Mediterrâneo será destino de meio milhão de toneladas de plástico por ano em 2040

Se nada for feito, e com base num aumento anual de 4% na produção global de plástico, daqui a 20 anos o Mediterrâneo pode tornar-se no caixote do lixo para meio milhão de toneladas de plástico por ano

O Mar Mediterrâneo está a ser inundado de plástico: por dia são cerca de 500 contentores marítimos de carga, o que ao fim de um ano equivale a 229 mil toneladas de plásticos que acabam nas águas deste mar que banha o sul da Península Ibérica. Até agora, mais de um milhão de toneladas de plástico já se acumularam no Mar Mediterrâneo.

A conclusão é do mais recente relatório da União Internacional para a Conservação da Natureza (IUCN) — Mare Plasticum: O Mediterrâneo” –, que aponta a má gestão de resíduos como a principal origem de todo plástico que acaba por ir parar ao mar e alerta acima de tudo para o perigo deste número duplicar até 2040.

Ou seja, se nada for feito, e com base num aumento anual de 4% na produção global de plástico, daqui a 20 anos o Mediterrâneo pode tornar-se no caixote do lixo para meio milhão de toneladas de plástico por ano.

Com base em dados recolhidos no terreno e analisados segundo a metodologia da “pegada plástica marinha” da IUCN, o relatório desenvolvido em parceria com a organização suíça EA – Ação Ambiental, estima que existam fluxos de plástico de 33 países diferentes a desaguar na bacia do Mediterrâneo.

A principal conclusão deste estudo revela que os plásticos resultantes da má gestão de resíduos representam 94% das descargas no mar. Já no Mediterrâneo, este plástico deposita-se nos sedimentos sob a forma de microplásticos (partículas inferiores a 5 mm).

“A poluição causa pelo plástico pode causar danos a longo prazo aos ecossistemas terrestres, marinhos e à biodiversidade. Os animais podem ficar presos ou engolir resíduos de plástico e, em última análise, morrer de exaustão e fome. Além disso, os resíduos de plástico libertam substâncias químicas que podem ser prejudiciais à saúde humana (pela sua introdução na cadeia alimentar), especialmente num mar semifechado como o Mediterrâneo. Como este relatório deixa claro, as medidas em vigor não são suficientes travar este impacto, disse Minna Epps, diretora do Programa Global Marinho e Polar da IUCN, citada em comunicado.

De acordo com o relatório, o Egito (com cerca de 74.000 toneladas/ano), a Itália (34.000 toneladas/ano) e a Turquia (24.000 toneladas/ano) são os países com as maiores taxas de descarga de plástico no Mediterrâneo, principalmente devido às elevadas quantidades de resíduos mal geridos e populações costeiras muito densas.

Per capita, países como o Montenegro (8 kg por ano ano, por pessoa), Albânia, Bósnia e Herzegovina e Macedónia (cada um contribuindo com cerca de 3 kg por ano, por pessoa) têm os níveis mais altos de poluição marítima.

No caso dos microplásticos primários – aqueles que entram nos oceanos já sob a forma de pequenas partículas, ao contrário dos resíduos plásticos de maior dimensão que se degradam na água – são 13.000 as toneladas que acabam no Mediterrâneo a cada ano. Estes têm origem em pneus (53%), têxteis (33%), microesferas em cosméticos (12%) e granulados (2%).

“Governos, setor privado, instituições de pesquisa, indústrias e consumidores têm de trabalhar em conjunto para redesenhar processos e cadeias de abastecimento, investir em inovação e adotar padrões de consumo sustentável ​​e melhores práticas de gestão de resíduos para fechar a torneira do plástico”, disse Antonio Troya, diretor do Centro de Cooperação do Mediterrâneo daIUCN, citado no mesmo comunicado.

Para travar este cenário, a melhor aposta passa então por melhorar a recolha e gestão de resíduos. De acordo com o relatório, mais de 50.000 toneladas de plástico por ano podiam ser travadas e não acabar no Mediterrâneo se a gestão de resíduos fosse melhorada de acordo com as melhores práticas globais. Além disso, o relatório destaca que “as proibições podem ser eficazes se forem amplamente implementadas”.

O documento dá um exemplo que pode ser posto em prática: A proibição global do uso de sacos de plástico nos países banhados pelo Mediterrâneo reduziria ainda mais a poluição em cerca de 50.000 toneladas extra por ano.

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