Cancelamento de voos, profit warnings e até despedimentos. Coronavírus faz tremer companhias aéreas

Associação Internacional de Transportes Aéreas aponta uma perda de 63 mil milhões a 113 mil milhões de dólares em receitas devido ao surto. Só na Europa, a quebra estimada é de 9% ou 6,6 mil milhões.

O turismo está no topo dos setores afetados pelo coronavírus. E o problema já se está a refletir nas companhias aéreas, tanto a nível nacional, com a TAP, como no mercado europeu e no resto do mundo. Estão a aplicar planos de contingência agressivos, que incluem reduções de voos, cortes de custos e até despedimentos.

A TAP anunciou o cancelamento de mil voos em voos com menor procura após o “quebras significativas” nas reservas para março e abril. A companhia aérea está a também a tomar outras medidas de ajustamento ao impacto do surto nas receitas, incluindo suspensão de investimentos não urgentes, corte de custos, renegociação de contratos e prazos de pagamento, bem como a antecipação de crédito junto de fornecedores.

No que diz respeito aos trabalhadores, suspendeu novas contratações ou admissões e lançou um programa de licenças sem vencimento temporárias. A empresa liderada por Antonoaldo Neves decidiu ainda colocar em standby alguns eventos, nomeadamente a celebração do 75.º aniversário da companhia.

A TAP não é, no entanto, caso único. Várias companhias europeias e não só anunciaram cancelamento de voos, em especial para regiões mais afetadas como é o caso da China ou, na Europa, de Itália. Isto numa altura em que a Associação Internacional de Transportes Aéreas (IATA, na sigla em inglês) aponta uma perda entre 63 mil milhões e 113 mil milhões de dólares em receitas globais da indústria devido ao coronavírus. Só na Europa, a quebra estimada é de 9% ou 6,6 mil milhões de dólares.

Ásia é o mercado mais afetado. Europa poderá perder 6,6 mil milhões

Fonte: Associação Internacional de Transportes Aéreas | Nota: dados não cumulativo devido a sobreposições de mercados

“Os desenvolvimentos resultantes do Covid-19 não tem precedentes. Em menos de dois anos, as perspetivas na indústria em grande parte do mundo deram uma volta dramática”, alerta Alexandre de Juniac, diretor-geral e CEO da IATA, em comunicado. Considera que o impacto é “incerto”, mas que há certamente uma “crise”.

A crise já teve a primeira baixa: a companhia aérea regional britânica Flybe anunciou esta quinta-feira que cessou todas as atividades com efeito imediato e entrou em liquidação judicial, na sequência do surto do novo coronavírus. E as principais companhias aéreas estão a adotar medidas de contingência. Essas são as principais:

  • Lufthansa corta 7 mil voos

A Lufthansa decidiu reduzir em 25% os voos de médio curso, cancelar alguns voos para a China, Itália, Hong Kong e Coreia do Sul em março e abril, parar 25 aeronaves de longo curso e 125 de médio curso, bem como retirar as taxas de alteração de voos para o norte de Itália. Só em março serão menos 7.100 voos. Além disso, cortou o orçamento nas áreas administrativas e com material, adotou um programa de licenças sem vencimento e outro de trabalho em part-time e ainda suspendeu operações de recrutamentos e formações em curso.

  • Air-France-KLM com perdas até 200 milhões

O grupo francês e holandês suspendeu parte dos voos para a China e Itália e anunciou a isenção das taxas de alteração até 31 de março para viagens com partida até 31 de maio, para ajudar os seus clientes a enfrentarem a epidemia. Contratações, viagens de colaboradores e outros gastos estão congelados, enquanto estão a ser revistos planos de investimento em tecnologia e nas instalações. Os funcionários, esses, estão a ser incentivados a tirarem férias. Quanto a resultados, já anunciou perdas estimadas entre 150 a 200 milhões de euros.

  • Finnair negoceia despedimentos

A companhia finlandesa suspendeu voos para Osaka, Seuk, Hong Kong e Milão, adiou a nova rota Busan e anunciou a isenção de taxas de alteração de voos entre março e junho. Já fez um profit warning aos investidores, alertando para uma quebra nos lucros do ano e está a negociar com os sindicatos um plano de despedimento temporário por fases na Finlândia e em todos os países onde opera.

  • Low-cost cortam custos

Nas low-cost, os custos são o foco. A Ryanair cancelou até 25% de todos os voos de curta distância desde e para Itália por três semanas, sendo que os clientes podem optar pelo reembolso, alteração da data ou da rota da viagem. Congelou recrutamento, promoções ou licenças e decidiu reforçar o trabalho com fornecedores para reduzir custos. Da mesma forma, a Wizz está a reprogramar voos devido aos cancelamentos, mas neste caso a isenção de taxa de alteração ou o reembolso total em voucher só é possível se o voo for cancelado e a reserva ter sido feita diretamente com a companhia. Tal como a Ryanair está a cortar custos, congelou o recrutamento e contratou serviços a fornecedores para reduzir custos. Também a concorrente easyJet está a ver reduzida a operação de médio curso, com um impacto em cerca de 2% dos voos que passam por Portugal.

  • Delta Airlines reforça limpeza

Nos Estados também há medidas. A Delta Airlines também acabou com as taxas de alteração de voos em março e em abril caso sejam viagens para Xangai, Pequim, Seul e ou Itália. Suspendeu voos entre EUA, Xangai e Pequim, bem como entre EUA e Milão ou Veneza. A companhia aérea adotou ainda medidas de rastreio de passageiros nos aeroportos dos EUA e novas técnicas de limpeza dos aviões com desinfetante.

  • American Airlines e Air Canada fecham-se a Itália e Ásia

Anunciou a suspensão de voos para a China, Hong Kong, Coreia do Sul e Itália até abril, bem como a isenção de taxas de alteração para viagens de e para os países mais afetados pelo coronavírus. Reforçou também a limpeza nos aviões. Já no Canadá, também a Air Canada suspendeu voos para Itália e alguns países da Ásia (China, Japão, Coreia do Sul e Irão) e permite aos clientes alterarem voos sem pagarem taxas.

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