Porque é que a banca portuguesa não pede dinheiro ao BCE? Não tem empresas para dar crédito
Tanto na Zona Euro como em Portugal, cerca de metade dos bancos participaram nas duas rondas de financiamento de baixo custo do BCE, mas as razões para entrarem ou não é que foram muito diferentes.
Metade dos bancos, tanto em Portugal como na Zona Euro, participaram nas duas rondas de operações de refinanciamento de prazo alargado direcionadas (TLTRO, na sigla em inglês) do Banco Central Europeu (BCE). O que foi diferente no país foram as razões para decidirem ou não entrar. É que em Portugal, a principal causa para os bancos não querem os empréstimos de baixo custo do BCE foi a falta de empresas a quem dar crédito.
“A taxa de participação das instituições nas TLTRO varia de trimestre para trimestre, sendo em média cerca de 50%, tanto em Portugal como na área do euro. No entanto, as razões para participar ou não nas operações são bastante diferentes. Para os bancos portugueses inquiridos a principal razão para participarem deve-se ao cumprimento de requisitos de liquidez“, revela o Inquérito aos Bancos sobre o Mercado de Crédito, divulgado pelo Banco de Portugal.
No conjunto de medidas não convencionais de política monetária destinadas a apoiar a concessão de crédito à economia real, o BCE lançou duas série de TLTRO (em setembro de 2014 e junho de 2016). Em março deste ano, o banco central anunciou mais uma série, o TLTRO-III, que vai decorrer entre setembro de 2019 e março de 2021, num total de sete operações.
O Banco de Portugal questionou agora os bancos sobre o que fizeram com os fundos recebidos nas duas primeiras rondas e concluiu que foram usados para “colmatar as necessidades de refinanciamento, nomeadamente como uma alternativa a outras operações de cedência de liquidez do Eurosistema”.
Já na Zona Euro, o principal motivo foi a rendibilidade e a finalidade dos fundos obtidos foi a concessão de empréstimos a empresas. O problema é que, em Portugal, os bancos não encontraram empresas para dar crédito e, por isso, houve quem decidisse não recorrer a estes empréstimos.
“Para algumas instituições [portuguesas] a principal razão foram as preocupações relacionadas com uma insuficiente procura de crédito, enquanto outras referiram a ausência de restrições de financiamento ou a existência de uma posição de liquidez confortável. Na área do euro este último fator é o que assume a maior importância, sendo os outros fatores relativamente residuais”, acrescenta o Banco de Portugal.
A análise indica que os bancos da Zona Euro que participaram no TLTRO-II registaram um maior crescimento do crédito, principalmente em países vulneráveis. Por um lado, estimulam a banca a desempenhar o seu papel de fornecer de crédito à economia e, por outro, equilibram o impacto negativo das taxas de juro em mínimos históricos para a rentabilidade dos bancos, numa altura em que a possibilidade de os juros cair ainda mais não está fora de questão.
O presidente Mario Draghi disse, no mês em Sintra, que o BCE está pronto a adotar estímulos adicionais caso o outlook económico não melhore. Esta quinta-feira, o Conselho de Governadores irá reunir-se pela primeira vez desde estas declarações e a expectativa do mercado é que anuncie novas medidas.
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