“Plano Timmermans” para a liderança da Comissão terá passado por Lisboa

Ex-presidente do Parlamento Europeu, o alemão Martin Shulz, disse que ligou ao primeiro-ministro português a propor a ideia que os líderes negoceiam em Bruxelas. Permite saída airosa a Manfred Weber.

De Berlim a Osaka, passando por Lisboa. Terá sido assim que o plano para colocar o socialista holandês Frans Timmermans como novo presidente da Comissão Europeia foi concebido, pelo menos de acordo com o relato do antigo presidente do Parlamento Europeu, Martin Shulz.

Em declarações ao Politico, o agora deputado alemão, que perdeu a corrida à chanceleria alemã para Angela Merkel nas últimas eleições legislativas alemãs no final de 2017, e a liderança do seu partido logo de seguida, disse que ligou ao primeiro-ministro português, António Costa, a propor a solução.

Segundo Martin Shulz, no telefonema a António Costa o alemão terá proposto dar a garantia ao alemão Manfred Weber, o cabeça-de-lista escolhido pelo Partido Popular Europeu (PPE) – o mais votado nas últimas eleições – de que seria presidente do Parlamento Europeu durante cinco anos, o dobro do mandato atual.

Em troca, Manfred Weber teria de ajudar Frans Timmermans a conseguir o apoio dos membros do PPE, relutantes com a hipótese de colocar um socialista na liderança da Comissão Europeia.

O plano permitiria a Weber uma saída graciosa e manter vivo o processo do spitzenkandidaten – a eleição do cabeça-de-lista da família política europeia com mais votos para presidente da Comissão Europeia.

Em Osaka, no final da semana, Angela Merkel terá conversado com o presidente francês, Emmanuel Macron, e os primeiros-ministros da Holanda, Mark Rutte — que lidera as negociações pelos liberais), e de Espanha, Pedro Sanchéz – que lidera as negociações pelos socialistas –, onde chegaram a um acordo de princípio.

O PPE não teria a Comissão Europeia, mas conseguiria o Parlamento Europeu e a presidência do Conselho Europeu, afastando os liberais dos cargos mais importantes depois da disputa acesa com Emmanuel Macron, que exigiria a presidência do Banco Central Europeu. O holandês Mark Rutte, apesar de ser liberal, não iria contra um holandês na presidência da Comissão Europeia e Pedro Sanchéz conseguiria um socialista na presidência da Comissão.

No entanto, o acordo dos principais líderes não teve acolhimento entre os restantes, especialmente entre os países da Europa central e os membros do Partido Popular Europeu.

O grupo de Visegrado – Polónia, Hungria, República Checa e Eslováquia – manifestou desde logo o seu desacordo, depois das disputas mais acesas durante a última Comissão sobre a aplicação da lei comunitária, especialmente com a Polónia e a Hungria.

Também outros chefes de Governo que fazem parte do PPE manifestaram a sua oposição, tais como os primeiros-ministros da Croácia e da Irlanda, assim como a Itália, que disse que não estava disposta a ceder a liderança da Comissão Europeia a um socialista, como disse Matteo Salvini, ministro do Interior e um dos líderes da coligação governamental italiana.

Essa oposição levou Donald Tusk a suspender a reunião do Conselho Europeu apenas duas horas depois de ter começado, para negociações bilaterais que envolveram muitos nomes em cima da mesa.

Depois de uma noite sem ir à cama, os líderes europeus voltaram a reunir-se para um pequeno-almoço, com a hipótese de Frans Timmermans ainda em cima da mesa, mas com oposição mais do que suficiente para que o nome do holandês seja chumbado pelos líderes.

Donald Tusk terá transmitido que pelo menos nove países estariam contra a nomeação de Frans Timmermans, sendo que ao abrigo da maioria reforçada exigida para fazer esta escolha, o holandês pode ter no máximo a oposição de sete países e os restantes 21 têm de votar favoravelmente e representar pelo menos 65% da população da União Europeia.

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