Desvalorização do yuan afunda bolsas e petróleo. Dívida, ouro e bitcoin brilham

"Guerra" entre as duas maiores economias do mundo voltou a subir de tom. Bolsas afundam, petróleo também, mas, nos mercados, nem todos foram perdedores.

A guerra (que começou como comercial, mas ganhou contornos de cambial) entre EUA e China afundou as bolsas mundiais, levando o petróleo atrás. Se nada nos mercados financeiros ficou indiferente à resposta chinesa às novas tarifas de Donald Trump, com a desvalorização do yuan, nem todos os ativos foram penalizados. Juros das dívidas, ouro e moedas de refúgio, bem como as virtuais, registaram fortes valorizações.

As taxas de câmbio do yuan chinês face ao dólar norte-americano quebraram esta madrugada a barreira psicológica de sete yuans para um dólar, para a cotação mais baixa desde abril de 2008. O Banco Popular da China rejeitou a ideia que irá “envolver-se numa desvalorização competitiva” ou “usar a taxa de câmbio para fins competitivos”, mas não negou que o enfraquecimento do yuan estivesse relacionada com a guerra comercial.

Na semana passada, o presidente dos EUA anunciou novas tarifas aduaneiras de 10% a importações da China avaliadas em 300 mil milhões de dólares. “A China afundou o preço da moeda praticamente para mínimos históricos. Chama-se ‘manipulação cambial’. Está a ouvir Reserva Federal dos EUA? Esta é uma violação enorme, que irá a prazo enfraquecer muito a China”, acusou Trump, no Twitter.

Ações europeias no valor mais baixo em dois meses

Em reação à escalada do conflito entre as duas mega potências mundiais, os mercados acionistas afundaram. As bolsas asiáticas caíram para mínimos de um mês e Wall Street segue com perdas próximas de 2%. Na Europa, a sessão foi igualmente no vermelho com o índice pan-europeu Stoxx 600 a perder 2,2% para mínimos de dois meses. O alemão DAX recuou 1,7%, o francês CAC 40 cedeu 2,2%, o italiano FTSE MIB desvalorizou 1,3%, o espanhol IBEX 35 caiu 1,4% e o britânico FTSE 100 tombou 2,5%.

Portugal não foi exceção e o índice PSI-20 derrapou 1,07% para 4.851,53 pontos para o valor de fecho mais baixo desde 3 de janeiro, com a Mota-Engil — cotada especialmente exposta aos mercados internacionais — a liderar as quedas. A construtora afundou 4,66% para 1,65 euros por ação.

As papeleiras, cujo setor tem com maior comprador a China, também castigou: a Navigator perdeu 2,07% e a Altri 1,19%. Entre os restantes pesos-pesados do índice, o BCP recuou 1,31%, a Jerónimo Martins 1,27% e tanto a EDP como a EDP Renováveis 0,96%.

A Galp Energia perdeu 1,08%, em linha com o sentimento no setor. O impacto da guerra entre EUA e China na economia global e, consequentemente, na procura por petróleo levou os preços da matéria-prima a cair. Em Londres, foram 2,26% para 60,49 dólares por barril de Brent e, em Nova Iorque, 0,72% para 55,26 dólares por barril de crude WTI.

“A China puxou da arma taxa de câmbio e desvalorizou o yuan face ao dólar. Reinicia a guerra cambial, mostrando que também tem cartas na manga”, afirmou Carla Maia Santos, sales team leader da corretora XTB. Já a ActiveTrades lembra que “abrir uma nova frente na guerra comercial entre os dois blocos irá contribuir para inflamar ainda mais uma situação” que ameaça o crescimento da economia global. “Será, assim, provável que esta desvalorização do yuan seja apenas um aviso por parte da China, não sendo de esperar que o declínio persista”, referiram os analistas.

No meio do medo, refúgio ganha

O índice que mede a volatilidade nos mercados, o VIX, disparou e atingiu neste contexto o valor mais elevado desde maio. Mas nem todos os ativos perdem. Os investidores procuraram refúgio na dívida, especialmente (mas não só) a alemã. As Bunds a dez tocaram a yield mais baixa de sempre, nos -0,537%, mantendo-se negativas a 30 anos. A Holanda também já tem toda a dívida até aos 30 anos abaixo de 0%.

No caso de Portugal, o juro da dívida benchmark caiu para 0,262% durante a sessão, também no valor mais baixo de sempre e próximo dos 0,211% pedidos pelos investidores a Espanha.

Além das obrigações soberanas, o ouro acentuou os ganhos que registava há várias semanas. Desde abril de 2013 que o metal precioso não valia tanto, depois de um ganho de 1,5% na sessão.

O franco suíço segue igualmente em alta, para máximos de um mês e meio. Nos refúgios cambiais, o franco suíço e o iene japonês acompanharam os ganhos, enquanto nas criptomoedas, a bitcoin disparou mais de 8% para 11.770 dólares.

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