O banco “bom” do Novo Banco está bom?
Olhando apenas para o lado “bom” do Novo Banco há sinais positivos mas também alguns preocupantes na análise das contas da primeira metade do ano em comparação com os pares.
O Novo Banco continua a dar prejuízos. Seis anos depois da sua criação, após a resolução do BES no verão de 2014, a instituição liderada por António Ramalho mantém-se com as contas no “vermelho”, penalizada pelos ativos tóxicos que ficaram no balanço. Retirando o legacy e olhando apenas para o banco recorrente, os números da instituição financeira liderada por António Ramalho já são bem diferentes. Mas estará o “banco bom” assim tão bom?
Olhando apenas para o lado “bom” do Novo Banco, que a instituição passou a revelar de forma separada desde o primeiro trimestre de 2019, há sinais positivos mas também alguns negativos nas contas da primeira metade do ano. O banco recorrente terminou o semestre com lucros de 34 milhões de euros, um resultado positivo mas que representa uma quebra de 70% face ao obtido no período homólogo, tendo sido fortemente penalizado pela assunção de imparidades e provisões devido à crise.
Novo Banco “bom” com derrapagem de 70% nos lucros
A descida nos resultados do Novo Banco “bom”, apesar de mais aprofundada, acompanha no entanto a tendência do setor. A que foi registada em concreto pelos principais bancos nacionais que também foram afetados pela necessidade de colocarem dinheiro de parte para fazerem face à esperada subida do incumprimento devido às consequências da pandemia.
O BPI foi o que, a seguir ao Novo Banco, registou a maior quebra de lucros (68,3%, para 42,6 milhões de euros), seguido pelo BCP (55,2%, para 76 milhões). As menores quebras foram registadas pelo Santander (37,3%, para os 172,9 milhões) e pela Caixa Geral de Depósitos (40,5%, para 248,6 milhões) que obteve o melhor resultado do semestre entre os maiores bancos.
Provisões e imparidades mais contidas no banco “bom”
Voltando ao Novo Banco, e olhando para a instituição como um todo, foram colocados de parte 138 milhões de euros para fazer face a eventuais perdas com incumprimento no crédito. Trata-se do segundo montante mais elevado entre os cinco maiores bancos nacionais, apenas atrás da CGD que registou em balanço um total de 156 milhões de euros com esse fim.
Imparidades e provisões na primeira metade do ano
Mas se formos restringir a análise apenas ao banco “bom”, o valor registado é bastante menor. Aí foram reservados 98 milhões de euros, com o Novo Banco a ficar apenas acima do BPI que guardou 83 milhões para fazer face à crise e abaixo da CGD, BCP e Santander. Os restantes 40 milhões em imparidades e provisões foram registadas no Novo Banco “mau”, ou seja, o legacy.
Novo Banco “bom” lidera crescimento na margem
Já em termos operacionais, e olhando para a margem financeira, — que resulta dos juros recebidos nos empréstimos menos os juros pagos nos depósitos — o banco “bom” destaca-se pela positiva face aos pares em termos da evolução conseguida face há um ano.
Dos cinco maiores bancos nacionais, apenas três apresentaram uma evolução positiva neste indicador, sendo que o Novo Banco “bom” revelou o maior crescimento. A sua margem financeira subiu 6,44%, para 251,2 milhões de euros, acima do aumento de 2,42% e 2,57% registado pelo BPI e pelo BCP. Pelo contrário, o Santander e a CGD registaram uma degradação deste indicador na ordem dos 6,86% e 6,44%, respetivamente.
Margem financeira do Novo Banco “bom” cresce mais de 6%
Nas contas apresentadas a 31 de julho, o Novo Banco justificava a subida da sua margem financeira com “o aumento nos volumes médios [crédito], mantendo o foco na disciplina de preços”. Ou seja, a disciplina entre os valores dos juros cobrados e dos pagos.
A melhoria da margem financeira do Novo Banco recorrente ocorreu ainda num semestre em que a instituição teve um maior crescimento do stock de crédito comparativamente à evolução registada pelos pares. A subida foi de 5,51%, para um total de 23,7 mil milhões de euros. Essa evolução compara, por exemplo, com uma redução de 2,3% no stock de crédito do maior banco nacional: a CGD.
Novo Banco recorrente com maior crescimento no crédito
Já os depósitos do Novo Banco foram reforçados em 3,5%, mais 972 milhões de euros, para perto de 28,8 mil milhões de euros. O grosso dos concorrentes registou subidas mais acentuadas que chegam ao limite de quase 11% no caso do banco público. Tendo em conta que o atual contexto em que os juros estão historicamente baixos, mesmo negativos, a captação de depósitos não é necessariamente uma prioridade para os bancos. Em vez disso, têm focado a sua atenção na retenção de clientes e na cobrança de comissões.
No documento das suas contas da primeira metade do ano, a instituição financeira diz mesmo que “continuou com a sua política de redução do preçário dos depósitos”.
Depósitos no Novo Banco “bom” crescem menos
O Novo Banco “bom” fica menos bem precisamente no que se refere às comissões. Nos primeiros seis meses do ano, as comissões do Novo Banco recorrente baixaram 9,4% (menos 16,1 milhões de euros) por causa do confinamento, para 136,6 milhões de euros. “Neste período as comissões registaram uma diminuição generalizada a nível de produtos, condicionadas por um menor nível de transações e pelo atual contexto da atividade bancária em Portugal, negativamente afetada pela pandemia Covid-19″, explicava a instituição liderada por António Ramalho no documento que sintetiza os resultados da primeira metade do ano.
Contudo, a maioria dos pares também viu as suas contas penalizadas pelo confinamento. O BCP foi exceção nessa tendência, tendo beneficiado de um aumento de 0,9%, com as comissões captadas a ascenderem a 345,2 milhões de euros. Já a Caixa e o Santander registaram quebras de 3% e 5% nas comissões angariadas na primeira metade, respetivamente, para 297 milhões de euros e 183,1 milhões de euros. No Novo Banco “bom” o nível de captação de receitas via comissões ainda está bastante aquém desses valores.
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