Afinal, quanto vale a Saudi Aramco? 1,2, 2 ou 2,3 biliões?

O reino saudita defende que a petrolífera vale 2 biliões de dólares (e quer convencer os investidores disso). Os analistas não parecem tão otimistas, mas as estimativas variam muito.

Três anos depois do anúncio inicial, a Arábia Saudita está a finalizar os pormenores daquela que poderá ser a maior oferta pública inicial (IPO, na sigla em inglês) de sempre. A petrolífera estatal Saudi Aramco — que o reino saudita diz valer 2 biliões de dólares — vai divulgar o prospeto da operação no próximo sábado e só então serão conhecidos detalhes. As avaliações são díspares, mas quase todas indicam que a estimativa é demasiado otimista.

É difícil ter uma avaliação independente da Saudi Aramco, tendo em conta que mais de 20 bancos foram contratados para trabalhar na operação de dispersão em bolsa. E entre estes, há números para todos os gostos. Há mesmo um intervalo superior a um bilião de dólares entre as avaliações mais otimistas e as mais conservadoras.

No máximo, a petrolífera — que lucrou 111 mil milhões de dólares em 2018 e recebeu o título de empresa mais rentável do mundo — poderá ter uma avaliação entre os 1,2 biliões de dólares (como espera o Bank of America) ou os 2,3 biliões (como antecipam o Goldman Sachs e… o próprio Bank of America).

O único banco, cuja estimativa é conhecida, que não está na operação é o Berstein, que aponta para um intervalo entre 1,2 e 1,5 biliões de dólares. Independentemente do número para que se olha, é muito pouco provável que a Saudi Aramco falhe a classificação de empresa cotada mais valiosa do mundo. A meta de 2 biliões de dólares significa quase o dobro da Microsoft (cotada mais valiosa atualmente) e sete vezes a Exxon Mobil Corp (petrolífera com maior capitalização de mercado). À escala nacional, a Saudi Aramco pode valer 180 vezes a petrolífera portuguesa Galp Energia.

Dois bancos vão mais longe que o próprio reino

Fonte: Reuters (* bancos implicados na operação)

Os analistas estão a tentar avaliar a empresa a partir de vários indicadores, seja recorrendo às contas da empresa, ao preço do petróleo, mas também a tentar perceber até que ponto está o reino disposto a cativar investidores. Por um lado, os lucros afundaram 18% nos primeiros nove meses de 2019, apesar de ainda terem sido 68,2 mil milhões (mais que a empresa cotada com maiores lucros, a Apple) entre janeiro e setembro.

Os resultados da empresa não especificavam a razão para esta quebra, mas, no mesmo período, o preço do crude caiu 11%. Foi também no final desse período que a petrolífera sofreu um ataque, que afetou metade da produção durante parte do mês de setembro. Esse é outro ponto importante: grande parte das estimativas dos bancos tem por base que o preço do barril irá manter-se acima dos 60 dólares e que a Aramco irá aumentar a capacidade de produção até 2021.

Por último, há ainda o príncipe Mohammed bin Salman como variável na operação. O reino pretende uma avaliação de 2 biliões de dólares, que lhe permita captar 100 mil milhões de dólares pela venda de 5% do capital. Após a aprovação final da operação no domingo, sabe-se agora que a dispersão — incluída no plano de reformas económicas conhecido como Vision 2030 — deverá acontecer por partes.

Para aumentar o apetite dos investidores, a Aramco anunciou que irá pagar impostos de 20% do negócio downstream (em comparação com os atuais níveis acima de 50%), deixando antever uma subida dos lucros que acabará por se transformar em dividendos. Mas o empenho do reino não terá ficado por aí.

A Reuters noticiou esta segunda-feira que gestores de topo da empresa estão a fazer um sprint final de reuniões com grandes investidores para os convencer que a petrolífera vale 2 biliões de dólares. O CEO Amin Nasser terá reuniões marcadas ao longo da semana em Londres e Nova Iorque, acrescentou a agência. Falhar a meta irá implicar escolher entre avançar com uma avaliação mais baixa ou adiar novamente a operação.

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