Altice critica “atraso de dois meses” da Anacom: “5G é já um falhanço enorme, um flop, um logro”

O presidente executivo da Altice Portugal considera que o dossiê do 5G em Portugal já pode ser considerado "um falhanço enorme", um "flop" e um "logro". O regulador "mentiu aos portugueses", acusou.

O presidente executivo da Altice Portugal considera que o país, “além de atrasado, está perdido” no dossiê do lançamento do 5G. “Não há hoje uma visão. Pode já dizer-se que o 5G é um falhanço enorme, um flop, um logro”, afirmou Alexandre Fonseca numa conferência virtual com jornalistas, na qual acusou a Anacom de “mentir” ao Governo e ao país.

O gestor recordou que o calendário do próprio regulador para o 5G apontava para setembro a aprovação do regulamento do leilão de frequências e para o início das licitações em outubro. “Hoje é dia 2 de novembro”, lembrou, salientando assim o “atraso de dois meses” que se verifica face à agenda oficial. “Este é o momento de dizer basta. Temos um regulador que mentiu aos portugueses, aos governantes, aos decisores do país, e mentiu ao setor”, acusou.

A Anacom falhou o próprio prazo estabelecido no calendário do 5G, não tendo dado início ao leilão de frequências durante o mês de outubro, como tinha previsto em julho. Pela calendarização oficial, o atraso é agora de dois meses, visto que também estava previsto aprovar o regulamento do leilão até ao fim de setembro, o que ainda não terá acontecido.

“Estamos a ultimar os trabalhos e contamos aprovar o regulamento e dar início ao processo do leilão este mês”, afirmava, a 15 de outubro, fonte oficial da Anacom. Já com o mês de novembro em curso, o setor continua sem conhecer o regulamento do leilão de frequências nem há previsão sobre quando o processo vai arrancar. O ECO questionou novamente a Anacom sobre o calendário do 5G, mas não obteve resposta a tempo de publicação deste artigo.

“Este regulador continuou a mentir-nos. Hoje é dia 2 de novembro, não temos conhecimento de nada. Não sabemos quais são as regras, as condições de acesso a espetro”, disse o presidente da dona da operadora Meo.

Projeto de regulamento está “ferido de ilegalidades”

Na mesma conferência com jornalistas, o presidente executivo da Altice Portugal acusou o projeto de regulamento do 5G de estar “ferido de ilegalidades”, por reservar espetro a novos entrantes, com desconto e “sem obrigações de cobertura”. Opinião partilhada recentemente também pelos líderes das duas outras operadoras, Nos e Vodafone.

Contudo, sobre a hipótese da entrada de um quarto operador no mercado das telecomunicações em Portugal, o líder da Altice Portugal garantiu que quer apenas que os novos operadores estejam sujeitos às mesmas condições das demais operadoras: “A Altice Portugal não teme a entrada de novos operadores. Não temos receio. O que queremos é que os novos, para além de contribuírem para a nossa economia, tenham condições idênticas”, garantiu Alexandre Fonseca.

A Altice Portugal também é crítica da decisão da Anacom de reconfigurar o espetro da Dense Air, uma empresa que acabou por ficar com licenças 5G já antigas e que, por isso, é já detentora de direitos de utilização antes mesmo da ocorrência do leilão. As empresas do setor pretendiam que a Anacom cancelasse as licenças pois as mesmas nunca foram usadas.

Ainda não é conhecido o regulamento final do leilão de frequências, esperando-se que o mesmo seja publicado nos próximos dias pela Anacom. O cenário de “incerteza” tem sido destacado pelas várias operadoras, que ameaçam rasgar planos de investimento na economia portuguesa se as regras que estão num projeto de regulamento apresentado em fevereiro acabarem por ir adiante, sem alterações de fundo.

Meo preparada para 5G em Lisboa, Aveiro e Algarve

Apesar do atraso que se verifica no processo, a Altice Portugal admitiu estar “preparada” para lançar redes comerciais de quinta geração em Lisboa, em Aveiro e no Algarve. São apenas “exemplos” de três cidades em que a empresa já tem infraestruturas montadas por causa dos testes que tem vindo a realizar, existindo outras que o gestor não quis revelar.

A empresa confirmou também que, nesta primeira fase, o 5G da Altice Portugal assentará nas atuais redes 4G e, por isso, “será lançamento 5G em cima do 4G”. “Não me parece que haja condições para ter 5G standalone no curto prazo nem vantagem competitiva”, explicou.

O mesmo se aplica ao 5G millimeter wave, visto como a tecnologia de ponta que permitirá uma latência mais reduzida e uma velocidade bastante superior no acesso à internet. O leilão de 5G não contempla frequências que permitam lançar esta tecnologia no país, algo que foi confirmado também pelo presidente da Altice Portugal: “Os 26 GHz não estão previstos na proposta, mas também aqui serei equilibrado: nem estava à espera que estivessem. Não penso que seja uma prioridade”, afirmou.

Novamente questionado sobre se a participação da fabricante Huawei nas redes de quinta geração da Altice Portugal, Alexandre Fonseca voltou a assegurar que não terá equipamentos da empresa chinesa no núcleo, apostando em três fornecedores, dois deles europeus e um norte-americano (apesar de não ter mencionado, tratam-se da Ericsson, Nokia e Cisco). A Huawei é acusada pelos EUA de ser um veículo de espionagem ao serviço do regime chinês, mas a marca tem negado todas as acusações.

O ECO noticiou em março que a Huawei não deverá fazer parte do núcleo do 5G em Portugal nas redes da Altice Portugal, da Nos e da Vodafone.

Altice confessa ser parceira da Ubiwhere

Um último tema abordado por Alexandre Fonseca foi o das suspeitas levantadas pela Altice Portugal em torno da empresa Ubiwhere numa queixa ao Governo. A Ubiwhere é a empresa que está a desenvolver a plataforma eletrónica do leilão do 5G, mas tem parcerias com várias operadoras interessadas na operação.

Ora, esta segunda-feira, Alexandre Fonseca reconheceu que a Altice Portugal também é parceira da empresa escolhida por concurso público pela Anacom para desenvolver a plataforma do leilão do 5G.

“Vivemos na semana passada mais um episódio caricato, diria ridículo. Assistimos à publicação de notícias sobre a escolha de plataforma de software que irá suportar a o leilão do 5G em Portugal”, indicou. Lembrando que o contrato assinado com a Anacom impede que a tecnológica escolhida tenha qualquer relação com empresas do setor, Alexandre Fonseca rematou: “Não existe uma, são pelo menos duas. Uma delas somos nós.”

Como o ECO noticiou na semana passada, a Altice Portugal enviou uma carta ao Governo e à Anacom a apontar para ligações entre a Ubiwhere e a Vodafone, mas não referindo que a Ubiwhere também é parceira da própria Altice, através da Altice Labs.

Entretanto, a Ubiwhere também respondeu às acusações, garantindo ser “idónea” e negando estar “em posição” de violar o contrato que assinou com o regulador. A Anacom, por sua vez, diz estar a analisar as dúvidas suscitadas pela dona da Meo.

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