leonor Rodrigues
  • 24 Novembro 2016

Estudo da Comissão Europeia mostra que embora os europeus estejam a viver mais anos, nem sempre esses anos são vividos da melhor maneira.

Já pensou em quanto custam as doenças aos países da Europa? Ou se os números da obesidade infantil são muito diferentes dos demais valores noutros países? O relatório elaborado entre a Comissão Europeia e a OCDE (Organização de Cooperação e de Desenvolvimento Económicos) Health at a Glance: Europe 2016 faz um balanço sobre a saúde europeia, com base nestes e noutros indicadores.

Esperança Média de Vida

Embora os europeus venham a viver cada vez mais, e a esperança média de vida tenha passado dos 74,2 anos, em 1990, para os 80,2 anos, em 2014, os anos vividos a mais não têm sido desfrutados da melhor maneira. No entanto, há desigualdades a registar entre os 28 Estados membros. Na Europa Ocidental a esperança média de vida é mais alta oito anos do que na Europa Oriental e Central. Os níveis de escolaridade e de rendimentos também fazem variar este indicador.

Em Portugal esperança média de vida é de 81,3 anos
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As doenças da Europa

O cancro da mama é o que mais afeta as mulheres europeias: uma em cada nove vai desenvolver este tipo de cancro e uma em cada trinta morre vítima dele.

Os números são assustadores, mas é importante saber que a probabilidade de uma pessoa desenvolver a doença varia consoante a idade, historial, predisposição genética e estilo de vida, entre muitos outros fatores. Além disso, o diagnóstico precoce faz toda a diferença, e nisso Portugal está à frente: 80% dos cancros da mama são detetados numa fase inicial, acima da média europeia, de 63%, quase mais 10% do que há dez anos.

Relativamente a outras doenças, a vacinação é o fator chave da prevenção. Embora todos os países europeus tenham adotado programas de vacinação e 96% das crianças sejam vacinadas, Portugal encontra-se acima da média europeia na prevenção da hepatite B, sarampo, difteria, tétano e tosse convulsa, com 98% das crianças a receberem vacinas contra estas doenças.

Ainda no que toca à prevenção da gripe em idosos, um dos grupos de risco, Portugal registou melhorias significativas: entre 2004 e 2014, o país aumentou a sua taxa de vacinação em 30% para os 58,6%, acima da média europeia que é de 49,5%.

A saúde das finanças

De acordo com o estudo, os gastos em cuidados de saúdes estão diretamente relacionados com os rendimentos dos cidadãos. Em países com salários elevados, como o Luxemburgo, registou-se um grande aumento da despesa no setor em 2015: os luxemburgueses gastaram cerca de 6.000 euros por pessoa, enquanto os gregos foram os que menos gastaram.

Portugal foge à tendência europeia, que é de crescimento. No mesmo ano, os portugueses gastaram o mínimo possível em cuidados de saúde: pouco mais de 1.960 euros por pessoa, menos que isto só nos anos da crise económica, entre 2010 e 2013.

Portugal gasta 1.960 euros por pessoa com saúde

Fonte: OCDE (Valores em euros)
Fonte: OCDE (Valores em euros)

Nos restantes países europeus os serviços de saúde são financiados em grande parte pelo Estado, uns mais que outros. Na Dinamarca, Suécia e Reino Unido, 80% das despesas médicas dos cidadãos são suportadas pelo Governo. Depois, existem ainda os serviços de saúde privados que, na Irlanda, Portugal e em Espanha, são uma alternativa quando o setor público funciona menos bem. Em Portugal, 22,3% das despesas médicas em hospitais e clínicas privadas são pagas pelo Estado, um valor que tem vindo a aumentar desde 2005.

Mortalidade e obesidade infantil

A mortalidade infantil — crianças que morrem antes de terem um ano de idade — reflete os efeitos das condições económicas e sociais das famílias e dos países. Os cuidados de saúde nas primeiras quatro semanas de vida são, segundo o relatório, determinantes. Em Portugal, a mortalidade infantil desceu das 80 mortes em cada 100 000, nos anos 70 (na altura um dos valores mais altos na Europa), para 12 por cada 100 000 crianças, em 2013.

Já o excesso de peso e à obesidade infantil afetam quase 30% das raparigas portuguesas entre os três e os dez anos, e 25% dos rapazes, no mesmo intervalo de idades. Nos restantes países as taxas são idênticas, mas para faixas etárias mais avançadas, o que significa que em Portugal se registam as maiores taxas de obesidade nas crianças mais novas. A média na Europa está nos 20% para as meninas e 25% para os meninos.

Quanto custam as doenças crónicas?

As doenças crónicas, além de causarem mortes precoces, limitam a capacidade de trabalho ainda em idade ativa. Em Portugal 9.897 pessoas morreram prematuramente devido a doenças crónicas entre os 25 e os 64 anos, o que corresponde a 170% por cada 100 000 habitantes. Este não é, contudo, o valor mais alto entre os 28 estados-membro. A Hungria tem uma percentagem muito maior, de 411% pelo mesmo número de habitantes. Na União Europeia, cerca de 55.000 pessoas, entre os 25 e os 64 anos, morreram devido doenças crónicas, onde se incluem o cancro, as doenças respiratórias e a diabetes, em 2013.

Cerca de 50 milhões de pessoas na UE sofrem de várias doenças crónicas e mais de meio milhão de pessoas em idade ativa morre todos os anos dessas doenças, representando um custo anual de cerca de 115 mil milhões de euros para as economias da UE.

Mais médicos e menos enfermeiros

Em Portugal, entre o ano 2000 e 2014, o número de médicos por cada mil habitantes cresceu, sendo que, em 2014, era de 4,4 e a média europeia situava-se nos 3,5. Já o rácio de enfermeiros pelo mesmo número de habitantes era de 6,1, abaixo da média da Europa, que era de 8,4.

As longas listas de espera para cirurgias não urgentes são um problema nos países europeus, apontado pela organização. Para cirurgias às cataratas, por exemplo, atualmente, em Portugal, um paciente tem de esperar em média 100 dias, um número elevado comparado ao da Holanda: 40 dias. Ainda assim, há pior. Na Polónia, o tempo de espera supera os 400 dias.

A conclusão do estudo é uma: as políticas destinadas a prevenir a saúde e as doenças podem salvar vidas e poupar milhares de milhões de euros na União Europeia.

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