Em apenas cinco meses, metade da dívida portuguesa com taxas negativas passou a ter juros positivos
Política monetária do BCE, mas também a crise em Itália, estão a agravar os juros da dívida. Portugal não escapa à pressão: metade da dívida com taxas negativas passou a ter juros positivos.
Portugal ainda tem uma boa parte da sua dívida com taxas negativas. Mas o montante de títulos nacionais com juros abaixo de zero tem vindo a encolher-se de uma forma expressiva nos últimos meses. Com o aproximar do fim do programa de compras do Banco Central Europeu (BCE), mas também com o clima de tensão entre Roma e Bruxelas a provocar turbulência nos mercados, mais de 20 mil milhões de euros em dívida da República portuguesa passaram a apresentar juros positivos desde abril, numa tendência de inversão das taxas que não se verifica apenas no mercado português.
Em concreto: um total de 18,8 mil milhões de euros em títulos nacionais transacionáveis apresentava taxas de juro abaixo de zero no final de setembro, correspondendo a cerca de 15% do total da dívida portuguesa no mercado, segundo dados fornecidos pela plataforma Tradeweb ao ECO. Mas, poucos meses antes, em abril, Portugal tinha o dobro da dívida com yields negativas: aproximadamente 39 mil milhões de euros, representando 31% do total da dívida. Esta evolução reflete a mudança do comportamento dos investidores em apenas cinco meses, que hoje em dia revelam mais dificuldade em aceitar perder dinheiro com dívida portuguesa.
Nos últimos meses tem sido evidente o agravamento das taxas de juro portuguesas no mercado secundário — que serve de referência para os leilões do IGCP. Por exemplo, a taxa de juro dos títulos a 10 anos de Portugal voltou a superar a fasquia dos 2%, algo que não acontecia desde maio, num agravamento que já se faz sentir no custo da dívida da República. O IGCP foi ao mercado levantar 782 mil milhões de euros pagando mais por essa emissão. Por outro lado, desde o mês passado que as obrigações do Tesouro portuguesas a três anos deixaram apresentar rendibilidades negativas e hoje em dia os investidores exigem uma taxa de 0,1% para deter estes títulos.
Juros portugueses acima de 2%
Fonte: Reuters
Lá fora o cenário é semelhante. Na Zona Euro, a percentagem de dívida pública com juros negativos representa agora apenas 33% do total da dívida, o valor mais baixo desde que a Tradeweb recolhe estes dados, quando em agosto mais de 37% da dívida dos Estados membros dava “prejuízo” os investidores.
A segunda metade de 2018 tem marcado uma inversão na tendência nos juros das obrigações em todo o mundo, à boleia das políticas monetárias dos bancos centrais mais conservadoras: o BCE anunciou em junho que iria deixar de comprar dívida a partir de janeiro e a Reserva Federal norte-americana já subiu por três ocasiões as taxas diretoras para controlar os preços — tendo já prometido mais quatro subidas em 2019. Do outro lado do Atlântico, as treasuries americanas a 10 anos estão a registar por estes dias as yields mais elevadas em mais de sete anos com a pressão da inflação (os preços deverão subir perante o bom momento da economia) a deixar antever novas subidas de juros por parte de Jerome Powell.
Mas nas últimas semanas uma nova fonte de pressão adensou as tensões nos mercados: Itália. Roma e Bruxelas estão em rota de colisão por causa do Orçamento do Estado italiano que o Governo da Liga Norte e do Movimento 5 Estrelas pretendem aprovar e ao qual a Comissão Europeia torce o nariz porque pode deixar a terceira maior economia da Zona Euro em apuros. Esta terça-feira, um analista da agência Moody’s disse ao La Stampa que o orçamento italiano é um “erro”, o que fez soar os alarmes em relação ao rating do país.
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