Biden e os 40 líderes mundiais. O que vão prometer sobre o clima no Dia da Terra?

Para a cimeira de líderes sobre o clima, Joe Biden convidou os homólogos chinês, Xi Jinping, e russo, Vladimir Putin. Vão também Von der Leyen e Pedro Sanchéz. Mas António Costa ficou fora da lista.

Depois de quatro anos de Administração Trump a investir forte nos combustíveis fósseis e nas indústrias mais poluentes, e a negar as evidências científicas das alterações climáticas, o novo Presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, inverteu completamente o sentido de marcha e desde janeiro tem-se esforçado por mostrar que a maior economia do mundo está de facto a bordo da luta climática.

Revertida a decisão de Trump de fazer sair os EUA do Acordo de Paris, logo em fevereiro, há um mês, a 26 de março, Biden convidou 40 líderes mundiais para participar num mega encontro virtual de dois dias a que chamou Cimeira de Líderes sobre Clima 2021, uma espécie de pré-COP26, que terá lugar em Glasgow, em novembro.

A data não podia ser mais simbólica: a cimeira arranca hoje, 22 de abril, Dia da Terra, e da lista de convidados fazem parte pesos pesados como o Presidente chinês, XiJinping, e russo, Vladimir Putin, a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, o presidente brasileiro, Jair Bolsonaro, e tantos outros líderes políticos das maiores economias mundiais.

Todos terão, ou não, algo a anunciar ao mundo, até porque um dos temas principais da cimeira são os “esforços das principais economias do mundo para reduzir as emissões durante esta década, para manter a meta de limitar o aquecimento global a 1,5 graus Celsius”.

Quem vai à frente na corrida para combater as alterações climáticas?

Quem chegará ao evento com um ar vitorioso será a presidente da Comissão Europeia, já que na véspera da cimeira americana Bruxelas anunciou ter chegado a acordo histórico sobre a Lei Europeia do Clima, que deverá agora ser aprovada dentro de duas semanas e fixa em forma de lei o o compromisso de reduzir as emissões até 2030 em 55%. A Europa quer ser o primeiro continente neutro em carbono em 2050.

Quando assinaram o Acordo de Paris (do qual saíram com Trump e ao qual já voltaram, com Biden), os Estados Unidos comprometeram-se em reduzir as suas emissões entre 26 e 28% até 2025 em relação a 2005. Entretanto, também já ambicionam ser neutros em carbono em 2050 e agora, nesta cimeira, devem mesmo anunciar a meta de redução de emissões para 2030 (comparado com 2005), existindo a expectativa de que essa meta seja de 50%.

É o que pedem empresas como a EDP e EDP Renováveis, Coca-Cola, HP, Ikea, Pfizer, Amazon, numa carta enviada ao presidente dos EUA a manifestar apoio à ação climática e a apelar para uma maior ambição nas metas de descarbonização ainda nesta década. A iniciativa é promovida pela coligação ‘We Mean Business’ e a elétrica portuguesa faz parte da lista inicial de cerca de 300 signatários, que envolvem grandes empresas e investidores com operações nos EUA.

Os Estados Unidos ainda não apresentaram o seu novo compromissos às Nações Unidas, tal como a China, que apenas apresentou uma intenção mas não um compromisso formal. Vários países como Austrália, Brasil, Japão, Rússia, México, Nova Zelândia, Coreia do Sul ou Suíça, já submeteram as suas novas metas à ONU, mas sem aumentarem o seu grau de ambição no quadro das negociações que deverão ser finalizadas em Glasgow em novembro deste ano.

Quanto à China, é atualmente o país com maior contribuição de emissões à escala mundial (cerca de 28%). Em setembro de 2020, o Presidente Xi Jinping anunciou que a China atingiria o pico das emissões de dióxido de carbono “antes de 2030” (uma melhoria em relação ao compromisso anterior), bem como assumiria uma meta de “neutralidade de carbono” “antes de 2060”. A China deverá ainda adicionar uma quinta meta a outras já estabelecidas, comprometendo-se em aumentar a capacidade instalada de energia eólica e solar para 1.200 GW até 2030.

Nesta cimeira é também esperado que o Japão anuncie uma meta de redução de emissões em 50% até 2030. O Canadá também já avançou com a ambição de ser neutro em carbono em 2050, com uma meta de redução em 36% de emissões de CO2 em 2030 (face a 2005). O Reino Unido comprometeu-se em baixar 68% das suas emissões em 2030 (mas comparado com níveis de 1990). Portugal tem uma meta de redução das emissões de CO2 entre 45% e 55% até 2030 (face a 2005), e ambiciona ser neutro em carbono em 2050. Mas nem mesmo isso isso valeu ao Governo português um convite para marcar presença.

António Costa fora da lista de convidados de Joe Biden

O primeiro-ministro espanhol, Pedro Sánchez, também faz parte da lista de convidados, mas o mesmo não acontece com o homólogo português, António Costa. Portugal marcará presença no evento promovido por Biden — Leaders Summit on Climate — esta quinta-feira às cinco da tarde com a presença do ministro do Ambiente e da Ação Climática, João Pedro Matos Fernandes, juntamente com ministros de outros sete países, no painel “Leaders Summit on Climate Breakout on Adaptation and Resilience”, moderado pelo secretário norte-americano da Agricultura, Tom Vilsack. Nesta sessão serão abordadas as soluções inovadoras para reforçar a resiliência face às alterações e à instabilidade climáticas, assim como as respostas aos desafios nas áreas da segurança alimentar, gestão da água e impacto nos humanos.

“À medida que o Governo dos EUA está a entrar novamente na luta climática global, o Presidente Biden convocou esta cimeira no início da sua presidência para garantir uma coordenação próxima com os principais atores da comunidade internacional, ao mais alto nível governativo. Este encontro tem como objetivo preparar o mundo para o sucesso em várias frentes, enquanto trabalhamos para enfrentar a crise climática, incluindo a redução de emissões, finanças, inovação e criação de empregos, além de resiliência e adaptação”, justificou a Casa Branca ao endereçar os 40 convites.

Além disso, a Administração norte-americana diz que esta cimeira “é um marco importante no caminho para a Conferência das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (COP26) em novembro em Glasgow e foi projetada para aumentar as hipóteses de resultados significativos na ação climática global na COP26, porque “reunirá novamente o Fórum das Grandes Economias (MEF) sobre Energia e Clima, uma iniciativa liderada pelos EUA que desempenhou um papel vital na concretização do Acordo de Paris”. Juntas, estas economias representam 80% das emissões globais e 80% do PIB global.

“Além das principais economias, o Presidente trará também outras vozes cruciais para a conversa, convidando líderes de países que são as principais partes interessadas na luta climática, incluindo aqueles que demonstraram forte liderança climática, que são especialmente vulneráveis ​​aos impactos climáticos ou estão a tentar encontrar caminhos inovadores para uma economia sem emissões”, refere ainda o Departamento de Estado dos EUA.

Quais são os temas principais da Cimeira de Líderes sobre Clima 2021?

  • Os esforços das principais economias do mundo para reduzir as emissões durante esta década, para manter a meta de limitar o aquecimento a 1,5 graus Celsius.
  • Mobilizar o financiamento dos setores público e privado para impulsionar a transição para as emissões zero e ajudar os países vulneráveis ​​a lidar com os impactos climáticos.
  • Os benefícios económicos da ação climática, com forte ênfase na criação de empregos, e a importância de garantir que todas as comunidades e trabalhadores se beneficiem da transição para uma nova economia de energia limpa.
  • Impulsionar tecnologias que podem ajudar a reduzir as emissões e na adaptação às mudanças climáticas, ao mesmo tempo que criam novas oportunidades económicas e constroem as indústrias do futuro.
  • Discutir oportunidades para fortalecer a capacidade de proteger vidas e meios de subsistência dos impactos da mudança climática, abordar os desafios de segurança global colocados pela mudança climática.

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