Políticas de Lagarde dão até 245 milhões à banca portuguesa

Portugal é um dos nove países onde a banca está a beneficiar das políticas do BCE direcionadas ao setor. Christine Lagarde deverá reafirmar esta quinta-feira a prontidão em apoiar a economia.

A estratégia do Banco Central Europeu (BCE) de combate ao impacto da pandemia na banca está a gerar ganhos de 4,8 mil milhões de euros para as instituições financeiras da Zona Euro. Mas nem todas beneficiam da mesma forma e, dos 19 países da Zona Euro, dez têm perdas. Mas Portugal está do lado dos nove que têm ganhos.

“A combinação das políticas de taxas de juro de depósitos negativas sobre o excesso de liquidez e os empréstimos TLTRO resulta num ganho de cerca de 4,8 mil milhões de euros para os bancos da Zona Euro como um todo”, explica Eric Dor, diretor de estudos económicos da IESEG School of Management em Lille, que calculou o impacto com base em dados do BCE.

“Há um ganho líquido para os bancos de Itália, Espanha, França, Países Baixos, Grécia, Áustria, Portugal, Bélgica e Eslováquia”, aponta Dor. Espanha e Itália concentram a grande maioria dos ganhos, enquanto para Portugal é, no máximo, de 245 milhões de euros, indicam as estimativas do economista. Em sentido contrário, “há uma perda líquida para os bancos dos outros países da Zona Euro, mas num montante relativamente pequeno e concentrado na Alemanha, Luxemburgo e Finlândia”.

Impacto das políticas do BCE na banca (por país)

Fonte: IESEG School of Management

Em causa estão dois grandes conjuntos de políticas do BCE que afetam positiva e negativamente a banca. Por um lado, a taxa de depósitos negativa, de -0,5%, que implica essencialmente que o dinheiro que os bancos têm parqueado no banco central “paga” juros em vez de os receber. Este juro foi reduzido em dezembro de 2019 ainda por Mario Draghi, antecessor da atual presidente Christine Lagarde, para estimular a concessão de crédito a empresas e famílias. Mas a francesa instituiu um sistema de escalões para mitigar os efeitos negativos da medida.

Em simultâneo, a autoridade monetária tem realizado operações de refinanciamento barato para os bancos também com o objetivo de estimular a liquidez na economia. É nas várias séries de longer-term refinancing operations (TLTRO) que a generalidade dos bancos do Eurossistema se financiam com juros que podem ir tão baixo quanto -1% até meados do próximo ano. “É óbvio que estes juros negativos nos empréstimos TLTRO é um subsídio do Eurossistema aos bancos“, considera Dor.

Os cálculos do economista combinam assim a diferença entre os custos que a banca tem com taxas de depósito negativas e os benefícios dos baixos juros dos TLTRO (considerando as condições mais vantajosas possíveis). “O resultado é uma aproximação à realidade, mas permite fazer uma útil avaliação às implicações das atuais políticas do BCE”, ressalva.

Apoio de Lagarde não deverá afrouxar

Na visão do diretor de estudos económicos da IESEG, “o BCE pode reivindicar que as atuais políticas apoiam globalmente os bancos”, o que poderá desincentivar qualquer recuo nestas medidas. Esta é, de qualquer forma, já a expectativa do mercado, que antecipa que o BCE não diminua o grau de estímulos enquanto a crise pandémica se mantiver.

O Conselho de Governadores reúne-se esta quinta-feira, pela primeira vez este ano, para avaliar a política monetária em curso. O encontro acontece depois de, em dezembro, terem reforçado o envelope para comprar dívida com mais 500 mil milhões de euros para um total de 1,85 biliões de euros, prolongado o programa até — pelo menos — março de 2022 e anunciado a extensão da vigência dos empréstimos TLTRO.

Assim, não se esperam para já quaisquer alterações aos vários instrumentos, mas Christine Lagarde deverá reafirmar estar pronta a fazer mais, se necessário, especialmente devido ao agravamento da situação sanitária e regresso das medidas de confinamento. A francesa deverá reiterar o papel de uma conjugação entre políticas monetárias e políticas orçamentais (da UE em programas como o SURE, mas também dos vários governos) na recuperação da União Europeia.

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