Mini-crash? “Não estou preocupado. Espero que estas não sejam as minhas famous last words”, diz Moscovici

  • Margarida Peixoto
  • 7 Fevereiro 2018

Pierre Moscovici diz que "a Europa virou a página da crise económica" e que o crescimento "veio para ficar". Reconheceu riscos, mas diz que estão equilibrados. E o mini-crash não assustou.

Entre sexta-feira passada e esta terça-feira, os principais índices bolsistas sofreram fortes quedas, protagonizando aquilo a que rapidamente os mercados identificaram como um “mini-crash”. Mas Pierre Moscovici, comissário europeu para os Assuntos Económicos e Financeiros, garante que não se deixou assustar. “Não estou preocupado — e espero que estas não sejam as minhas famous last words“, respondeu.

A aversão ao risco começou na sexta-feira, em Wall Street, com o Dow Jones a cair mais de 6% ao longo da sessão. Na segunda e na terça-feira as ondas de medo alastraram-se à Ásia e à Europa, mas os Estados Unidos já tinham começado lentamente a recuperar. Esta quarta-feira, o pânico parece ter sido estancado e os analistas falam sobretudo de um movimento de correção abrupto.

Mas este tipo de volatilidade é precisamente um dos riscos negativos identificados pela Comissão Europeia no seu relatório com Previsões de Inverno, publicado esta quarta-feira. Confrontado com a materialização do risco, Moscovici desvalorizou — até por que o comissário trouxe sobretudo uma mensagem de otimismo.

“A Europa virou a página da crise económica”, começou por dizer Pierre Moscovici. As Previsões de Inverno publicadas em Bruxelas dão conta de uma revisão em alta do crescimento para o período de 2017 a 2019, tanto para a zona euro, como para a União Europeia. Um crescimento que, apesar de abrandar de ritmo nos próximos dois anos, “veio para ficar”.

Previsões revistas em alta

Fonte: Comissão Europeia, Previsões de Inverno

Moscovici explicou que esta recuperação económica está a ser conseguida com uma evolução contida dos salários e com uma inflação baixa, pelo que é “sólida e duradoura”. Reconheceu o contributo do crescimento mundial para acelerar a atividade da economia europeia e assinalou que o pacote fiscal dos Estados Unidos poderá acelerar ainda mais esse crescimento.

A certa altura, o comissário reconheceu mesmo que as previsões poderão estar marcadas pela prudência: “Poderá estar-se a subestimar a robustez desta expansão económica”, admitiu.

Do lado dos riscos, contudo, para além das alterações abruptas nos mercados há que considerar a possibilidade de as limitações à capacidade instalada das economias se começarem a sentir mais cedo do que o previsto. Moscovici notou ainda que a política monetária à escala mundial está menos sincronizada, com o Banco Central Europeu a manter ainda muitos estímulos, mas a Fed já com a progressiva retirada em andamento.

“É tempo de mudar para reformas 2.0”

Sobre a orientação de políticas, Moscovici sublinhou a importância de se fazer agora “reformas estruturais inteligentes”. Não porque as anteriores não o tenham sido, ressalvou, quando questionado pelos jornalistas, mas porque se trata de passar para uma segunda fase de reformas, menos marcada pela urgência.

“Fizemos as reformas estruturais necessárias até agora: não podíamos viver sem a união bancária, ou as reformas no mercado de trabalho, ou no sistema de pensões”, argumentou o comissário. “Diria que foram reformas 1.0, as necessárias para ter uma economia sólida”, continuou, reconhecendo que “são dolorosas, mas indispensáveis” e que ainda não foram feitas em todo o lado.

Mas “agora é tempo de mudar para as reformas 2.0”, garantiu. O que é isso? Trata-se de “reforçar o capital humano, preparar o futuro”, aumentar a formação, prosseguir com o plano Juncker. “Não são reformas mais inteligentes, são uma nova geração de reformas, devido a uma nova fase do ciclo e tendo em conta o que já foi feito”, rematou.

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