Holanda: “É importante unir novamente o país”, diz Mark Rutte

  • Lusa e ECO
  • 16 Março 2017

Os partidos europeus moderados respiraram de alívio com a derrota dos populistas holandeses. O primeiro-ministro holandês conseguiu a reeleição, mas terá de negociar com três partidos, no mínimo.

O partido liberal VVD liderado pelo atual primeiro-ministro holandês venceu as eleições de quarta-feira, ao conquistar 33 assentos, com 94,3% dos votos contados, abrindo-se a porta à formação de um Governo de coligação de centro-direita. No entanto, são precisos no mínimo quatro partidos para governar, caso se confirme que não há coligação com a extrema-direita. “Numa campanha, é inevitável que se evidenciem as diferenças, mas agora é importante unir novamente o país e formar um Governo estável para os próximos quatro anos”, disse Mark Rutte.

De acordo com a agência de notícias Efe, os lugares conquistados pelo Partido Popular para a Liberdade e a Democracia (VVD, de direita), a par com os 19 obtidos tanto pelos democratas-cristãos como pelo partido Democracia D66, dariam lugar a um Executivo em minoria com 71 apoios. Para superar os 76 deputados que proporcionam a maioria absoluta na Câmara Baixa, com 150 membros, Mark Rutte poderá recorrer aos nove lugares dos trabalhistas (PvdA), que foram parceiros do Governo na anterior legislatura. Contudo, falta saber se o PvdA está disponível para o efeito, depois de quatro anos e meio de aliança e a perda de 29 assentos nestas eleições.

Apesar de o Partido da Liberdade (PVV, de extrema-direita) ter conquistado 20 assentos nestas eleições — contrariando as sondagens que a apontavam como a força mais votada –, a maioria das formações políticas manifestou durante a campanha eleitoral que não pretendia aliar-se com Geert Wilders. Depois de se ter ficado a saber que ficou colocado em segundo lugar nas eleições, Geert Wilders afirmou-se pronto para integrar o futuro Governo holandês caso seja convidado.

[A probabilidade de governar com Geert Wilders] não é de 0,1, mas sim de zero.

Mark Rutte

Primeiro-ministro holandês

“Eu gostaria de co-governar com o PVV, se isso for possível. Mas, se isso não acontecer, iremos apoiar o executivo onde for necessário, em temas que são importantes para nós”, declarou aos jornalistas o líder populista, com quem a maioria dos partidos prometeu não trabalhar. Mark Rutte, reeleito agora para um terceiro mandato à frente do Governo da Holanda, garantiu, nas semanas que antecederam o escrutínio, que a probabilidade de governar com Geert Wilders “não é era de 0,1, mas sim de zero”.

Em paralelo, também parece pouco provável uma aliança entre as forças de esquerda, apesar do crescimento do partido ecologista Groenlinks, que passou de quatro para 14 assentos no parlamento. O apoio dos 14 deputados pertencentes ao Partido Socialista (PS) seria insuficiente, se bem que o seu líder, Emile Roemer, pediu aos demais partidos de esquerda “para não irem atrás da direita” afirmando que será “emocionante” ver a cor do futuro Executivo.

O líder do VVD, que se prepara para iniciar o terceiro mandato como chefe do executivo holandês, anunciou que pretende dirigir, nos próximos anos, “mais dinheiro para a defesa, para o cuidado dos idosos e para as infraestruturas“. “Isso será, para os liberais, o mais importante nos próximos anos”, assegurou.

As reações

Com o medo que a onda de populismo afeta-se a Holanda, o mundo esteve de olhos atentos a estas eleições como não esteve em anos anteriores. Tanto que os próprios holandeses foram votar em massa — cerca de 82% de afluência às urnas, segundo as primeiras projeções — e decidiram confiar os seus destinos à direita holandesa, castigando a esquerda com a exceção dos Verdes que cresceram bastante.

Um dos derrotados da noite foi o atual presidente do Eurogrupo (crítico das finanças públicas portuguesas), Jeroen Dijsselbloem, até agora ministro das Finanças dos trabalhistas: “Temos enfrentado altos e baixos nos últimos meses. Continuaremos a reconstruir [a base de apoio] amanhã, com todos os nossos membros. Nós somos social-democratas, nunca desistiremos“, disse após saber que o seu partido ficou sem 29 deputados, que anteriormente lhe garantiam uma coligação governamental com os liberais.

As reações dos líderes europeus já fizeram eco no Twitter. É o caso do atual primeiro-ministro italiano que se congratulou por não haver um “Nexit” (adaptação de Brexit). “[Os partidos] anti-UE perderam as eleições na Holanda. [Tem de existir] um empenho comum para mudar e relançar a União”, escreveu. Já para o ex-primeiro-ministro sueco Carl Bildt existe uma onda “anti-Trump” na Europa, acrescentando uma análise dos votos por região da Holanda. O Governo alemão também reagiu deforma entusiástica à vitória de Rutte.

 

O Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, considerou que os resultados eleitorais na Holanda, onde foi reeleito o primeiro-ministro, são uma “boa notícia” para a Europa e para Portugal. “Aparentemente não há alteração no Governo. Continua a mesma linha europeia, a mesma linha moderada”, afirmou à margem da entrega dos prémios da Sociedade Portuguesa de Autores, em declarações transmitidas esta quarta-feira à noite pela rádio TSF, salientando que a “escolha do povo holandês” é “uma boa notícia para os parceiros como Portugal”, “para todos os que defendem uma Europa moderada, unida, coesa, forte”.

Governo português: resultado eleitoral na Holanda é “muito encorajador”

O ministro dos Negócios Estrangeiros português considerou esta quinta-feira que o resultado eleitoral na Holanda é “muito encorajador”, destacando que foi “clamorosamente derrotada” a força que propunha “romper com a União Europeia e o seu modelo democrático e social”. “A força que claramente exprime a vontade de romper com a União Europeia e, sobretudo, de romper com o modelo económico e social que subjaz à União Europeia, que era o partido do senhor Wilders, foi clamorosamente derrotada”, afirmou à Lusa Augusto Santos Silva.

Antes, Santos Silva desejou uma “boa continuidade” ao partido vencedor das legislativas desta quarta-feira na Holanda – Partido Popular para a Liberdade e a Democracia (VVD, de direita) -, cujo líder é o atual primeiro-ministro, Mark Rutte, que se prepara para formar o seu terceiro Governo. “Ao longo dos mandatos de Mark Rutte, temos tido muito boas relações”, comentou o chefe da diplomacia portuguesa.

“Este resultado inscreve-se numa sequência de resultados que vem mostrando que, quando a escolha é decisiva, quando se trata de nos pronunciarmos se queremos ou não continuar com processos de integração europeia, no respeito pelas diferentes religiões e pelas diferentes culturas, na promoção da ajuda pública ao desenvolvimento, no modelo social que caracteriza a Europa, os eleitores europeus têm dito que preferem continuar com a Europa, com a democracia, com a tolerância e com o modelo social”, sublinhou Santos Silva.

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