Falências no têxtil são um “problema conjuntural”
Para as associações, o setor está a assistir a um "problema conjuntural" provocado pela pandemia. Cluster pede extensão de medidas de apoio para evitar insolvências.
A pandemia está a provocar falências no têxtil e vestuário, um dos setores mais afetados com a crise de Covid-19. A primeira a declarar insolvência foi a Coelima, seguida da António Almeida & Filhos e da Moretextile Sp ACE, todas do grupo MoreTextile. Agora foi a vez da Dielmar. Para as associações ouvidas pelo ECO este é um “problema conjuntural” provocado pela pandemia. O setor pede extensão de medidas de apoio para evitar insolvências e celeridade nos apoios existentes.
César Araújo, presidente da Associação Nacional das Industrias de Vestuário e Confecção (ANIVEC), considera que o setor está perante perante uma “crise nacional, europeia e mundial que colide com todos os setores de negócio”. Uma opinião partilhada pelo presidente da Associação Têxtil e Vestuário de Portugal (ATP) que destaca que “o setor está longe de estar numa situação de falências” e que a “culpa destas falências é da conjuntura que o mundo ultrapassa”. “As empresas estão há mais de um ano e meio com uma quebra de faturação entre os 15% e os 40%. Isto faz com que as empresas não se consigam adaptar para aquilo que estão dimensionadas”, lembra Mário Jorge Machado.
Perante esta crise que assombrou o tecido industrial português, o líder da associação do vestuário, acredita que o setor só volta a níveis pré-pandemia em 2022. De acordo com o último inquérito da Associação Têxtil e Vestuário de Portugal (ATP), quase metade das empresas de têxtil e vestuário só espera regressar à “normalidade” no segundo semestre do próximo ano.
Com as pessoas fechadas em casa quase um ano e meio, uma grande percentagem dos trabalhadores em teletrabalho obrigatório, lojas fechadas e eventos como casamentos e batizados cancelados, o consumo do cluster do têxtil e vestuário focou-se essencialmente em têxteis lar e roupa de desporto. No entanto, César Araújo está confiante que “assim que houver confiança e que a vida das pessoas volte ao normal, esses são setores que rapidamente voltam aos números de 2019”.
A insolvente Dielmar que se dedicava a um nicho de vestuário mais formal, como os fatos por medida, sofreu com esta alteração do comportamento do consumidor. A empresa justificou que a decisão de insolvência prende-se essencialmente com os efeitos da pandemia de Covid-19 e que “esta crise atacou, globalmente, o que de melhor sustentava a atividade: o convívio social, os eventos e casamentos, com a elegância, o glamour da alfaiataria por medida”.
Mário Jorge Machado, presidente da ATP lembra que as exportações de vestuário exterior e mais formal foi das “mais impactadas” e que nos primeiros cinco meses do ano, as exportações ainda estão 25% abaixo em relação a 2019.
Vou acreditar que não estamos assistir a uma onda de falências. Há sim uma crise conjuntural provocada pela pandemia. As pessoas não consumiram porque estavam fechadas em casa. Acabaram por consumir outro tipo de produto que está relacionado com o consumo para o lar e produtos de conforto e roupa de desporto.
Têxtil e vestuário pedem extensão de medidas de apoio para evitar insolvências
Os líderes das associações queixam-se da falta de apoios e apelam ao Governo que continue a apoiar as empresas mais afetadas pela pandemia face à diminuição da procura para evitar situações de insolvência. As empresas da indústria têxtil e vestuário continuam a reivindicar linhas de apoio ao investimento, tesouraria, suporte à capitalização e redução de impostos, maior rapidez nos apoios às empresas, diminuição da burocracia, flexibilidade na legislação laboral e apoio à formação e contratação.
Mário Jorge Machado destaca que as empresas mais afetadas pela pandemia “precisam continuar a ter apoios, nomadamente com o lay-off simplificado que foi retirado muito antes daquilo que devia ter sido. Deviam ter apoios a fundo perdido e não só através de empréstimos. Deveria existir ajudas mais significativas para as empresas mais impactadas”, alerta o líder da ATP.
Para o presidente da Associação Empresarial de Portugal (AEP), Luís Miguel Ribeiro, é importante “prolongar as medidas de apoio à atividade empresarial, de forma a reforçar a solvência de empresas viáveis e evitar o risco de insolvências, que terão sempre um impacto muito negativo na recuperação, com fortes repercussões financeiras, económicas e sociais”. Pede ao Governo celeridade na implementação das medidas.
É importante prolongar as medidas de apoio à atividade empresarial, de forma a reforçar a solvência de empresas viáveis e evitar o risco de insolvências, que terão sempre um impacto muito negativo na recuperação.
Para a AEP, perante a enorme fragilidade em que se encontra o tecido empresarial e volvido praticamente um período de ano e meio desde o início da pandemia, a “rede de segurança deverá ser mantida, ou mesmo reforçada, pelo menos até que seja possível restabelecer a completa confiança dos agentes económicos, que é uma premissa para que as empresas consigam garantir condições de sustentabilidade”, destaca Luís Miguel Ribeiro.
O ministro da Economia, Pedro Siza Vieira, disse no debate do Estado da Nação que os “apoios vão manter-se sempre que forem necessários”. No entanto, realçou que o Governo “nunca disse que as medidas” iriam “chegar a toda a gente”. “Nuncadissemos que a crise passaria sem impacto”, concluiu.
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