Paga TV mas só quer Netflix. Compensa cortar o cabo?

A maioria dos pacotes de comunicações obriga a ter um serviço de TV que muita gente não usa desde que chegou a moda do streaming. A alternativa é cortar e só ter internet. Mas será que compensa?

Está na altura de cortar o cabo da televisão… ou talvez não.Hugo Amaral/ECO

Os pacotes têm uma coisa boa e uma coisa má. Juntam vários serviços numa só mensalidade, mas obrigam os clientes a pagarem coisas que muitas vezes nem usam. É assim nas telecomunicações. Nem todos tiramos o máximo rendimento dos serviços que contratamos em pacote e não é difícil encontrar alguém que paga telefone mas não usa, paga televisão mas não vê.

Após uma análise atenta aos serviços que usam, muitos consumidores apercebem-se de que as chamadas que fazem é com o telemóvel, ou que só ligam a televisão para ver séries em streaming. E, por estas razões, não precisam mais do que de uma ligação à internet. Após fazerem as contas, percebem que a televisão por cabo é dos serviços mais caros do pacote e que está na altura de cortar no que não é preciso.

Mas será que vale a pena cortar o cabo da box, ficar só com a internet em casa e pagar, antes, uma subscrição da HBO ou da Netflix? Em certos casos, a resposta é um “sim”. Mas cada caso é um caso. Por isso, a resposta mais acertada é um “talvez”. O principal problema é que a maioria das operadoras não vende a internet em separado, ou é demasiado cara para compensar o custo de oportunidade de não ter TV por cabo em casa.

Só internet mais streaming desde 24,99 euros

Vamos testar cenários? Imagine que vive num sítio com fibra da Nos. As ofertas comerciais consultadas pelo ECO mostram que deve conseguir pôr só internet em casa por 26,99 euros por mês, a uma velocidade de 100 Mbps, mais do que suficiente para ver filmes e séries em muito alta definição. Se tiver uma TV moderna, somando o custo do catálogo da HBO de 4,99 euros por mês, pagará um valor mensal total de 31,98 euros.

Tendo em conta esse cenário, não ter TV em casa significa uma poupança de três euros por mês, tendo em conta os 29,99 euros que custam o pacote da Nos com TV, internet e telefone. Ao fim de um ano, são 36 euros de poupança, mais do que uma mensalidade do pacote de telecomunicações com três serviços.

Compensa? Depende do ponto de vista. É que no cenário analisado, pagando mais três euros por mês, teria acesso à 120 canais de televisão linear. É um pequeno preço que poderá compensar o custo de oportunidade. Ou seja, são apenas mais três euros para ter TV em casa que, um dia, até pode dar jeito para ver em casa aquele jogo de futebol da seleção. Se compensa ou não, só o leitor o pode dizer.

 

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Outro exemplo, desta vez com a Nowo. A antiga Cabovisão permite uma poupança mais significativa se quiser ter só internet em casa e subscrever a HBO ou a Netflix. O problema é que a cobertura da Nowo é muito, muito limitada à escala do país. Mesmo assim, analisemos um cenário em que tem acesso à fibra da Nowo, a 120 Mbps. Pagará 20 euros por mês para ter só internet em casa.

Somando o custo da HBO, pagaria no total 24,99 euros por mês para ter o catálogo na sua smart TV. São menos 6,99 euros do que a opção da Nos (dica: paga uma subscrição do Spotify) e fica com internet ainda mais rápida. Mas, uma vez mais, se tiver cobertura da Nowo, pagaria 22,50 euros por um pacote com a mesma internet e com 90 canais de televisão. Neste caso, o pacote mais o serviço da HBO ficaria a 27,49 euros.

Novamente, ter TV em casa apenas custaria um valor reduzido, na ordem dos 2,5 euros por mês. Um preço que poderá compensar o custo de oportunidade.

 

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O ECO sondou ainda as ofertas da Meo. No caso da operadora da Altice, um primeiro assistente referenciou uma oferta comercial só com internet, a 23,99 euros por mês, mas o ECO não conseguiu confirmar este valor. Isto porque um segundo assistente, contactado, garantiu que a empresa não comercializa acessos à internet a não ser em pacote. Por isso, segundo dados consultados pelo nosso jornal, o mais semelhante seria um pacote com internet e telefone, por 27,99 euros, um euro mais caro do que a oferta da Nos.

Também no caso da Vodafone, a operadora não comercializa apenas internet. A alternativa mais semelhante é, novamente, o pacote com internet e telefone, por 25,90 euros. É mais barato do que a alternativa da NOS, mas a velocidade é apenas de 30 Mbps e obriga a ter telefone em casa. Ainda assim, em ambos os casos, o leitor é que decide o que faz mais sentido em cada caso. Ou casa.

Opções são caras. “Não haverá grande ganho em ter só internet”, reconhece a Deco

A análise do ECO permitiu apurar que só a Nos e a Nowo publicitam ofertas comerciais só com internet fixa. “Custa-me compreender a resistência” das operadoras, comenta o advogado Tito Rodrigues, responsável jurídico da Deco, a associação de defesa do consumidor. Nesta altura do campeonato, seria expectável existirem soluções mais adequadas ao público mais jovem, que “muitas vezes não têm interesse nas soluções integradas”, sublinha.

Lembrando que a Nos e a Nowo têm opções comerciais só de internet, o especialista em telecomunicações da Deco aponta, no entanto, que estas “provavelmente” não respondem à “expectativa de velocidade e preço” dos consumidores. As empresas de telecomunicações “acabam por entregar o 3P [triple play, isto é, um pacote com três serviços, como TV, internet e telefone] que acaba por ser mais vantajoso em termos de preço. No fundo está a retirar valor”, remata.

“As opções só de internet são de facto caras. Tirando a da Nowo, as outras opções [só de internet ou com 2P] são todas com valores superiores. Ficamos muito próximos das opções acima de um 3P. Do ponto de vista de casmurrice de um consumidor que queira apenas internet, não haverá grande ganho em ter só internet”, brinca o responsável da Deco.

Do ponto de vista de casmurrice de um consumidor que queira apenas internet, não haverá grande ganho em ter só internet.

Tito Rodrigues

Responsável jurídico da Deco

Ao nível do mercado, os preços têm-se mantido relativamente semelhantes nas diferentes operadoras e Tito Rodrigues não foge desse facto: “Há harmonização de preços. O mercado foi bastante dinâmico até à maturidade, há cerca de cinco anos”, aponta. A não disponibilização de ofertas só com internet, por exemplo, é também uma forma de estas empresas “defenderem as suas quotas de mercado” e protegerem as receitas numa altura em que se prevê que tenham de fazer investimentos avultados no lançamento do 5G.

Por fim, Tito Rodrigues recorda que a lei da defesa do consumidor “proíbe” as operadoras de fazerem depender a contratação de um determinado serviço à aquisição de outros serviços e produtos. Ou seja, na prática, se reclamar junto da operadora, esta é obrigada a vender a internet sem pacote. Reconhecendo que as operadoras “não publicitam” essa informação, o especialista aponta, contudo, que o valor cobrado pelas operadoras nestes casos “é de tal maneira disparatado” que deixa de fazer sentido “escolher aquele serviço” de um ponto de vista económico.

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