Consolidação é passo “natural” para a banca portuguesa, diz Centeno
Sobre um novo agravamento do crédito malparado, nomeadamente com o fim das moratórias bancárias, o líder do supervisor da banca rejeita que haja sinais.
Os bancos portugueses ficaram atrás nas fusões e aquisições após a última crise por estarem focados no fardo do crédito malparado. No entanto, a Covid-19 poderá acelerar as reestruturações até porque o setor está sob forte pressão devido às baixas taxas de juro, segundo diz o governador do Banco de Portugal, Mário Centeno, em entrevista à Reuters.
“É evidente que tendo a necessidade de fazer todas estas transformações, a questão das fusões não tenha sido uma prioridade neste período”, disse Centeno, referindo-se aos anos de 2016 e 2017, quando o crédito malparado nos bancos portugueses atingiu um pico de 17%. Agora, a situação alterou-se, podendo dar abertura a novas operações.
“É um desenvolvimento de mercado, ele está aí, as taxas de juro baixas é um fenómeno mais recente e põe pressão na rentabilidade da banca enormíssima, não é um fenómeno de 2016 e 2017”, afirmou o governador do Banco de Portugal, à Reuters. “Estou confiante que os bancos em Portugal perceberão esse desafio e estarão preparados para lhe dar resposta“.
Centeno explicou que há atualmente processos de venda de instituições bancárias a acontecer em Portugal, numa altura em que o EuroBic de Isabel dos Santos está a ser alvo de alienação. Referiu ainda que há estratégias convergentes entre bancos que podem levar a novos fenómenos.
“As fusões são um fenómeno de mercado, elas devem resultar de desenvolvimentos de mercado e devem ser vistos com naturalidade. É uma resposta do mercado à necessidade de haver ganhos, as sinergias, entre instituições quando elas se juntam. Portanto, eu anteciparia que em Portugal essas fusões aparecessem e fossem desenvolvimentos naturais do mercado“, acrescentou.
Sobre um novo agravamento do crédito malparado, nomeadamente com o fim das moratórias bancárias, o líder do supervisor da banca rejeita, lembrando que em 2020, os rácios de crédito malparado voltaram a cair em Portugal e que os bancos portugueses têm um elevado nível de imparidades. Ainda assim, o Banco de Portugal está a acompanhar a situação.
“Não temos sinais que isso [aumento do malparado] possa acontecer. É um processo que depende muito de como a atividade económica for recuperando ao longo do ano”, afirmou Centeno. Após uma queda no produto interno bruto (PIB) do país de 7,6% em 2020, o Banco de Portugal espera um crescimento de 3,9% este ano e o economista diz que ainda é muito cedo para antecipar uma revisão desta projeção.
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