Coronavírus: Ramos-Horta faz homenagem na iniciativa solidária do Rock ‘n’ Law

O Rock 'n' Law tem levado música a casa dos portugueses. A advogada portuguesa em Timor, Mónica Mendes da Silva, gravou vídeo com o vencedor do Nobel da Paz. Francisco Proença de Carvalho faz balanço.

Nas últimas semanas advogados e músicos profissionais têm proporcionado momentos musicais juntos dos seguidores do Rock ‘n’ Law (RnL) nas redes sociais. Personalidades como Francisco Proença de Carvalho, coordenador do RnL, Sofia Hoffman, cantora, João Gil, músico, ou Joana Espadinha, cantora, já se juntaram à iniciativa solidária “A tocar [em casa] pela saúde de todos”, lançada face à pandemia Covid-19.

Mónica Mendes da Silva, advogada portuguesa em Timor-Leste, do escritório MDS Legal, também se juntou a esta ação solidária. A residir no país desde 2016, a advogada fez-se acompanhar por uma personalidade muito especial: José Ramos-Horta, ex-presidente de Timor-Leste e vencedor do prémio Nobel da paz.

“O vídeo já me havia sido pedido uma semana antes e estava a demorar pois sentia o peso de ser ‘a advogada que está em Timor’ e queria tudo perfeito: um bom som, uma canção cuidadosamente ensaiada. Esse excesso de zelo atrasou-me, e ainda bem, pois foi essa demora que criou espaço para a ideia de convidar o Dr. Ramos Horta a entrar no vídeo“, conta à Advocatus Mónica Mendes da Silva.

A ideia de convidar o ex-líder de Timor-Leste surgiu quando Mónica Mendes da Silva ia a caminho da casa de José Ramos-Horta. Após lhe ter proposto o desafio, a advogada afirma ter recebido um “retumbante e sorridente sim, isento de hesitações”.

“Expliquei o que estava em causa, o que estávamos a apoiar e que gostava de contar com o seu dom da palavra. E que no fim ia cantar, ele não sabia que eu cantava. Simplesmente pousei o telefone na mesa e em apenas um take ficou feito o vídeo. Podia estar melhor enquadrado, ter um bom som, podíamos ter um guião… Podia tudo isso. Mas este vídeo foi espontâneo, verdadeiro. E gosto muito dele por isso”, assegura.

Após se terem conhecido pessoalmente em 2016, a advogada portuguesa e José Ramos Horta criaram uma amizade que possibilitou este momento partilhado pelo RnL.

“Participei neste vídeo por uma causa justa e de solidariedade dos amigos e irmãos portugueses mas sobretudo por todos aqueles que estão na linha da frente neste combate ao coronavírus”, explica o ex-presidente da República Democrática de Timor-Leste. “Pessoal de saúde como os médicos mas também enfermeiros, anestesistas, motoristas, pessoal das ambulâncias, empregadas de limpeza. Todos aqueles que estão neste combate em todo o mundo”, concluiu.

Para além de amigo, considero-o um mentor, um modelo e alguém a que recorro para um conselho ou simplesmente para uma conversa amiga. O Dr. Ramos Horta arranja sempre tempo para quem precisa dele, o que é demonstrativo da sua forma de estar altruísta e bondosa. E é, pura e simplesmente, um prazer conversar com ele”, nota a advogada da MDS Legal.

Para o coordenador do RnL, Francisco Proença de Carvalho, o impacto da contribuição de Mónica Mendes da Silva e João Ramos-Horta tem sido “extraordinário”.

“Foi impressionante e emocionante sentirmos que a solidariedade continua a unir os nossos dois povos, tão distantes fisicamente, mas ao mesmo tempo tão próximos em termos de espírito. De repente, demos a conhecer o RnL a Timor e começamos a ter imensos seguidores timorenses nas nossas redes sociais”, explica à Advocatus.

Do RnL ao voo até Timor

Apesar de atualmente estar longe geograficamente, Mónica Mendes da Silva já tinha participado na iniciativa do Rock ‘n’ Law em 2010, que junta na mesma festa várias sociedades de advogados concorrentes por uma causa. Um evento que conta com o apoio oficial do ECO e da Advocatus.

“Participei apenas uma vez no RnL, em 2010, embora tenha assistido ainda à primeira edição, em 2009, no extinto BBC. Nessa altura integrei uma banda composta de membros de diversas sociedades como uma das vocalistas. Foi uma experiência memorável! Infelizmente foi a única pois o escritório que integrava não participou nos anos que se seguiram… e assim se passaram dez anos até se proporcionar a oportunidade novamente”, refere a advogada que esteve também na Abreu Advogados, em Portugal.

Desde 2016 em Timor, Mónica Mendes da Silva conta que desde que visitou o país, em 2013, sempre quis voltar. “Tinha uma visão, mas não sabia ainda quando nem como se materializaria. Assim, no final de 2016, e depois de contar com os sábios conselhos e recomendações de quem fez o mesmo, iniciei a minha prática individual e colaborei como consultora numa outra sociedade portuguesa de grande dimensão“, nota.

Atualmente ao serviço da MDS Legal, a advogada afirma ter sido “calorosamente recebida” pelos colegas, bem como pelas pessoas que se cruzam no seu dia-a-dia em Díli.

Com a pandemia Covid-19 a assolar o mundo, Mónica Mendes da Silva admite que a distância não é apenas física, sendo também através do telefone, uma vez que existe uma diferença de fuso horário de oito a nove horas, o que limita o tempo de comunicação.

As medidas do estado de emergência em Timor-Leste são mais tolerantes, pois foram impostas numa fase muito preliminar do problema, ou seja, assim que foi identificado o primeiro diagnóstico positivo. Isso permite levar uma vida relativamente normal à maior parte das pessoas que exercem uma atividade profissional, com cuidados como o uso da máscara, medidas de distanciamento social e limitação de número de pessoas em espaços fechados”, explica a advogada.

Timor-LesteD.R.

Ainda que exista existe falta de recursos, como álcool desinfetante, garante que instituiu-se a obrigação de lavar as mãos à entrada dos estabelecimentos comerciais, tendo sido instaladas torneiras e sabão em todo o lado. “Creio que, nessa medida, Timor é um exemplo a seguir pelos países para quem a falta de bens essenciais não é sequer questão e a Europa devia começar por aí, pelas coisas que parecem mais simples, mas tão ignoradas”, reforça.

De um palco para um plataforma digital

Após a pandemia Covid-19, o Rock ‘n’ Law lançou a iniciativa solidária “A tocar [em casa] pela saúde de todos!”. A iniciativa foi lançada nas redes sociais da organização e pretende apoiar três causas diferentes distribuídas por quatro projetos: ajudar a alimentar, ajudar no fornecimento de equipamentos de proteção para os profissionais de saúde nos hospitais e ainda ajudar na construção de um hospital de campanha.

À Advocatus, Francisco Proença de Carvalho, coordenador do RnL e sócio da Uría Menéndez-Proença de Carvalho, garante que a iniciativa de entreter os portugueses surgiu à semelhança das anteriores edições do RNL.

“Neste período em que também estão confinados, com o tremendo impacto que isso tem nas suas carreiras profissionais, vários músicos têm oferecido generosos contributos com vídeos gravados em casa, como por exemplo o João Gil, a Sofia Hoffmann e vários membros da extraordinária Lisbon Film Orchestra“, nota o advogado.

Francisco Proença de CarvalhoHugo Amaral/ECO

Para o coordenador do RnL, “um pouco à semelhança do que tem acontecido nas edições ‘normais’ do RnL, tentamos sempre que alguns músicos profissionais se juntem aos advogados músicos neste projeto. Assim, acrescentamos qualidade musical e visibilidade a este evento de solidariedade. Neste período em que também estão confinados (com o tremendo impacto que isso tem nas suas carreiras profissionais), vários músicos têm oferecido generosos contributos com vídeos gravados em casa”, diz o advogado que também participou num momento musical ao piano, gravado em vídeo.

“Juntar talento artístico de uma maneira imaginativa como nunca tínhamos visto, é importante para melhor conseguirmos chegar às pessoas e, assim, melhor promovermos os projetos solidários que se destacam neste combate à Covid-19 e que tanta ajuda precisam neste momento de emergência“, sublinha Francisco Proença de Carvalho.

Uma coisa é certa, Francisco Proença de Carvalho assegura que o RnL está a fazer os possíveis para que haja mais momentos musicais protagonizados por personalidades da área. “Nós começámos este ‘festival solidário online‘ sem sabermos quando o terminaríamos. Tudo depende dos conteúdos que conseguirmos oferecer aos nossos milhares de seguidores, pelo que todos os contributos que se enquadrem no conceito solidário e musical do RnL serão muito bem-vindos”, refere.

Uma vez que os donativos vão diretamente para as instituições, o sócio da UríaMenéndez – Proença de Carvalho não consegue fazer ainda um balanço da iniciativa. “O RnL é ‘apenas’ uma plataforma para promover e dar maior visibilidade a bons projetos de solidariedade que identificámos no âmbito do combate à Covid-19 e no apoio a camadas da sociedade cuja fragilidade se acentuou neste momento, como por exemplo os idosos e os sem abrigo”, nota.

Sobre a próxima edição do Rock ‘n’ Law, a pandemia não deixou ainda tempo para fazer um planeamento. “Em virtude da emergência de tudo o que está a acontecer, confesso que ainda não conseguimos pensar na próxima edição. O normal seria a 12.ª edição consecutiva do RnL ocorrer no último trimestre deste ano, mas neste momento a nossa concentração é no presente e na nossa capacidade coletiva de, mesmo à distância, sermos solidários e superarmos esta fase muito complicada”, refere.

“Seja como for, seria muito bom sinal que em outubro ou novembro nos pudéssemos ‘vingar’ desta quarentena e, sem distanciamento social, pudéssemos juntar as habituais 1.700 a 2.000 num espaço e festejar mais uma edição ‘live’ do RnL. Tenho esperança que isso aconteça, mas vamos ver como esta situação evolui”, conclui o sócio do escritório ibérico.

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