Como o Novo Banco vendeu a seguradora GNB Vida com perda de 250 milhões

Foi um dos negócios mais polémicos realizados pelo Novo Banco: a venda da seguradora GNB Vida ao fundo Apax Partners, por 123 milhões. Eis a cronologia de uma operação que gerou perda de 250 milhões.

O processo de venda da seguradora GNB Vida foi um dos negócios mais polémicos realizados pelo Novo Banco nos últimos anos. Não só pela perda de 250 milhões de euros que gerou ao banco, mas também pelas dúvidas quanto ao beneficiário final. Isto porque o primeiro comprador viu o seu CEO acusado de subornos nos EUA, situação que veio a atrasar a operação. A perda podia ter sido maior, já que o Fundo de Resolução rejeitou que o negócio se fizesse pelo preço estimado a setembro de 2019 de 81 milhões de euros. Eis a cronologia dos eventos relatada pela Deloitte na auditoria.

12 de setembro de 2018: o Novo Banco assinou o contrato de compra e venda da GNB Vida com a Global Bankers Insurance pelo montante de 190 milhões de euros — sujeito a um mecanismo de ajustamento de preço, em função de variáveis nos capitais próprios –, acrescido de uma componente variável de até 125 milhões de euros.

O acordo estabelecia, adicionalmente, a aquisição pelo Novo Banco das unidades de participação de cinco fundos de investimento imobiliário detidos pela GNB Vida pelo respetivo valor contabilístico.

Final de 2018: a transação aguardava autorização da Autoridade de Supervisão de Seguros e Fundos de Pensões (ASF) para a sua concretização.

Início de 2019: o banco teve conhecimento de que o CEO da holding, que detinha a Global Insurance Bankers, Greg Lindberg, havia sido indiciado pela prática de crimes de suborno nos EUA.

Abril de 2019: o conselho de administração do Novo Banco aprovou prosseguir com a transação depois da Global Bankers Insurance ter sido comprada pelo fundo Apax Partners.

De acordo com a ata da reunião onde se decidiu continuar com a operação, a equipa de António Ramalho teve em consideração sobretudo três aspetos: i) o risco de execução de não serem obtidas condições mais favoráveis do que aquelas negociadas com a Global Bankers Insurance; ii) por norma, qualquer segunda tentativa de alienar um ativo, no contexto de processos organizados de venda, resultaria numa situação com uma dinâmica mais difícil; iii) que o desinvestimento na GNB Vida até 31 de dezembro de 2019 representava um compromisso do Estado português com a Comissão Europeia.

A referida alteração implicou a submissão de novos pedidos de autorização às entidades reguladoras e ao Fundo de Resolução, o que levou à prorrogação da long stop date de 12 de junho de 2019 para 30 de setembro de 2019.

setembro de 2019: com a deterioração do capital próprio, efeito esse que impactou também o NAV (indicador relevante para o apuramento do preço), o preço estimado da seguradora baixou para os 81 milhões de euros (face aos 190 milhões de dezembro de 2017).

Contudo, relata a Deloitte, o Fundo de Resolução, que acompanhou as negociações entre o Novo Banco e a Apax Partners, transmitiu a informação de que “não consideraria aceitável que a conclusão da operação se fizesse pelo preço final estimado que resultaria da aplicação do mecanismo de ajustamento de preço”. E decidiu que caso o preço não fosse revisto em alta não autorizaria a operação.

23 de setembro de 2019: após realização de análise de contrapartes e obtido o parecer positivo do departamento de compliance do banco, bem como a autorização da ASF, foi assinada uma adenda ao contrato de compra e venda com uma entidade do grupo Apax Partners estipulando o preço de venda de 123 milhões de euros, acrescido de componente variável de até 125 milhões.

“Não foi obtida documentação formal que explicite o racional de fixação do valor final da operação”, refere a Deloitte.

1 de outubro de 2019: o Fundo de Resolução emitiu a declaração de não oposição ao negócio.

14 de outubro de 2019: concretização da transação de venda da GNB Vida ao fundo Apax Partners.

De acordo com a Deloitte, a operação de compra da GNB Vida foi financiada em 50% pelo Novo Banco, tendo a possibilidade de concessão deste financiamento sido introduzida na fase de negociação exclusiva com a Global Bankers Insurance.

Assine o ECO Premium

No momento em que a informação é mais importante do que nunca, apoie o jornalismo independente e rigoroso.

De que forma? Assine o ECO Premium e tenha acesso a notícias exclusivas, à opinião que conta, às reportagens e especiais que mostram o outro lado da história.

Esta assinatura é uma forma de apoiar o ECO e os seus jornalistas. A nossa contrapartida é o jornalismo independente, rigoroso e credível.

Comentários ({{ total }})

Como o Novo Banco vendeu a seguradora GNB Vida com perda de 250 milhões

Respostas a {{ screenParentAuthor }} ({{ totalReplies }})

{{ noCommentsLabel }}

Ainda ninguém comentou este artigo.

Promova a discussão dando a sua opinião