“A primeira regra de uma fusão é não falar nela, é fazê-la”

António Ramalho não revelou se o futuro do Novo Banco passa por consolidação. Em entrevista ao ECO, diz que uma condição para uma fusão é garantir que um banco é capaz de ser viável de forma autónoma.

António Ramalho, CEO do Novo Banco, em entrevista ao ECO - 08JAN21

Foi um António Ramalho enigmático sobre se a próxima página do Novo Banco se poderá escrever com a palavra consolidação. “Fazer uma fusão passa por duas regras: a primeira é nunca falar dela, é fazê-la”, começou por dizer o gestor em entrevista ao ECO, quando inicia agora um novo mandato de quatro anos à frente do banco detido pelo fundo americano Lone Star e pelo Fundo de Resolução.

“A segunda regra é perceber onde estão as vantagens competitivas de cada instituição. Eu trato das vantagens competitivas da minha instituição”, acrescentou António Ramalho, isto depois de ter dito que se há especialista em consolidações em Portugal é ele próprio. “Tenho mais fusões do que qualquer outro banqueiro em Portugal”, disse.

Na entrevista ao ECO, em que participaram também Pedro Santos Guerreiro e Paulo Ferreira, o presidente do Novo Banco faz uma análise do setor bancário em Portugal. Se na praça portuguesa outros banqueiros antecipam que a vaga de fusões vai atingir Portugal, António Ramalho tem opinião contrária: “Temos uma enorme estabilidade no princípio de cinco bancos dominarem o sistema. Isso é uma realidade que precede todas as outras questões. Cinco bancos têm domínio sobre o sistema há muito tempo, o que significa um nível de concorrência próprio”.

O tema da consolidação bancária está novamente a ganhar força, com várias operações anunciadas em Espanha e um pouco por toda a Europa, perante o definhar do negócio financeiro provocado pelos juros baixos do Banco Central Europeu e agravado pela pandemia de Covid-19.

António Ramalho, CEO do Novo Banco, em entrevista ao ECO - 08JAN21

Recorrentemente, o Novo Banco tem surgido na pole position de bancos que podem envolver-se em operações de M&A, fruto sobretudo da circunstância de ter dois acionistas com interesse potenciar um negócio no futuro. Mas António Ramalho diz que está focado em preparar um banco para ter uma “operação extraordinariamente interessante no mercado”.

Ramalho não abre o jogo sobre o que poderá vir a ser o papel do Novo Banco num quadro de consolidação, mas conta uma história: “Quanto é que deste risco bancário reputacional nós tivemos de suportar por essa desconfiança criada e que pode ser ou não pode ser prejudicial ao futuro da instituição? Respondo-lhe que, em 1992, quando geria um banco [Banco Pinto & Sotto Mayor] que foi, por acaso, o primeiro banco que falhou uma privatização, porque não houve suficiente interesse e preço para essa privatização. Passado um ano, estava a comprar o Banco Totta & Açores, o Crédito Predial Português, criou o grupo Champalimaud e esse grupo é hoje a Fundação Champalimaud. Portanto, nunca me diga que estamos derrotados por questões reputacionais”. É uma espécie de antecipação do que poderá vir a ser a estratégia do Novo Banco, detido em 75% pelo Lone Star e em 25% pelo Fundo de Resolução.

Desde 2017 que o Novo Banco tem em curso um plano de reestruturação que obrigou a reduzir a operação, nomeadamente através da venda de operações internacionais, fecho de balcões e redução de pessoal e ainda da limpeza do balanço. Contas feitas, desde então, acumula prejuízos de cerca 5,5 mil milhões de euros, cobertos em grande medida pelo acordo de capital contingente.

Ramalho disse que passou fase de resistência e que termina agora a fase de reestruturação. “Agora, entre 2020 e 2021, queremos transformar o R de reestruturação no R de renascimento”, assinalou.

 

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