O escritório tem futuro, maiores copas e terraços. “Bem-estar” é a palavra de ordem

O escritório do futuro é construído a pensar nos colaboradores e no seu bem-estar, que vai além de copas maiores ou terraços agradáveis. Saúde psicológica e cognitiva é fundamental.

Não há dúvida de que os escritórios não vão deixar de existir, mas também não há dúvida de que não vão voltar ser os mesmos. Com a pandemia mundial, mudaram as pessoas, as empresas e os locais de trabalho que, mais do que nunca, são construídos a pensar nos colaboradores e no seu bem-estar. Este será muito mais do que copas maiores e mais bem equipadas ou terraços mais agradáveis, mas também será isso.

“Há alguns anos que a tecnologia exercia sob os espaços de escritório uma pressão constante, que exigia que as organizações estivessem permanentemente a olhar para o que vinha a seguir e a olhar para as novas tendências. Tínhamos processos estruturados, pensados com alguma antecipação. Mas aquilo que nós tivemos agora foi uma bomba que nos caiu em cima e tivemos todos de desatar a fugir e encontrar formas de lidar com isto”, começa por dizer Rui Macalta, diretor da Steelcase em Portugal na conferência “Trabalho, esse lugar estranho”, realizada pela Pessoas, que acaba de cumprir dois anos.

Conferência “Trabalho, esse lugar estranho” - 25MAR21
Rui Malcata é diretor da Steelcase em Portugal.Hugo Amaral/ECO

“O que temos tentado é que as mudanças que estão neste momento a acontecer não sejam mudanças para uma proteção imediata, mas que possam ser aproveitadas. A pandemia vai acabar um dia e, quando isso acontecer, ninguém vai voltar igual para o escritório. Ninguém quer voltar para aquilo que era o escritório antes“, continua.

Tentar que estas mudanças, aceleradas pela pandemia, perdurem, e que passem a ser as novas dinâmicas de trabalho, exige, no entanto, um trabalho de “educação, procura e investigação” com as próprias organizações, no sentido de fazê-las entender que tipo de espaço de trabalho podem e querem ter. E, embora, cada caso seja um caso e a “personalização” seja, também, uma palavra de ordem, juntamente com a “flexibilidade”, há algo que é comum a todas: construir escritórios pensando no bem-estar das pessoas.

"A cultura da empresa é o fator número um para construir um escritório porque as empresas querem não um depósito de computadores e arquivos, querem construir geografias emocionais.”

Caetano de Bragança

Head of sustainability da JLL Portugal

Caetano de Bragança, head of sustainability da JLL Portugal, que também faz parte do painel “O futuro do escritório ou o escritório do futuro?”, considera que cada empresa tem de construir uma visão à sua medida para a forma como quer trabalhar. “As empresas têm de se perguntar quem querem atrair, quem querem reter, qual a performance de que necessitam… A cultura da empresa é o fator número um para construir um escritório porque as empresas querem não um depósito de computadores e arquivos, querem construir geografias emocionais”, refere.

Bem-estar psicológico e cognitivo

Para Caetano de Bragança, a preocupação com as pessoas aumenta. Tal como aconteceu no mercado imobiliário, os profissionais querem espaços exteriores e varandas nos escritórios, e os empregadores querem garantir que as pessoas têm acesso a coisas básicas. De acordo com um dos estudos da JLL, a baixa de produtividade está diretamente relacionada com a qualidade do ar, seguindo-se a temperatura e a qualidade acústica. Todos são elementos que nos rodeiam.

Conferência “Trabalho, esse lugar estranho” - 25MAR21
Caetano Bragança é head of sustainability da JLL Portugal.Hugo Amaral/ECO

Por outro lado, o head of sustainability da JLL Portugal recorda o objetivo da Europa em atingir a neutralidade de emissões de carbono até 2050, algo que considera que é, cada vez mais, tido em conta pelas empresas. “Tanto colaboradores como empresas já perceberam que o futuro são modelos híbridos“, afirma, salientando que esta preocupação com o planeta é, também, um fator de atração e retenção de talento.

“O bem-estar das pessoas não é só a copa ou o terraço, temos de considerar o bem-estar psicológico e o bem-estar cognitivo”, considera Rui Malcata. “Ganhámos um medo e estamos a aprender a viver com ele. É algo que vai ficar connosco. A necessidade que as pessoas vão ter no futuro de se sentirem protegidas, de que pensem nelas, vai ser um fator preponderante para a escolha de trabalhar nesta empresa ou naquela empresa”, continua.

"O bem-estar das pessoas não é só a copa ou o terraço, temos de considerar o bem-estar psicológico e o bem-estar cognitivo.”

Rui Macalta

Diretor da Steelcase em Portugal

Embora não haja resposta para o que será o futuro dos espaços de trabalho, é desta forma que se pode começar a prepará-lo. Um coisa é certa: “Vamos continuar a ter escritórios, mas com novas preocupações”, resume João Leite Castro, sócio da Predibisa.

Os espaços sociais dentro dos escritórios são fundamentais para promover a interação humana e os momentos de convívio mas, sobretudo, para transformar a ida ao escritório em momentos de criatividade e discussão de ideias. “A vinda ao escritório vai ser completamente diferente, com dias de componentes sociais muito fortes, porque o teletrabalho tem um problema. Há um perigo enorme de perder a cultura”, alerta.

Conferência “Trabalho, esse lugar estranho” - 25MAR21
João Leite Castro é sócio da Predibisa.Hugo Amaral/ECO

Se não teve oportunidade de assistir em direto à conferência “Trabalho, esse lugar estranho”, realizada pela Pessoas, poderá assistir agora através deste link.

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