Comissão Europeia diz que Portugal vai crescer mais, mas perde comboio da zona euro
Bruxelas reviu uma décima em alta as suas projeções para o crescimento do PIB português até 2019. Agora a expectativa para este ano é a mesma de Mário Centeno. Mas passou a ficar aquém da zona euro.
A Comissão Europeia está ligeiramente mais confiante no crescimento português, tendo revisto uma décima em alta os números para o período 2017 a 2019. A perspetiva de Bruxelas para o PIB deste ano vai ao encontro da do ministro das Finanças, Mário Centeno. Mas a tendência de abrandamento mantém-se e Portugal até deverá perder o comboio da zona euro: agora o PIB português cresce aquém do conjunto da moeda única.
Os dados foram revelados esta quarta-feira, no âmbito das Previsões de Inverno da Comissão Europeia. Quando olham para Portugal, os peritos de Bruxelas veem uma economia em recuperação clara: o primeiro semestre de 2017 foi forte (com um crescimento de 2,9%) e o terceiro trimestre do ano passado ficou marcado pelo fortalecimento do consumo privado, nomeadamente de bens duradouros. Daí a revisão em alta do crescimento estimado para o ano passado, dos anteriores 2,6%, para 2,7% — um número que supera em uma décima a estimativa do Governo português.
Já para 2018 o crescimento previsto é de 2,2% (no outono Bruxelas antecipava um aumento de 2,1% do PIB) e para 2019 espera-se uma subida de 1,9% do PIB (também uma décima acima da anterior previsão).
Apesar da melhoria das expectativas, a economia nacional voltará a crescer abaixo da média da União Europeia e da zona euro em 2018 e 2019. É que a média do crescimento dos restantes Estados-membros também foi revista em alta, esperando-se agora uma subida de 2,3% tanto no conjunto da moeda única, como na União Europeia, e de 2% em 2019, também para ambos os agregados. Nas previsões de outono esperava-se que Portugal crescesse ao mesmo ritmo da moeda única.
O próximo gráfico mostra a revisão das expectativas em Portugal e na Zona Euro. Pode selecionar na legenda apenas as linhas que pretende ver.
Como vai crescer o PIB português, comparado com a Zona euro?
Fonte: Comissão Europeia, Previsões de Inverno
Quais serão os motores de crescimento da economia?
Bruxelas espera que se mantenham como propulsores fundamentais o investimento e as exportações. Os peritos preveem o consumo privado a “abrandar alguma coisa nos próximos trimestres, como resultado dos desenvolvimentos salariais moderados e do pequeno aumento da taxa de poupança“, lê-se no relatório. O crescimento continuará assim a ser suportado pelo investimento, “que beneficia de condições financeiras melhoradas, aumento das taxas de capacidade de utilização e lucros empresariais mais elevados”.
Face ao comportamento das exportações e importações em 2017 — em que a Comissão reconhece a importância tanto da melhoria do sentimento económico europeu, como do “aumento da capacidade do maior produtor de carros” português (o relatório não concretiza, mas será a Autoeuropa) — este ano o ritmo deverá ser mais “moderado”. Ainda assim, “continuará a crescer mais do que a procura doméstica, cujo contributo deverá cair depois de uma performance muito forte em 2017″.
No mercado de trabalho, a Comissão Europeia volta a notar o crescimento do emprego acima do ritmo de subida do PIB, o que é explicado pela atividade forte de setores de trabalho intensivo, como é o caso do turismo. Este facto levou a que a produtividade tenha tido uma “performance fraca”, mas que “é expectável que melhore em 2018 e 2019”. Seja como for, “a recuperação rica em emprego reduziu substancialmente tanto o desemprego total, como o desemprego de longo prazo para os níveis mais baixos desde 2004″, sublinha o relatório.
Em conferência de imprensa, o comissário Pierre Moscovici sublinhou que o “crescimento português deverá continuar acima do seu potencial, apesar de abrandar”. O responsável pelos assuntos económicos e financeiros reconheceu que os dados da economia nacional são “sólidos, robustos” e que “Portugal teve uma performance melhor do que o esperado nos anos anteriores”.
Já sobre as recomendações para o mercado de trabalho — esta semana a direção-geral dos Assuntos Económicos e Financeiros (DG ECFIN) recomendou que o Governo flexibilizasse mais a contratação sem prazo — Moscovici recusou comentar, frisando que este não é o momento.
Energia empurra subida de preços em 2018
Com uma recuperação sustentada sobretudo no investimento e exportações, e com contenção salarial, os preços têm subido sobretudo à custa da energia e serviços. “Os preços dos bens industriais não energéticos caíram”, nota o relatório. Este ano é de esperar que a inflação estabilize em 1,6% — um valor considerado relativamente baixo, tendo em conta que o target do Banco Central Europeu é um número abaixo, mas próximo de 2% — devendo cair para 1,5% em 2019, à medida que o crescimento do PIB também arrefece.
"Os preços da energia deverão dar um contributo fundamental para a inflação em 2018, refletindo os movimentos do preço do petróleo (…).”
“Os preços da energia deverão dar um contributo fundamental para a inflação em 2018, refletindo os movimentos do preço do petróleo, enquanto o fortalecimento do euro deverá manter os preços dos bens industriais não energéticos numa tendência de declínio”, adiantam os peritos de Bruxelas.
Já em 2019, o impacto dos preços da energia deverá desvanecer-se, ao mesmo tempo que a inflação nos serviços deverá aumentar em linha com o aumento do rendimento disponível. Desta forma, enquanto este ano a inflação core ficará ligeiramente abaixo da inflação total, no próximo ano a situação deverá inverter-se.
(Notícia atualizada com as declarações de Pierre Moscovici, comissário para os Assuntos Económicos e Financeiros)
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