Metade dos países do euro já têm dívida a 10 anos com juros negativos. Portugal está cada vez mais perto
A dívida portuguesa ainda não se juntou ao grupo que conta já com dez países da Zona Euro, mas está a apenas 0,1%, numa altura em que a rede do BCE tem comprimido os retornos das obrigações.
Parece não fazer sentido, mas há quem pague para deter em carteira dívida. E não são poucos os casos. Com o Banco Central Europeu (BCE) a colocar a taxa de juro dos depósitos negativa, acaba por compensar a grandes investidores deterem obrigações de Estados mesmo que estes tenham yields negativas. Na Zona Euro, este grupo já inclui dez países.
Há mais de 15 biliões de euros em obrigações com yields negativas a nível global. Na Zona Euro, dez dos 19 países estão com dívida benchmark, — ou seja, obrigações a dez anos — a negociar com juros negativos. Tanto Portugal como Espanha ainda estão de fora, mas estão cada vez mais próximos dessa barreira.
Nunca Portugal tinha tido juros tão baixos. Entre 1996 e março de 2011, foi, em média de 5,7% e esteve sempre abaixo de 10%. No entanto, atingiu o pico mais elevado de sempre em janeiro de 2012: 16,42%. Desde a crise, a yield tem vindo a cair progressivamente, tendo negociado abaixo de 1% pela primeira vez a 24 de maio.
Um mês depois, quebrava a barreira dos 0,5%. A yield da dívida portuguesa a dez anos negociou esta quarta-feira em apenas 0,08%, cada vez mais próximo dos 0,05% pedidos pelos investidores a Espanha.
Além do crescimento económico e da recuperação das contas públicas, tem sido principalmente a conjuntura internacional a causar a quebra. Por um lado, os estímulos monetários do Banco Central Europeu e, por outro, o receio de uma recessão económica que tem aumentado o apetite por dívida pública. Assim, a tendência de queda nas yields, que se acentuou desde junho, é generalizada.
Yield de Portugal abaixo de 0,1%
Fonte: Reuters
Bunds são refúgio, mas lista é cada vez maior
A Holanda desde maio, Áustria desde junho e Bélgica, França e Eslováquia desde julho têm juros negativos na dívida a dez anos. Em agosto foi a vez da Eslovénia e da Irlanda que, a par de Portugal e Espanha foi dos países mais penalizados pela crise e chegou a negociar com juros acima de 11%. A Finlândia, que já tinha os títulos a dez anos negativos, ficou, esta quarta-feira, com todas as obrigações até aos 30 anos neste nível.
Na mesma situação está a Alemanha, mas este é um caso diferente. Vistas como ativo refúgio, as Bunds são tipicamente procuradas pelos investidores em situações de stress nos mercados. Ao longo do verão de 2016, os títulos a dez anos estiveram com juros negativos, tendo voltado a subir — acima de 0,50% — no início de 2018, quando se pensava que o BCE ia parar os estímulos.
Os investidores perceberam entretanto que não seria assim e que o BCE não vai tirar o tapete aos países da Zona Euro tão cedo. O juro voltou em março deste ano para terreno negativo e assim se mantém atualmente em todos os prazos até aos 30 anos. O país protagonizou mesmo, há uma semana, a primeira emissão, de sempre a nível mundial, de títulos com este prazo a juros negativos.
Também o Luxemburgo é um caso diferente, já que a maior parte da dívida é de curto prazo e os títulos com maturidade mais longa tem nove anos. De qualquer forma, toda a curva está também com juros negativos e este país fecha o lote de 10 países da Zona Euro nesta categoria. Mesmo quem não tem yields negativas, os retornos têm caído de forma expressiva.
Problemas na Grécia e Itália não impedem queda
Ao fim de ciclo económico e ao impacto da guerra comercial na economia global, juntou-se a inversão da curva de rendimentos nos Estados Unidos. Os juros a pagar pela dívida a dois anos em níveis superiores à da dívida a dez anos aumenta os receios dos investidores de que uma recessão estará próxima. Nos últimos 50 anos, sempre que houve uma recessão esta inversão na curva aconteceu.
Assim, países como Chipre, Lituânia, Letónia ou Malta têm visto também os prémios a caírem. Nos casos de Itália e Grécia, além da conjuntura internacional, existem ainda situações de exceção. A Grécia celebrou a 20 de agosto um ano de saída limpa do programa de ajuda financeira e, nesse espaço de tempo, o juro caiu de 4% para menos de 2%.
Já Itália, que se viu a braços com uma rejeição inédita do Orçamento do Estado por parte de Bruxelas e que desafiava não cumprir as metas orçamentais europeias, perdeu durante o verão o Governo. Apesar da instabilidade política no país, as perspetivas de acordo levaram o juro da dívida benchmark, esta quarta-feira, pela primeira vez, abaixo de 1%.
A pressão sobre os retornos não significa necessariamente que os investidores estão a perder dinheiro até porque a política monetária expansionista dura há vários anos e os mercados têm de encontrar alternativas para ganhar. Por um lado, poderão manter os títulos em carteira e esperar que valorizem (desde que não cheguem à maturidade) e, por outro, o mercado de swaps ou futuros cambiais permitem conseguir mais-valias com dívida negativa.
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