Bruno de Carvalho desiste de queixa contra Rui Pinto

O ex-presidente da SAD do Sporting foi ouvido esta quinta-feira no âmbito do processo contra Rui Pinto. Desiste da queixa, a título pessoal e considera que "há que tirar o chapéu a Rui PInto".

O ex-líder do Sporting, Bruno de Carvalho, vai desistir da queixa -crime contra o hacker Rui Pinto. O próprio informou o coletivo de juízes desse facto, na 13ª sessão de julgamento do processo do Football Leaks, onde esteve e prestar declaraões como testemunha.

Razão? “O Football Leaks acabou por ser muito útil e muito moralizante para a sociedade“. E admitiu: “há que tirar o chapéu a Rui Pinto, porque só com a divulgação desta informação é que se conseguiu acelerar algumas investigações. “Foi extremamente positivo o que ele fez”. Passada a fase em que o alvo era o Sporting — clube dirigido por Bruno de Carvalho de 2013 a 2018 — o atual comentador desportivo (como se assumiu em tribunal) defende agora os atos de Rui Pinto, acusado de 90 crimes pelo Ministério Público. “Comecei a olhar para o Football Leaks como um blogue com uma função primordial e uma extensão do que eu próprio dizia e pensava”. Porém, criticou o que chamou de primeira fase da divulgação de informação por parte de Rui Pinto, na altura em que o hacker se centrou no Sporting. “Mas este blogue deu jeito… porque acabou a expôr a intromissão da Doyen na gestão do clube, que eu sempre critiquei”. E justificou: “basta ver que nos dois anos da Doyen como fundo que financiou o Sporting houve um prejuízo de 100 milhões de euros e depois enquanto eu lá estive foi um lucro de 52 milhões.

À saída da sessão, Bruno de Carvalho — que agora admite que “não liga nenhuma a futebol” — admitiu que “não é bom as pessoas terem as suas caixas de e-mail violadas” mas também não é bom que “se há informação boa, as pessoas não consigam ser julgados porque a forma como veio essa informação seja uma ou outra”. E sublinha: “Este processo veio mostrar muita coisa — nomeadamente coisas que eu disse sobre futebol e corrupção e o Football Leaks veio concretizar aquilo que já se vinha dizendo. Sedimentou uma série de informação. As pessoas sentem-se mais confiantes a partir do momento em que um miúdo de 30 anos faz o que faz”.

No total, foram 21 as caixas de correio eletrónico hackeadas pelo arguido de personalidades do Sporting acedidas por mais de 100 vezes (no total) em apenas dois meses. Rui Pinto está acusado de 90 crimes: 68 de acesso indevido, 14 de violação de correspondência, seis de acesso ilegítimo contra o Sporting, a Doyen, a sociedade de advogados PLMJ, a Federação Portuguesa de Futebol e a Procuradoria-Geral da República, e ainda por sabotagem informática à SAD do Sporting e por extorsão, na forma tentada.

“O Tribunal tem um trabalho difícil que é de avaliação… deveriam chegar ali a um acordo”, aconselhouNa sessão, Bruno de Carvalho disse ainda que o email apontado pela Polícia Judiciária (PJ) como sendo seu, estava errado. Bruno de Carvalho explicou que quando foi chamado à PJ apercebeu-se que o email “que foi investigado não era” o seu email.

O criador do “Football Leaks” encontra-se em liberdade desde 7 de agosto, “devido à sua colaboração” e está inserido no programa de proteção de testemunhas em local não revelado e sob proteção policial. Esta quinta-feira senta-se no banco de arguidos naquela que é já a 13ª sessão de julgamento.

Entre os dias 20 de julho e 30 de setembro de 2015, Rui Pinto conseguiu aceder aos mails de nomes sonantes do futebol português como Bruno de Carvalho — na altura presidente do Sporting — Jorge Jesus — também na altura a treinar os leões, Augusto Inácio, Carlos Godinho Vieira, Rui Pereira Caeiro, José Vicente Moura, Octávio Machado, Paulo da Silva. E mais uns quantos da estrutura do clube leonino, quer administradores, quer do departamento de Futebol da SAD. Com o intuito de divulgar a informação, Rui Pinto cria o blogue Football Leaks — “cujo conteúdo foi sendo alimentado com recurso a documentos obtidos através da intromissão não autorizada em sistemas informáticos de diversas entidades”, diz a acusação do Ministério Público (MP), a que o ECO teve acesso.

Informações confidenciais sobre jogadores e (grandes) clubes nacionais e estrangeiros, valores de transferência de jogadores, acordos com entidades desportivas e até cláusulas de contratos totalmente sigilosas. O intuito era claro, segundo o próprio escrevia nesse mesmo blogue: “Este projeto visa divulgar a parte oculta do futebol, que está podre”, num meio em que “tudo serve para enriquecer parasitas” e, por isso, “fiquem atentos porque haverá muita polémica e muita curiosidade”. Mas sem deixar de pedir algum tipo de ‘prémio’ por isso: “aceito doações, porque adquirir todo este material levou-me imenso tempo, e é sempre bonito contribuir…”.

Rui Pinto assume-se como um whistleblower, fazendo a apologia do interesse público para justificar a divulgação de material que envolveu altas esferas do mundo do futebol, advogados e questões relativas ao caso Luanda Leaks, que implicou Isabel dos Santos. Recusa, no entanto, que tenha recebido dinheiro ao divulgar estas informações.

Rui Pinto arrolou 45 testemunhas para deporem no julgamento, entre as quais estão personalidades do desporto e da política. A antiga eurodeputada Ana Gomes — e agora candidata a Belém —, que sempre defendeu Rui Pinto, é uma das personalidades públicas dessa lista de testemunhas, que tem ainda nomes como o do ex-coordenador do Bloco de Esquerda Francisco Louçã, e o ex-ministro Miguel Poiares Maduro.

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