Prémio dos certificados vai acabar. E agora?

A partir de janeiro de 2017, os certificados de aforro vão perder o prémio provisório atribuído à série C. Se apostou nessa série, saiba o que fazer: manter, desinvestir e onde reinvestir.

Após quase 7,5 mil milhões de euros perdidos em 41 meses consecutivos de resgates líquidos, finalmente surgia a boa notícia. Os portugueses que regressavam de férias após o verão de 2012, eram surpreendidos com a notícia de que o Governo iria aumentar a remuneração dos certificados de aforro. A medida a aplicar a partir de setembro desse ano adicionava à remuneração da série C de certificados de aforro um prémio provisório de 2,75 pontos percentuais.

Se foi uma das pessoas que se deixou tentar pela atratividade desta remuneração, prepare-se. Este prémio está em vigor apenas até ao final deste ano. A partir dessa altura, os certificados de aforro dessa série sofrem um corte considerável face à atual remuneração. Deve, por isso, avaliar se pretende manter, ou não, o seu dinheiro neste produto e se existem alternativas mais vantajosas.

Porquê este prémio?

As Finanças atribuíram a incorporação deste prémio adicional após aquilo que se considerou ser “uma redução significativa” na captação de poupanças pela via dos certificados de aforro. De salientar que este produto sempre foi uma das soluções de poupança preferidas pelos portugueses. No entanto, no período entre o início de 2009 — altura em que os certificados de aforro da série C viram a fórmula de cálculo alterada — até à altura da revisão em alta da sua remuneração em setembro de 2012, os portugueses viraram costas a este produto de poupança do Estado, para passarem a privilegiar os depósitos a prazo, cuja remuneração era mais apelativa.

Durante mais de três anos de sangria, os certificados de aforro perderam quase 7,5 mil milhões de euros de aplicações. Com a introdução do prémio provisório de 2,75 pontos percentuais em 2012, e a suspensão da anterior fórmula de remuneração, gradualmente os portugueses foram regressando aos certificados de aforro. As subscrições líquidas chegaram a rondar valores superiores a 250 milhões de euros mensais durante o verão de 2014, apoiadas numa remuneração superior a 3% que batia os juros em torno de 1,5% que eram oferecidos, em média, pelos novos depósitos a prazo dos bancos.

Impacto na remuneração dos certificados de aforro

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Fonte: IGCP| ECO

Investir ou desinvestir?

Quem deixou seduzir-se pela remuneração oferecida pelos certificados de aforro da série C, em setembro de 2012, teve acesso nessa altura a uma remuneração de 3,268%, em termos brutos. Entretanto, essa taxa de juro foi baixando gradualmente a acompanhar o rumo descendente da Euribor a três meses, que lhe serve de referência. Estes mesmos aforradores viram assim a taxa de juro deste produto recuar até aos 2,75% que vigoravam em setembro de 2016, valor idêntico ao prémio provisório, já que a Euribor a três meses se encontra negativa há mais de ano e meio.

Contudo, quando estes aforradores perderem o prémio provisório, em janeiro do próximo ano, vão ver a taxa de juro dos seus certificados baixar para apenas 1%. Isto porque, como a Euribor a três meses ronda os -0,313%, a taxa de juro será determinada apenas pelo valor do prémio de permanência pelos quatro anos de manutenção da aplicação: 1%.

Quem tenha aderido aos certificados de aforro da série C posteriormente a essa data vão ter remunerações ainda mais baixas, tendo em conta que o prémio de manutenção é menor. Por exemplo, quem tenha subscrito este produto em janeiro de 2015, em janeiro de 2017 cumpre dois anos de aplicação. Ou seja, terá direito a uma taxa de juro bruta de 0,75%, exatamente igual ao valor do prémio de permanência.

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Esta alteração já prevista para os certificados de aforro torna assim muito menos apelativo o investimento neste produto, razão que leva a Deco a desaconselhar manter o dinheiro aplicado. “A série C deixa de ser interessante, porque passam a vigorar as condições que existiam anteriormente. A taxa base passa a ser calculada com base na Euribor a três meses a que é acrescido um prémio de permanência que não é tão interessante como nas séries anteriores. Quem tem essa série há dois ou três anos, no máximo terá 1% de prémio. Ou seja, o rendimento vai ficar muito próximo da série D, que é à volta de 0,5%, em termos líquidos”, diz António Ribeiro, economista da Proteste Investe, que aconselha, no entanto, a manutenção das séries anteriores: a B e a A.

"A série C deixa de ser interessante, porque passam a vigorar as condições que existiam anteriormente. A taxa base passa a ser calculada com base na Euribor a três meses a que é acrescido um prémio de permanência que não é tão interessante como nas séries anteriores.”

António Ribeiro

Proteste Investe

Encontrar retornos mais atrativos face aos que vão passar a ser obtidos pelos certificados de aforro da série C não é, contudo, muito fácil. A melhor via, segundo o economista da Proteste Investe, será reencaminhar esse dinheiro para outro produto de poupança do estado: os certificados do Tesouro poupança mais (CTPM). “Quem tem certificados da série C, o que tem a fazer é resgatar e transferir para CTPM”, diz António Ribeiro. No primeiro ano, os CTPM remuneram com uma taxa de juro bruta de 1,25% no primeiro ano, que supera os 1% que passarão a ser oferecidos na série C dos certificados de aforro a partir do próximo ano. Nos quatro anos seguintes a remuneração sobe gradualmente para atingir um valor médio de 2,25%, em termos brutos, nos cinco anos de aplicação.

Filipe Garcia, presidente da IMF, explica que “a troca vale a pena marginalmente, mas há também que ter em atenção a indisponibilidade que está associada aos CTPM”. Ou seja, contrariamente aos certificados de aforro, não é possível resgatar o dinheiro durante o primeiro ano de aplicação nos CTPM. Isto significa que apenas se justificará a troca entre os dois produtos se o titular estiver disposto a não mexer na quantia aplicada durante esse período de tempo. Para além disso é necessário que o montante a aplicar nos CTPM seja no mínimo de mil euros.

"A troca [dos certificados de aforro para os CTPM] vale a pena marginalmente, mas há também que ter em atenção a indisponibilidade que está associada aos CTPM.”

Filipe Garcia

IMF

António Ribeiro realça ainda a importância de esperar mais algum tempo antes de avançar para uma retirada de dinheiro dos certificados de aforro. “O Prémio existe até final do ano. Não sabemos ainda se vai ser prolongada esta medida, apesar de não haver indicação até agora que tal aconteça. Por isso o melhor será esperar até ao final deste ano antes de decidir”, aconselha o economista. Ou seja, só no início de 2017 se justifica uma decisão final por parte do aforrador.

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