Do travão à migração até à resposta ao protecionismo de Trump, conheça os pontos do acordo europeu
Conte não saía da sala enquanto não se falasse de migração. Os líderes europeus cederam e ditaram o reforço das fronteiras e o financiamento, entre outros, da Turquia e da Líbia.
Eram quase cinco da manhã em Bruxelas, seis em Lisboa, quando os trabalhos terminaram. Os líderes europeus, reunidos desde as 15h30 desta quinta-feira, estavam já cansados, mas o primeiro-ministro italiano fez finca-pé e disse que ninguém saía dali até que tudo fosse discutido. E foi.
Dez horas depois, é publicado um documento com o mesmo número de páginas que define as prioridades dos Estados-membros em matérias como a segurança, a defesa, o comércio e, tal como exigia Conte, a migração.
Reforço das fronteiras e mais dinheiro para a Turquia
As conclusões em relação à vaga de migrações chegam vagas, mas com duas certezas: Itália e Alemanha estão contentes com elas. No documento é pressuposto que a União Europeia tem de adotar uma “abordagem compreensiva” em relação a esta questão, que não pode ser resolvida a nível nacional, mas tendo a Europa como “um todo”. Em termos práticos, isto significa:
- Continuação do apoio prestado à Itália e aos Estados-membros fronteiriços, bem como aos países da região do Sahel, como é o caso da Líbia;
- Prevenção de novas chegadas através da rota do Mediterrâneo, ou seja, da Turquia, que implica o desbloqueio da segunda tranche de apoio financeiro ao país;
- Proteção dos migrantes legais que já estão em território europeu através de um “esforço partilhado” e “voluntário”. No caso daqueles que estão em situação ilegal, a única solução apresentada é a repatriação;
- Financiamento do fundo europeu para o território africano em mais 500 milhões de euros;
- Reforço do controlo das fronteiras a nível financeiro e material, para travar os movimentos ilegais de migração, e do papel da Frontex;
- Autorização para que os Estados-membros tomem “todas as medidas legislativas e administrativas” para travar os movimentos secundários dos asilados.
Sanções à Rússia mantêm-se
Para além das medidas que dizem respeito à migração, os líderes europeus passaram a tarde a trabalhar em propostas para âmbitos como a segurança, a defesa ou a inovação. Aliás, às 18h00 desta quinta-feira, hora de Lisboa, altura em que era suposto Juncker e Tusk terem falado aos jornalistas, as medidas existentes diziam apenas respeito a estas áreas.
No entanto, e porque “um Estado-membro reservou as suas posições até à discussão de todos os temas”, leia-se, Itália ameaçou vetar todas as propostas se não se discutisse o tema que mais afeta o país, as medidas apontadas acima entraram na discussão. Os líderes europeus decidiram ainda:
- Elevação do combate à evasão fiscal e fraude a um nível europeu e até global, tendo em conta os países da OCDE e utilização da inovação e da tecnologia para tal;
- Reforma das parcerias celebradas com a Organização Mundial do Comércio em áreas como a flexibilidade das negociações ou a redução dos custos de negociação;
- Apoio à resposta imediata às tarifas impostas pelos Estados Unidos e incentivo à mesma resposta em caso de “ações de clara natureza protecionista”;
- Manutenção das sanções à Rússia, para que o país “assuma a responsabilidade e coopere em todos os esforços para estabelecer a verdade e a justiça” no caso do voo MH-17;
- Redução dos lugares no Parlamento Europeu após a saída do Reino Unido;
- Criação de uma nova iniciativa de inovação no tempo que resta do programa Horizonte 2020.
Conte concorda, Merkel respira de alívio
Giuseppe Conte afirmou à saída desta maratona que “Itália já não está sozinha” na matéria das migrações, visto que conta agora com o apoio de todos os seus parceiros europeus.
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Já Angela Merkel, que dentro do seu Governo está a ser “encostada à parede” pelos seus parceiros de coligação, respirou de alívio, com as negociações a virarem para o lado que o CSU quer.
“Depois de uma discussão intensiva sobre um tópicos mais desafiantes da União Europeia, é uma boa mensagem termos chegado a acordo e termos um texto comum”, afirmou a chanceler.
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