Uns amam, outros odeiam. 3 factos sobre o trabalho remoto para refletir
Embora os dados demonstrem que o trabalho remoto aumentou o número de horas trabalhadas e os níveis de ansiedade e risco de burnout, não há dúvida que os profissionais querem manter o trabalho remoto.
Não é segredo que grande parte dos trabalhadores de todo o mundo não querem abdicar da flexibilidade que ganharam com o trabalho remoto. Menos deslocações entre casa e escritórios, mais tempo com a família, maior flexibilidade de horários e poder trabalhar a partir de qualquer lugar são algumas das vitórias que, sem a pandemia, ainda estavam bem longe na maioria das organizações.
Mas, com os limites entre a vida profissional e a vida pessoal a desvanecerem-se, vêm as horas prolongadas em frente ao computador, a execução de tarefas domésticas durante pausas no horário de trabalho — que deveriam ser, de facto, para descansar e conseguir voltar ao trabalho com um boost de energia — e as videochamadas a partir da mesa onde almoçamos e jantamos com a família ou do sofá onde fazemos uma maratona de séries. Muitos profissionais têm, aliás, manifestado dificuldades em desligar do trabalho.
Com base em estudos e investigações recentes sobre o impacto do trabalho remoto, estes três factos vão ajudá-lo a entender melhor os desafios. E, mais importante ainda, a servir de ponto de partida para colaboradores e empregadores refletirem sobre como lidar com estes desafios, de forma a continuarem a desfrutar das vantagens que os modelos mais flexíveis oferecem.
1. Fazemos intervalos menos frequentes
A sua casa pode ser um lugar onde se sente plenamente concentrado e focado ou um enorme apelo às distrações. Há quem consiga ser mais produtivo em casa e quem prefira ir para o escritório, assumindo não ter as condições necessárias para desempenhar as suas funções a partir de casa. Mas o que dizem os dados sobre a produtividade do trabalho remoto?
Em 2014, a aplicação DeskTime descobriu que quase 10% das pessoas eram mais produtivas quando trabalhavam 52 minutos e faziam, de seguida, uma pausa de 17 minutos. Recentemente, a mesma app repetiu esse estudo para revelar padrões de trabalho durante a pandemia. Desta vez, os investigadores descobriram que o trabalho remoto causou um aumento no tempo de trabalho, com as pessoas mais produtivas a trabalharem, agora, durante 112 minutos e a fazerem uma pausa de 26 minutos.
“Embora as pausas se tenham tornado apenas nove minutos mais longas, os tempos de trabalho mais do que duplicaram. São quase duas horas de trabalho seguidas”, escreve Ieva Sipola, especialista em formatos de trabalho alternativos, num artigo publicado pelo Lifehack (acesso livre, conteúdo em inglês). E acrescenta: “as videochamadas são a principal razão para fazermos menos pausas. As reuniões no pré-pandemia significavam ir para outra sala, esticávamos as pernas e dávamos um descanso do ecrã aos nossos olhos”.
“Esta descoberta faz-nos questionar se trabalhar a partir de casa é realmente uma coisa tão boa para o nosso bem-estar como pensávamos que era. Além disso, neste formato, as pausas já não são um prazer, mas sim um tempo para executar numa tarefa ou para ajudar as crianças com o trabalho escolar”, continua.
2. Aumentamos o risco de burnout
Se, num primeiro momento, as visões otimistas sobre o trabalho remoto reinavam, agora, a balança começa a estar um pouco mais equilibrada. O estudo “The 2021 State of Remote Work”, da Buffer, concluiu que o maior problema dos remote workers é não ser capaz de desligar, seguindo-se as dificuldades de colaboração e solidão. Foi também perguntados aos inquiridos se, com o trabalho remoto, passaram a trabalham mais ou menos. A resposta? 45% admitiram estar, agora, a trabalhar mais do que antes da pandemia; 42% disseram que mantêm o mesmo número de horas de trabalho; e apenas 13% responderam estar a trabalhar menos.
Não é segredo que a ansiedade prolongada pode reduzir a satisfação no trabalho, diminuir o desempenho no trabalho e afetar negativamente as relações interpessoais com os colegas.
“Horas de trabalho mais longas e menos pausas de qualidade podem afetar dramaticamente a nossa saúde, uma vez que estar sentado muitas horas seguidas e o uso prolongado do computador podem causar tensão ocular, fadiga mental e outros problemas. Estes, por sua vez, podem levar a consequências mais graves, tais como burnout e doenças cardíacas”, escreve Iena Sipola.
Com trabalhadores mais suscetíveis a problemas de ansiedade e stress, a atenção dos líderes perante as suas pessoas deve ser redobrada, de maneira a evitar que os benefícios e flexibilidade do trabalho remoto sejam anuladas por estes perigos. “Os gestores devem estar conscientes dos riscos associados ao aumento da ansiedade dos trabalhadores. Caso contrário, os ganhos de produtividade não serão duradouros. Não é segredo que a ansiedade prolongada pode reduzir a satisfação no trabalho, diminuir o desempenho no trabalho e afetar negativamente as relações interpessoais com os colegas“, explica a especialista.
3. Mas, acima de tudo: “We love remote work”
Apesar de os dados que demonstram que trabalhamos mais horas ou que estamos a aumentar os níveis de ansiedade, não há grande dúvida de que os profissionais gostam de trabalhar remotamente, e querem continuar a ter essa opção. O mesmo estudo elaborado pela Buffer revela que uma maioria esmagadora (97%) dos inquiridos diz que gostaria de continuar a trabalhar remotamente até certo ponto. Horário flexível e a possibilidade de trabalhar a partir de qualquer lugar são os principais benefícios que mencionam.
Também um relatório de McKinsey concluiu que mais de metade dos colaboradores gostaria que a sua empresa adotasse um modelo de trabalho híbrido flexível, alternando entre dias de trabalho no escritório e dias de trabalho remoto. Mais concretamente, mais de metade dos profissionais inquiridos admitem que trabalhar, pelo menos, três dias por semana a partir de casa seria o ideal para eles.
As empresas inteligentes abraçarão esta nova tendência e perceberão que a adoção de modelos híbridos também pode ser uma vitória para elas.
Perante este cenário, as empresas procuram, cada vez mais, encontrar um equilíbrio entre os modelos de trabalho que satisfaçam os seus colaboradores e os que são viáveis para o negócio, ao mesmo tempo que garantem que os riscos associados ao excesso de trabalho e perigo de esgotamento estão acautelados.
“As empresas inteligentes abraçarão esta nova tendência e perceberão que a adoção de modelos híbridos também pode ser uma vitória para elas, para, por exemplo, aceder a talentos em diferentes locais e a um custo mais baixo”, refere.
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