BCE aperta o cerco às criptomoedas apesar de ver um “mercado resiliente”

A dificuldade em agregar dados sobre o mercado levou bancos centrais e institutos estatísticos a unirem-se. Vão trabalhar em conjunto para perceber as implicações para a economia real.

O mercado cripto é “resiliente” e os riscos para a estabilidade do sistema financeiro estão limitados. Apesar de ter esta posição, o Banco Central Europeu (BCE) está preocupado com a interligação entre ativos digitais e economia real e decidiu, por isso, unir-se a outros bancos centrais para conseguir fazer um controlo mais apertado.

“À luz das implicações que podem ter para a estabilidade e eficiência do sistema financeiro e da economia, bem como para o cumprimento das funções do Eurossistema, os cripto-ativos justificam monitorização contínua. Com esse objetivo, o BCE criou uma base de dados”, revelou a instituição liderada por Mario Draghi, acrescentando que os bancos centrais da Zona Euro estabeleceram uma “rede informal” de informação para analisar opções.

Na publicação Understanding the crypto-asset phenomenon, its risks and measurement issues, divulgada esta quarta-feira pelo BCE, é explicado que as entidades estatísticas estão a começar a analisar a classificação a dar aos ativos cripto nas contas nacionais, o que tem implicações significativas na medição no produto interno bruto dos países, bem como de outros indicadores económicos.

Lembrou que mantêm-se “importantes falhas e desafios”. Entre elas, incluem-se a exposição das instituições financeiras a ativos cripto, conexão entre setores financeiros e pagamentos. Segundo o BCE, os desafios na medição do “fenómeno cripto” são diversos e relacionados tanto com dados dentro da rede cripto, como fora.

O banco central encontrou dificuldades em quantificar segmentos do mercado cripto que se mantêm fora do radar das autoridades pública. Se as transações on-chain são registadas diretamente na rede blockchain, as off-chain ficam a cargo de instituições como plataformas de trading ou redes privadas de utilizadores. As primeiras estão a aumentar, mas essa é apenas uma visão parcial do mercado já que as segundas não são tão facilmente contabilizadas.

Além disso, plataformas de trading mais ilíquidas são mais permeáveis a atividades ilícitas e não existe consistência metodológica nos dados entre as instituições. Estes fatores fazem com que seja difícil avaliar o mercado como um todo.

Transações on-chain são apenas uma pequena parte do mercado

Fonte: BCE

“O sistema financeiro poderá estar sujeito a riscos dos cripto-ativos na medida em que ambos estão interligados. Os efeitos de contágio poderão ser transmitidos para a economia real. Em particular, os cripto-ativos poderão ter implicações para a estabilidade financeira e interferir com o funcionamento dos pagamentos e das infraestruturas dos mercados, bem como para a política monetária”, alerta o BCE.

A análise do banco central indica que os riscos estão atualmente “contidos”, mas também que é necessário acautelar o futuro. Desde a emergência da bitcoin, que deu lugar a todo um mercado que conta atualmente com 2.429 criptomoedas e uma capitação de 311,5 mil milhões de dólares, que o BCE e vários outros bancos centrais globais têm reiterado que estes não são ativos financeiros.

Têm, ainda assim, acompanhado o desenvolvimento do mercado e sobre os riscos que comporta. O caso mais recente é o da Libra, a criptomoeda que o Facebook quer lançar na primeira metade do próximo ano. Draghi apontou para “preocupações com cibersegurança”, enquanto o homólogo norte-americano, Jerome Powell da Reserva Federal dos EUA, garantiu querer analisar a criptomoeda antes de o projeto avançar por ter “muitas preocupações” sobre o projeto do Facebook.

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