Rio não quer bancos a lucrar. “No comments”, diz Faria de Oliveira

Habituados às críticas por causa dos prejuízos, bancos voltam a estar na mira política. "Não podem ganhar com a crise", disse Rio. Faria de Oliveira diz que banca vai fazer tudo para ajudar economia.

Rui Rio disse no Parlamento que não devia ser permitido que os bancos tivessem lucros em 2020 e 2021, considerando que seria uma “vergonha” e uma “ingratidão” para com os portugueses se viessem a lucrar de forma avultada com a crise. Para a banca, mais habituada nos últimos anos a ser criticada pelos prejuízos, o discurso mais inflamado contra o setor não merece grande resposta. “No comments”, diz o presidente da Associação Portuguesa de Bancos (APB), Fernando Faria de Oliveira.

Têm sido várias as críticas aos bancos nos últimos dias e o líder dos sociais-democratas foi o último a deixar a sua visão sobre como deverão atuar perante a crise.

“A banca não pode querer ganhar dinheiro com a crise”, afirmou Rui Rio. “A banca tem e vai ter papel absolutamente decisivo no curso dos acontecimentos do ponto de vista económico. (…) Acredito, apesar de algumas queixas que já me começaram a chegar, no bom senso e que a banca sabe perfeitamente que se as empresas morrerem, a banca morre com elas”, acrescentou.

Em declarações ao ECO, Faria de Oliveira rejeitou fazer qualquer comentário. Mas adianta que “é indiscutível” que os bancos vão ajudar a economia que a pandemia de Covid-19 paralisou. E garante mesmo: “Farão tudo o que estiver ao seu alcance para ajudar neste momento”. Como estão já a fazer, nota.

“Bancos vão dar o máximo”

Várias medidas já foram colocadas em prática pelos bancos. De vária ordem: suspensão de comissões a particulares e comerciantes, pagamento antecipado a fornecedores para manter a liquidez, entre outros apoios. O Governo também já publicou o diploma que permite que a banca possa conceder moratórias no crédito, possibilitando que famílias e empresas com as finanças mais apertadas possam pagar as prestações dos empréstimos daqui a seis meses.

"Cada banco atuará de acordo com os critérios dos seus conselhos e dos seus acionistas, mas penso que nessa altura em que temos uma crise de uma dimensão muito significativa, é da maior prudência que instituições nesta matéria salvaguardem a questão fundamental que é o nível da sua capitalização.”

Faria de Oliveira

Presidente da APB

“É visível o empenho dos bancos em dar o máximo nesta fase tão difícil para a vida das empresas e das pessoas”, considera Faria de Oliveira.

Os bancos — por cá a Caixa Geral de Depósitos e o BCP — também já travaram o pagamento de dividendos aos acionistas para reforçarem a sua solidez financeira e manterem a sua capacidade de resposta ao momento de dificuldade que o país atravessa, seguindo recomendações dos reguladores e também da Federação Europeia de Bancos, da qual a APB faz parte.

“Faz todo o sentido”, defende o presidente da APB. “Cada banco atuará de acordo com os critérios dos seus conselhos e dos seus acionistas, mas penso que nessa altura em que temos uma crise de uma dimensão muito significativa, é da maior prudência que instituições nesta matéria salvaguardem a questão fundamental que é o nível da sua capitalização“, argumenta.

Crédito com juro de 3%? É um preço “razoável”

Faria de Oliveira rejeitou ainda as críticas que têm sido feitas ao custo da linha de crédito de 3.000 milhões de euros disponibilizada pelo Governo há duas semanas. O protocolo com os bancos já está definido: a taxa de juro poderá chegar aos 3%. “É um valor razoável”, diz.

Em causa estão vários custos que as empresas portuguesas terão de assumir: taxas de spread (a margem comercial dos bancos) entre 1% a 1,5%, acrescidas de uma comissão de gestão do processo de crédito de 0,5% e de uma taxa de 1% para a sociedade de garantia mútua.

“A definição dos juros aplicados a essa linha de crédito foi feita pelas autoridades, pela autoridade nacional em conjunção com a europeia”, assegura Faria de Oliveira.

O presidente da APB contraria quem diz que os bancos se financiam a -0,75% junto do Banco Central Europeu (BCE), explicando que, na estrutura de funding do sistema bancário nacional, a parte do financiamento junto dos bancos centrais corresponde apenas a 6% do total do financiamento dos bancos.

“A grande parte do financiamento das instituições bancárias resulta de depósitos: 67,1% em Portugal. Depois temos os depósitos de outras instituições de crédito, os títulos e outras vias de financiamento. Ou seja, para cada instituição, o financiamento tem um custo e esse custo é muito maior do que aquilo que tem vindo a ser referido“, explica.

“Portanto, este valor é um valor que se pode considerar razoável. Foi estabelecido pelas autoridades nacionais em conjugação com as autoridades da concorrência”, reforça.

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