Central de Sines chegou a abastecer um terço da eletricidade consumida em Portugal
Para produzir, a central recebia 24 a 25 navios de carvão por ano, segundo fonte oficial da EDP adiantou à Lusa. Assim, ao longo da sua vida, foram consumidos o equivalente a 699 navios de carvão.
A central termoelétrica de Sines chegou a abastecer um terço da eletricidade consumida em Portugal, nos anos 90, e foi perdendo peso, tendo assegurado apenas 4% do consumo elétrico em 2020, segundo dados da REN.
De acordo com dados da gestora da rede elétrica, a que a Lusa teve acesso, a central a carvão da EDP, no distrito de Setúbal, em atividade desde 1985, estreou-se com uma produção de 0,8 Terawatt-hora (TWh), o equivalente a cerca de 4% do consumo elétrico (19 TWh).
Nos anos seguintes, o peso da central no sistema elétrico aumentou, e em 1991 e 1992 respondeu por mais de um terço do consumo de eletricidade em Portugal (34%), tendo-se mantido acima dos 25% nos anos seguintes.
Segundo os dados da REN, as quedas mais acentuadas na produção aconteceram em 2010 – na sequência de uma paragem programada -, e em 2019 devido a condições de mercado desfavoráveis, fruto dos elevados custos (como o preço do carvão, as licenças de CO2 e outras taxas) e a uma crescente produção de energia com origem em fontes renováveis, com prioridade no sistema elétrico.
Nestes anos, o contributo para o sistema elétrico caiu para metade, representando 9% e 8% do consumo, respetivamente.
O recorde de produção da central de carvão foi alcançado em 2015, o que segundo a EDP se deveu “a uma elevada taxa de utilização (93,9%) motivada pela baixa pluviosidade e condições de mercado favoráveis ao funcionamento da central”.
Três anos mais tarde, o então presidente executivo da EDP, António Mexia, admitiu antecipar o fecho da Central de Sines, para “bastante antes de 2025”, devido ao aumento da carga fiscal aplicada às centrais a carvão, referindo-se ao fim da isenção do Imposto sobre os Produtos Petrolíferos (ISP) e à introdução de uma taxa de carbono através do Orçamento do Estado daquele ano.
Naquela altura, Mexia alertava para o impacto que o encerramento da Central de Sines teria na economia da região, nomeadamente ao nível do emprego, no preço grossista de eletricidade, admitindo também colocar questões na segurança do abastecimento em Portugal.
No discurso de tomada de posse em outubro de 2019, o primeiro-ministro, António Costa, anunciou que o seu novo Governo estava preparado para encerrar a central de Sines em setembro de 2023, antecipando o calendário previsto para o encerramento que era “entre 2025 e 2030”.
Em 2020, ano em que a central termoelétrica de Sines teve uma produção de 1,9 TWh, o equivalente a apenas 4% do consumo elétrico nacional, a EDP decidiu antecipar o encerramento das suas centrais a carvão na Península Ibérica (em Sines e nas Astúrias, Espanha), tendo em conta “a continuada deterioração das condições de mercado para estas centrais durante o primeiro semestre”.
No final do ano, a energética recebeu as autorizações necessárias para encerrar a atividade na central a carvão de Sines a partir de 15 de janeiro.
“Durante quase 35 anos, a central esteve sempre disponível e em operação, cumprindo assim o seu principal objetivo: assegurar um nível de potência instalada no país necessária à satisfação dos consumos nacionais e permitir a diversificação das fontes de energia primária no seguimento das crises petrolíferas da década de 70”, adiantou à Lusa fonte oficial da EDP.
Ao longo da sua vida, prossegue a EDP, a central produziu 294 TWh, tendo emitido para a rede nacional 274 TWh (5,5 vezes o consumo nacional do ano de 2019), o que equivale a abastecer uma população de 60 milhões de pessoas durante um ano.
A central a carvão tem quatro grupos geradores, somando um total de potência instalada de 1.256 MW e de produção (potência disponível/ emissão para a rede nacional) de 1.180 MWh.
Para produzir, a central recebia 24 a 25 navios de carvão por ano, segundo fonte oficial da EDP adiantou à Lusa. Assim, ao longo da sua vida, foram consumidos o equivalente a 699 navios de carvão.
A matéria-prima era maioritariamente da Colômbia (60/70%) e dos EUA (5/10%), sendo que ultimamente chegou aos 20%, após o impacto do ‘shale gas’ (gás de xisto) que permitiu aos EUA comercializar carvão de melhor equilíbrio técnico/ambiental/económico, referiu.
Em resposta à Lusa, a EDP destaca que “a central cumpriu sempre os seus compromissos de sustentabilidade e, após vários investimentos em tecnologia e sistemas de proteção ambiental, que somaram mais de 400 milhões de euros ao longo dos anos, tornou-se numa das mais eficientes centrais a carvão na Europa”.
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