Estas são as sociedades de advogados nos bastidores do milionário negócio do mercado de transferências
Por detrás de algumas das transferências mais mediáticas no mundo do futebol português estão as sociedades de advogados. O ECO foi conhecer os bastidores destas operações milionárias.
As sociedades de advogados portuguesas estão a ganhar com a expansão da indústria do futebol. A MLGTS ajudou a transferir Ronaldo do Real Madrid para a Juventus por 100 milhões, na maior transferência deste defeso. A Abreu Associados intermediou o regresso de Nani a Alvalade. Mas houve mais negócios com mão portuguesa.
Quando Cristiano Ronaldo assinou pela Juventus, no passado dia 10 de julho, o advogado Paulo Rendeiro era um homem feliz. Depois de dias e dias de rumores, especulações, informação e contrainformação e muitas páginas de jornais, concretizava-se aquela que era a transferência mais badalada do mercado do futebol mundial do último defeso. A operação foi complexa, ou não se tratasse do melhor jogador do mundo, e contou com a assessoria jurídica da Morais Leitão, Galvão Teles, Soares da Silva & Associados (MLGTS), sociedade de advogados de Paulo Rendeiro que ajudou a desbloquear o impasse com o Real Madrid e o seu presidente Florentino Peres.
Mas a sensacional transferência do internacional português para a Vecchia Signora por 100 milhões de euros não foi a única em que a MLGTS interveio enquanto assessora jurídica. A sociedade trabalha com a Gestifute, do conhecido empresário português Jorge Mendes. E tudo o que é negócio envolvendo atletas representados pelo super agente do futebol passa geralmente pelas mãos dos advogados da MLGTS, como também foi o caso da milionária transferência de João Cancelo, que em junho trocou o Valência pela Juventus por 40 milhões de euros.
A relação com a agência Gestifute tem dado frutos à MLGTS, onde há muito o verão deixou de ser sinónimo de descanso para os seus advogados de direito desportivo, como Paulo Rendeiro – que, juntamente com Carlos Osório de Castro, ajudou mudar Cristiano Ronaldo de Madrid para Turim. “Entre junho e agosto existe um maior volume de trabalho, pois acabam as principais ligas profissionais e abre a janela de transferências mais importante”, conta Rendeiro. “Trabalhar neste mercado implica estarmos sempre preparados para longas jornadas de trabalho e de negociações em qualquer altura do ano e em qualquer lugar do mundo”, acrescenta.
Também na Abreu Advogados estes dias que costumam ser de férias para a maioria dos portugueses são mais atribulados por causa do mercado de transferências. Uma das operações mais mediáticas onde o interveio o sócio Fernando Veiga Gomes foi protagonizada por Nani, que em julho saiu do Valência para rumar ao Sporting a custo zero.
Veiga Gomes conta como nenhuma parte quis ficar a perder. E eram muitos os interessados no negócio, o que veio a complicar a transação. “Havia a Lazio, onde o jogador estava emprestado, havia o Valência e, naturalmente, o Sporting. Ou seja, havia que coordenar a rescisão do contrato do jogador com o Valência e acordar os termos e condições, como os pagamentos. Ao mesmo tempo, haveria que acordar a transferência do jogador para o Sporting”, diz Veiga Gomes.
Principalmente na última década, o mercado evoluiu significativamente e apresenta-se hoje em dia com uma robustez e vigor muito interessantes.
“O Nani tinha mais um ano de contrato com o Valência. Houve ali uma negociação que é sempre complicada, em que todos querem ficar a ganhar e todos querem o melhor acordo possível”, relata o advogado. Contrato assinado e nem houve tempo para celebrar o desfecho do negócio, como sucede tantas vezes noutros casos: Nani meteu-se imediatamente num avião até à Suíça, onde a equipa leonina já realizava a pré-época.
Sociedades à boleia da expansão da indústria
Portugal é exemplo internacional no que toca ao futebol, sendo um dos maiores exportadores de talento para as principais ligas europeias. Casos concretos da última janela de transferências: o jovem Diogo Dalot saiu do FC Porto para o Manchester United de José Mourinho, por 24 milhões de euros; o nigeriano Peter Etebo proporcionou ao Feirense a maior das suas transferências ao ingressar no Stoke City, de Inglaterra, por sete milhões de euros.
Estas duas operações também passaram pelos escritórios da Abreu Advogados e por Fernando Veiga Gomes. De acordo com os dados compilados pelo siteTransfermarket, os clubes portugueses exportaram 200 milhões de euros no verão passado, aproveitando o enorme crescimento que o mercado de transferências tem vindo a protagonizar nas últimas décadas.
E as firmas de advocacia portuguesas também vão à boleia da expansão da indústria nos últimos anos, ganhando não só pelos serviços que prestam pela assessoria jurídica mas também pela maior notoriedade pública e mediática que os negócios do futebol conseguem promover atualmente.
Paulo Rendeiro lembra como há 14 anos o trabalho e as solicitações eram tão residuais que poucos arriscariam trabalhar numa área nada “apetecível” como era o direito desportivo quando ele se iniciou. Muito mudou desde então. “Principalmente na última década, o mercado evoluiu significativamente e apresenta-se hoje em dia com uma robustez e vigor muito interessantes”, sublinha o advogado da MLGTS.
Hoje em dia, uma transferência envolve mais pessoas. Podem chegar a estar 15 pessoas sentadas a uma mesa para negociar a transferência de um jogador. E aí o advogado tem um papel muito importante de mediador.
Para Fernando Veiga Gomes, a nova realidade do mercado de futebol e todos os milhões que a indústria movimenta anualmente vieram evidenciar o papel dos advogados nas transferências de jogadores. “Há 20 anos, tínhamos à mesa apenas o agente que representava o jogador e os representantes dos clubes. Hoje em dia, uma transferência envolve mais pessoas. Podem estar à mesma mesa os representantes do jogador, os representantes do clube, o representante da empresa que detém os direitos de imagem, patrocinadores, consultores fiscais…”, conta.
“Podem chegar a estar 15 pessoas sentadas a uma mesa para negociar a transferência de um jogador. E aí o advogado tem um papel muito importante de mediador”, concretiza.
Falhanços, negócios de última hora e pedidos excêntricos
Nem sempre as boas intenções e diligências dos advogados chegam para desobstruir as negociações entre clubes. Muitas vezes uma transferência pode arrastar-se até ao último minuto do último dia da janela de transferências, deixando os advogados à beira de um ataque de nervos.
“Muitas vezes os negócios estão encravados durante dias e chega o último dia e a necessidade de vender ou de comprar desbloqueia a transação e lá nos vemos a terminar a digitalizar documentos para o TMS [Transfer Matching System, a plataforma online através da qual a FIFA monitoriza todas as transferências mundiais] às 23h59 do dia 31 de agosto ou a enviar contratos segundos antes de o avião deslocar”, indica Paulo Rendeiro. “São situações de extrema pressão, com o tempo contadíssimo e onde, não obstante todas as condicionantes, não podemos errar”, acrescenta.
Noutros casos, o falhanço é mesmo inevitável, principalmente quando vai contra a vontade do jogador. “Nunca vi nenhum negócio concretizar-se contra a vontade do jogador. Sobretudo a este nível, em que falamos de jogadores com craveira internacional e que sabem muito bem o que querem”, revela Fernando Veiga Gomes.
E há pedidos excêntricos da parte dos jogadores de futebol? “Alguns exigem casa, outros pedem passagens de aviões em executiva, passagens para as suas famílias ou carros”, confidencia o sócio da Abreu Advogados. O advogado frisa, porém, que os jogadores de futebol “são extremamente humildes e acessíveis”. “Querem é jogar, querem o melhor para eles e para as suas famílias. São pessoas que não têm nada a ver com a imagem que às vezes se passa”, destaca Veiga Gomes.
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