FMI avisa que a banca pode fechar a torneira do crédito “nos próximos trimestres”
Banca não é problema nesta crise pandémica... até agora, avisa o FMI, que alerta para possibilidade de setor deixar de ter capacidade ou vontade de continuar a emprestar face ao agravamento da crise.
Até agora, os bancos têm-se comportado bem nesta crise, mantiveram-se a financiar a economia e a apoiar empresas e famílias com as moratórias bancárias, numa altura de aperto agudo das condições financeiras. Ainda assim, o Fundo Monetário Internacional (FMI) alerta para não se transformar esta crise pandémica numa crise financeira. Os especialistas do Fundo avisam que a banca pode fechar a torneira do crédito “nos próximos trimestres” por incapacidade ou por vontade própria, devido aos receios com o fim das medidas de alívio implementadas pelos Governos.
“Os desafios de rentabilidade num ambiente de baixas taxas de juro colocam em dúvida a capacidade ou vontade de os bancos continuarem a emprestar dinheiro nos próximos trimestres“, avisa o FMI no Relatório sobre a Estabilidade Financeira Mundial, divulgado esta quarta-feira.
“Os bancos poderão recear o aumento das exposições de crédito e a subida do crédito em incumprimento (non performing loans) assim que as medidas de apoio terminarem, especialmente onde a recuperação poderá atrasar-se ou não completar-se”, explicam os técnicos do Fundo.
Desde o início da pandemia, os governos em todo o mundo avançaram com medidas de alívio à economia a fim de evitar o colapso de empresas e famílias devido ao confinamento e ao encerramento de grande parte da atividade económica, lançando esquemas de lay-off, linhas de crédito com garantia pública e regimes de suspensão temporária das prestações do crédito, as chamadas moratórias.
Para o FMI, este “apoio sem precedentes das políticas” ajudou os bancos a “manterem o fluxo de crédito para as famílias e as empresas”. Mas a torneira pode fechar.
Nos últimos meses, os supervisores financeiros, os próprios banqueiros e outros agentes económicos têm lançado alertas para que estas medidas não sejam retiradas antes do tempo, isto é, sem que a economia se segurem sem o seu próprio pé. Um receio particularmente premente reside nas moratórias do crédito. Em Portugal, mais de 20% do crédito — cerca de 46 mil milhões de euros — encontra-se abrangido por esta medida que poderá criar uma avalanche de malparado na banca assim que expirar.
O aviso do FMI surge depois de Vítor Constâncio, antigo vice-presidente do Banco Central Europeu e ex-governador do Banco de Portugal, ter deixado esta terça-feira um aviso às autoridades regulatórias para atuarem no sentido de evitar uma crise de crédito. “Os reguladores têm de estar preparados para fazer o que for necessário para evitar uma crise no crédito”, avisou Vítor Constâncio numa conferência organizada pela CFA Society Portugal em colaboração com o CFA Institute.
O FMI assinala ainda que os bancos poderão enfrentar problemas “na geração de retornos acima do custo de capital face à continuada compressão das margens de juro”, algo que já se está a verificar de forma “muito evidente no Japão e na Europa”.
Num tom geral sobre os riscos à estabilidade financeira, o FMI regozija-se com as novas vacinas desenvolvidas em tempo recorde e com os planos de vacinação que já estão em marcha.
Porém, avisa que o acesso às vacinas é desigual e isso poderá criar um obstáculo na recuperação económica global e trair as expectativas dos agentes económicos.
Esta terça-feira, numa atualização do seu outlook para as economias mundiais, o FMI melhorou a sua previsão para as economias dos EUA e emergentes, mas reviu em baixa as perspetivas de crescimento da Zona Euro para 4,2% por causa dos “renovados confinamentos” no início deste ano
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