Pandemia cria divisões entre Norte e Sul da UE
Um estudo divulgado esta quarta-feira constata que os cidadãos europeus se sentem na generalidade menos livres do que há dois anos e avisa que tal pode promover um "clima frágil" na política europeia.
A Norte, Sul, Ocidente ou Leste do continente europeu, a pandemia de Covid-19 não afetou todos por igual. Um estudo do European Council on Foreign Relations (ECFR, na sigla em inglês) veio revelar algumas divisões geográficas e geracionais potencialmente duradouras por toda a União Europeia (UE). Segundo a sondagem publicada esta quarta-feira, 54% das 16.200 pessoas inquiridas, provenientes de 12 Estados-membros, diz “não ter sido afetada de todo” pelo coronavírus, uma percentagem que baixa para 22% entre os que se sentem livres apesar das restrições à Covid-19.
Porém, o cenário muda de figura quando se analisa país a país. Mais de metade dos inquiridos em seis países do Norte e Ocidente da UE – Dinamarca, Alemanha, França, Holanda, Suécia e Áustria – afirmaram não ter sido de todo impactados pela pandemia, mas, nos seis países do Sul e Leste – Bulgária, Hungria, Itália, Polónia, Portugal e Espanha -, a percentagem de inquiridos que disseram o mesmo é menos de 50%, com a maioria a declarar ter sido afetada pela doença ou financeiramente. Entre os portugueses, 39% afirmam não ter sido afetados de todo pela pandemia, enquanto 31% dizem ter apenas sofrido impacto financeiro e 30% afetados pela doença.
A estas diferenças soma-se uma divisão geracional, com quase dois terços dos inquiridos acima dos 60 anos de idade a afirmarem que não tiveram repercussões pessoais da Covid-19, uma percentagem que baixa para 43% entre os menores de 30 anos. A idade é ainda fator quanto à atribuição de responsabilidades pela propagação da pandemia: 51% das pessoas com mais de 60 anos culpa os indivíduos, enquanto os europeus abaixo de 30 anos responsabilizam sobretudo os governos e outras instituições (49%) em vez dos indivíduos (42%).
O relatório do ECFR observa que, “em alguns aspetos, isto não é surpreendente”, porque muitas políticas são organizadas “em torno dos interesses dos cidadãos mais velhos que votam e não dos mais jovens que herdarão a terra”. Além do mais, “há um sentimento generalizado em muitas sociedades de que o futuro dos jovens tem sido sacrificado em benefício dos seus pais e avós”, acrescenta.
O think tank, sedeado em Bruxelas, destaca ainda uma terceira divisão, que diz respeito à ideia de liberdade. Da totalidade dos inquiridos, apenas 22% disseram sentir-se livres apesar das restrições à Covid-19, contra 64% que o dizia antes da pandemia. A percentagem de pessoas que dizem não se sentir livres aumentou entretanto para 27%, quando há dois anos era de 7%. A perda de liberdade é particularmente sentida na Áustria e nos Países Baixos, onde a percentagem de pessoas que se sentem livres diminuiu mais de 60 pontos percentuais nos últimos dois anos, fixando-se em 15% e 19%, respetivamente. Em Portugal, apenas 16% dos inquiridos consideram-se livres.
Numa declaração, o diretor e fundador do ECFR e coautor do inquérito, Mark Leonard, alertou que as “grandes divisões” que surgiram devido à Covid-19 “podem ser tão graves como as que se verificaram durante as crises do euro e dos refugiados“. “Isto promove um clima frágil em muitas partes da Europa e, para os governos nacionais e a UE, pode representar um problema, numa altura em que procuram restaurar as liberdades pessoais e implementar os seus planos de recuperação da Covid-19″, afirmou.
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