Eleições europeias vão mostrar qual a força eleitoral do populismo

  • Lusa
  • 29 Dezembro 2016

As eleições na Alemanha e em França no próximo ano vão ser um teste à força do populismo nas urnas, com quase metade dos cidadãos de 12 países a apoiarem este tipo de ideias.

De acordo com uma sondagem recente, feita em 12 países europeus pelo instituto de pesquisa britânico YouGov, 47% dos cidadãos mostraram apoiar o populismo, que partilha um conjunto de políticas em que o protecionismo, a defesa do interesse nacional, as críticas aos fluxos migratórios e o ceticismo face ao primado dos direitos humanos ocupam os lugares mais importantes.

O estudo mostra a Alemanha, um dos grandes países europeus que irá a eleições em 2017, com uma taxa de adesão ao populismo de 18%, ao passo que a França, que também vai a votos em 2017, regista uma simpatia por estas ideias na ordem dos 63%, fornecendo à líder da extrema-direita Marine Le Pen um terreno fértil para fazer campanha.

A Roménia é o país mais recetivo ao populismo, com 83% dos seus cidadãos a mostrarem simpatia por este conjunto de ideias, seguida da Polónia, com 78%. Na cauda da tabela está a Lituânia, com 0% de adesão, a Alemanha e Espanha, onde um terço dos cidadãos mostra abertura a tendências populistas.

O Presidente eleito dos Estados Unidos, Donald Trump, tornou-se um modelo e figura inspiradora dos populismos europeus. “Essa massa de eleitores abertos a movimentos populistas autoritários vai exercer uma influência significativa nas eleições dos países” europeus em 2017, conclui o estudo.

O referendo que decidiu a saída do Reino Unido da União Europeia, no verão passado, é encarado como um dos grandes momentos de 2016 no que diz respeito à ameaça do populismo, ao passo que a vitória do ecologista Van der Bellen sobre o dirigente do Partido da Liberdade, de extrema-direita, na Áustria, representou uma vitória para os críticos do populismo.

A vitória de Van der Bellen foi saudada por grande parte dos líderes europeus como uma vitória do ideal de unidade europeia e da construção conjunta do ‘Velho Continente’.

Para além do comissário europeu dos Assuntos Económicos, Pierre Moscovici, e do diretor do Mecanismo Europeu de Estabilidade, Klaus Regling, que em entrevistas recentes apontaram as vantagens da moeda única e os benefícios da globalização como contraponto ao protecionismo económico, foram vários os líderes europeus que procuraram explicar as razões das vitórias do Brexit e de Trump, como por exemplo o Presidente português.

Na origem dos “fenómenos políticos qualificados como populistas estão o somatório de crises, ansiedades e angustias e falta de motivação e não numa crise de liderança”, disse Marcelo Rebelo de Sousa, considerando “muito preocupante” que na Europa “haja quem se esqueça” que na origem da cultura europeia está o “cruzamento de civilizações” e reaja a problemas como os refugiados com “egoísmo, racismo e xenofobia”.

O ministro dos Negócios Estrangeiros, Augusto Santos Silva, considerou que existem semelhanças “flagrantes” de hoje com “a atmosfera europeia” das décadas de 1920 e 1930, falando na “mesma pulsão extremista” e em riscos de “hegemonia do populismo”.

“As similitudes com a atmosfera europeia dos anos de 1920 e 1930 são flagrantes, com a mesma confusão de valores, a mesma incapacidade de valorizar as alternativas ao centro, o mesmo desprezo pela convivência pacífica, a mesma pulsão extremista, a mesma busca de um qualquer grupo que possa expiar todas as culpas”, escreveu o ministro num artigo de opinião publicado em meados de novembro no jornal Público.

Temos uma batalha muito difícil pela frente, que opõe outra vez a sociedade aberta aos seus inimigos e separa outra vez os que querem virar as nações umas contra as outras e os que entendem ser a cidadania e o mercado comum o único caminho para o desenvolvimento harmonioso da Europa. As armas ao nosso dispor, nessa batalha, são as ideias, os valores e os princípios que os consubstanciam”, concluiu.

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