Confiança em notícias em Portugal sobe face a 2020

  • Lusa
  • 23 Junho 2021

41,2% dos inquiridos consideram que o Estado deve intervir no sentido de apoiar as marcas de notícias "em situação de fragilidade" e mais de um terço (34,7%) têm opinião contrária.

A confiança em notícias em Portugal subiu cinco pontos percentuais face a 2020 para 61%, acima da média no total de 46 países analisados, de acordo com o Reuters Digital News Report 2021 (Reuters DNR 2021), divulgado esta quarta-feira.

Entre as possíveis justificações para este aumento, há a destacar o papel preponderante da comunicação social na ajuda à interpretação e compreensão da vida em pandemia“, refere o décimo relatório anual do Reuters Institute for the Study of Journalism (RISJ) e o sétimo relatório a contar com informação sobre Portugal.

“No conjunto dos 46 países em estudo, o valor médio deste indicador é de 44%, pelo que Portugal continua a apresentar valores francamente acima da média quando comparado com outros países, situação que se vem verificando ao longo dos anos e que não só não foi revertida pela crise pandémica como, pelo contrário, se intensificou, depois de vários anos em que a confiança em notícias registou valores mais baixos”, lê-se no documento.

A Finlândia “continua a ser o país com os níveis mais altos de confiança geral (65%)” e os “Estados Unidos têm os níveis mais baixos (29%), refletindo uma eleição decisiva e as consequências do assassinato de George Floyd”. Relativamente a Portugal, “os dados mostram que aqueles portugueses que, em termos pessoais, foram mais afetados pela covid-19 também revelam maiores índices de confiança em conteúdos noticiosos” e estão também “mais preocupados com a legitimidade de conteúdos ‘online'”, lê-se no comunicado.

Sete em cada 10 portugueses afirmam-se preocupados com este tipo de conteúdos e com os seus efeitos. “Os portugueses afirmam que a covid-19 é o tema sobre o qual mais encontraram conteúdos desinformativos”, acrescenta.

De acordo com o estudo, entre os aspetos que os portugueses consideram ser cobertos “de forma mais insuficiente pelos medidas” estão a sua geografia/zona de residência e a classe social/económica a que pertencem. Ou seja, “um terço dos inquiridos acham que a sua geografia é insuficientemente coberta pelos media e um quarto dizem o mesmo sobre a sua classe social/económica”. Já as questões de género e etnia consideram ser tratadas “de forma suficiente”.

Mais de metade (53,1%) dos portugueses que utilizam a Internet considera que os media devem cobrir uma grande diversidade de pontos de vista, mais de dois terços (69,3%) que “devem manter a sua imparcialidade em todas as situações e 81,3% que devem dar “igual tempo de exposição” a todos os lados numa discussão. “Quase cinco em cada 10 portugueses, que usam a Internet, dizem-se algo ou bastante preocupados com a situação financeira das marcas de notícias, sendo que 43,7% têm consciência de que essa situação é hoje mais frágil do que há 10 anos“, refere o estudo.

Em termos globais, 41,2% dos inquiridos consideram que o Estado deve intervir no sentido de apoiar as marcas de notícias “em situação de fragilidade” e mais de um terço (34,7%) têm opinião contrária. No que respeita às questões relativas à imprensa local e regional, estas “revelam uma estrutura de consumos muito rica e muito relevante em pandemia”.

Durante o confinamento, “muitos portugueses encontraram na sua geografia próxima novas dinâmicas quotidianas, para as quais a informação e consciência sobre a realidade local são fundamentais”, ao que se acrescenta o facto de “serem da opinião de que a dimensão local e regional está mal representada nos meios de comunicação social, em geral”.

Relativamente ao pagamento de notícias ‘online’, entre 2020 e 2021, “a proporção de portugueses utilizadores de Internet que pagou por notícias em formato digital no ano anterior subiu 6,8 pontos percentuais, para os 16,9%“. Aliás, dados fornecidos pela Associação Portuguesa para o Controlo de Tiragem e Circulação (APCT) “tendem a confirmar este crescimento”, é referido no comunicado.

“No entanto, dados qualitativos do inquérito indicam que alguns consumidores associam o ‘pagamento por notícias em formato digital’, por exemplo, com a oferta de subscrições de jornais apoiada por diferentes entidades no quadro da pandemia, bem como associar os serviços de conteúdos informativos televisivos pagos a este tipo de pagamentos”, salienta.

Apesar de “ambas as fontes indicarem tendências coincidentes, estes dados devem ser lidos com cautela e carecem de confirmação em 2022, em termos de evolução geral e grandeza”, é referido. Quatro em cada 10 inquiridos que usam a Internet e não pagam por notícias ‘online’ dizem ser “improvável vir a alterar essa posição e fazê-lo no futuro”.

A televisão e a Internet, incluindo as redes sociais, continuam a ser as principais fontes de acesso a notícias pelos portugueses. Cerca de três quartos dos inquiridos afirmam ter usados estas fontes na semana anterior. “A televisão é a principal fonte de notícias para 57,7%, a Internet (excluindo redes sociais) para 17,4% e as redes sociais, isoladamente, para 13,4%”. Já a imprensa “é a principal fonte de notícias para 7,3% e a rádio para 4,2%”.

Em termos de acesso a noticias ‘online’, oito em cada 10 pessoas diz “realizar os acessos àquelas de forma indireta, através de motores de busca, de redes sociais, ‘email’, notificações móveis, agregadores ou outros, dado que consolida a importância e poder simbólico de terceiros no acesso a notícias“.

No que respeita ao ‘podcasting’, “ao contrário de uma tendência internacional que mostra um abrandamento no crescimento do consumo de ‘podcasts’, em 2021, 41,5% dos portugueses que utilizam a Internet dizem ter escutado algum ‘podcast’ no mês anterior, mais 3,1 pontos percentuais do que em 2020 e 7,2 pontos percentuais do que em 2019“. Este formato “afirma-se cada vez mais no ecossistema mediático português, e no informativo, em particular”.

Enquanto parceiro estratégico, o OberCom – Observatório da Comunicação colaborou com o RISJ na conceção do questionário para Portugal, bem como na análise e interpretação final dos dados. O inquérito realizado foi realizado em em 46 países: Estados Unidos, Reino Unido, Alemanha, França, Itália, Espanha, Portugal, Irlanda, Noruega, Suécia, Finlândia, Dinamarca, Bélgica, Holanda, Suíça, Áustria, Hungria, Eslováquia, República Checa, Polónia, Croácia, Roménia, Bulgária, Grécia, Turquia, Coreia do Sul, Japão, Hong Kong, Malásia, Filipinas, Taiwan, Singapura, Austrália, Canadá, Brasil, Argentina, Chile, México, Quénia e África do Sul. O tamanho total da amostra foi de 92.155 adultos com cerca de 2.000 por mercado (1.501 em Hong Kong) e o trabalho de campo foi realizado no final de janeiro/início de fevereiro deste ano.

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